┌┘NOVE└┐

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(Sem revisão)

Petros terminava de empilhar os vários pedaços de madeira, deixando a futura fogueira ao alcance do pai, que tinha acabado de jantar mais algumas das tangerinas. Ao lado do adulto, também se encontrava um pedaço de tecido, que ele preferia acreditar estar limpo e que pertencera à sua falecida camisa; a faca lascada do tetramano e o resto do veneno de escorpião. Aparentemente tudo estava pronto para o procedimento.

— O senhor ainda não me disse o que vai fazer – falou o garoto com desconfiança aparente.

De fato o pai não lhe dissera, estava calculando como instruir sem expor os riscos do plano.

— Não se preocupe – respondeu. — não será arriscado.

O menino estreitou os olhos.

— O senhor é um péssimo mentiroso.

— Não estou mentindo – abandou a mão em descaso; em seguida mostrou o pote com o veneno de escorpião. — eu vou tomar isto por causa da dor...

— Agora? – desceu os olhos para a ferida, envolta em vermelhidão.

— Sim, agora – respondeu. — Amanhã quando acordar, você precisa verificar se estou com febre.

Petros, pela sua expressão, demonstrava não gostar da situação.

— O que significa se tiver?

— Que estou em choque pela toxina – mentira. Se tivesse febre era o sinal que o procedimento falhara e que era questão de tempo até seu corpo começar a colapsar. — mas não vai acontecer!

— Mas...e se acontecer? O que eu faço?

Abel fitou o rosto menor, temeroso em responder a verdade, por isso escolheu o otimismo.

— Não vai acontecer.

— Mas...?

— Basta!

O tom forte e definitivo fez o menino recuar.

— Certo. O que eu tenho que fazer?

O homem relaxou os ombros em lamento, mas optou por não alongar o assunto.

— Desculpe – pediu, de certa forma envergonhado. — É que tem que dar certo.

Petros respirou fundo, em seguida entortou a cabeça para o lado para só então questionar, com muita cautela:

— Pai, o senhor está com medo?

— Um pouco – admitiu, gostando de sentir o sopro de ternura em seu peito.

— Tudo bem – saiu de onde estava, engatinhando pelo chão até que estivesse sentado ao lado do pai, a quem estendeu a mão. — Você lembra que me dizia que quando eu sentisse medo era para procurar o toque de alguém que amava?

O homem fitou aquele rosto infantil e sentiu vontade de chorar. Estendeu a mão até segurar a menor para sentir o calor aprazível.

— Obrigado, filho!

O menino sorriu grande e iluminado, fazendo as bochechas levantarem.  Vendo a cena, Abel escolheu mentir; escolhendo o caminho que ele julgava ser o mais seguro para seu pequeno.

— Se eu tiver febre, você terá que procurar um médico – disse ele o que fez o brilho praticamente apagar da face infantil.

— Vou ter que deixá-lo sozinho? – o temor no tom da voz revelado muito mais agora.

— Sim, mas é por pouco tempo...

— E se outro monstro aparecer?

Abel apertou forte a mão que segurava.

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