┌┘TREZE└┐

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— Ela estava mesmo grávida!

A constatação de Petros carregava o tom acusatório e a surpresa de descobrir uma traição. O olhar raivoso encarava o corpo de Yumi estirado na grama do jardim de trás do casarão.

— Sim, mas eu você já sabia – Bonami falou, saindo de dentro da segunda cova cavada naquela noite.

— Eu sei, só queria que não fosse verdade – fitou o corte na garganta da mãe, longamente. — Ela sofreu? Digo, mamãe demorou muito a morrer?

— Não – curvou-se para limpar a terra das roupas. — Yumi morreu dormindo – desviou os olhos, analíticos, para o garoto parado alguns passos à frente. — Você se importa?

A expressão brava de Petros logo se transformou em triste ao que ele mirou Abel também caído aos seus pés.

— Não sinto alegria como foi depois de Katherine morrer – respondeu como se tivesse pensado em voz alta—, mas não dói como foi saber que papai tinha morrido. Eu só...– deu de ombros.

— Não sente nada?

Petros resmungou uma concordância.

— Não me entenda mal – a criança esclareceu. — eu realmente os amava, tanto que achei que voltaríamos ao normal se Katherine fosse embora, mas tudo piorou — ficou zangado, quase rosnando ao fim das frases. — principalmente a mamãe, ainda mais depois que soube que matei o pedacinho de carne.

Bonami endireitou a coluna, franzindo o cenho.

— Está falando de Katherine? Sua irmãzinha? – ouviu outro resmungo de concordância. — Você realmente a matou?

Petros soltou um silvo impaciente, olhando severamente para o pigmeu.

— Sim, matei! – confirmou com a voz carreada de raiva contida. — Tirei o enchimento da boneca e coloquei na garganta dela, depois só esperei ela parar de respirar para chamar ajuda. Semanas atrás convenci meu pai de que foi acidente, porém mamãe não pareceu acreditar tão bem quanto ele.

O baixote piscou e engoliu a saliva acumulada.

— Petros – chamou com toda a seriedade que a situação carecia—, você consegue entender o que fez? Consegue entender o que matar alguém significa?

O menino torceu o rosto, ofendido.

— Óbvio que sei, não sou estúpido!

— E não se arrepende?

Outro ruído de impaciência veio do Leneu, dessa vez mais veemente.

— Por que eu deveria? – exclamou. — o pedacinho de carne mereceu. Você não tem ideia do quanto aquela porcaria atrapalhava minha vida. — parou de abrupto, suavizando o tom, mas ainda era perceptível a raiva ali. — Mas se está preocupado de eu ser pêgo, garanto que não vou. Até hoje ninguém sabe onde enterrei os outros.

Bonami deu um passo para frente.

— Outros?

— Não pessoas. Bichos – esclareceu. — ou você achou que dei sorte com Katherine? Que não treinei antes?

O pigmeu esforçou-se para não deixar a boca aberta por muito tempo.

— Vocês planejou.

— Não! – foi ríspido, como se tal pensamento lhe irritasse. — eu sentia vontade de machucá-la, então achei melhor me preparar para quando a vontade ficasse maior que o medo de ser pêgo. Não acordei naquele dia e disse "hoje vou matar o pedacinho de carne", só... aconteceu – respirou fundo, para se acalmar.

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