┌┘ONZE└┐

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(Sem revisão)

Jesus podia ser intimidador, principalmente quando queria, foi o que Abel constatou ao sentar no sofá da sala de estar de Alexandre, pelo quarto dia consecutivo. Deixou as costas descansarem contra o encosto, lançando a perna esquerda sobre a direita em um cruzamento elegante; muito consciente da presença do empregado, posicionado ao lado do assento, bem em frente a porta que dava para ou outros cômodos.

Se tratava de um homem completamente comum. Altura no padrão Sobrenatural, traços genéricos e estatura sem destaques. Cabelo acinzentado, de comprimento mediano, amarrado na altura da nuca e dividido ao meio. Corpo esguio coberto por uma combinação discreta de camisa branca e calça preta, uniforme padrão dos trabalhadores de Alexandre. Alguém perfeito para se camuflar; sem atrativos ou características marcantes, no entanto, sua lealdade com o S' que lhe empregava era admirável, e Abel diria intimidadora, se não fosse orgulhoso o bastante para jamais admitir em voz alta.

Desde que ignorara o mordomo do irmão e invadiu o escritório do mais velho, presenciando uma "conversa" particular, o funcionário não ousava lhe deixar sozinho em qualquer cômodo da moradia do Leneu solteiro e isso foi ficando enervante ao que suas visitas ficaram mais frequentes.

No dia seguinte a sua conversa com Haram, ainda no mês anterior, tratou de ir pedir informações na casa do primogênito, mas tudo o que recebeu foi respostas monossílabicas de Jesus e quando voltou na semana seguinte, a ação se repetiu e na que veio depois também, então ali estavam eles; Abel no seu quarto dia seguido sendo vigiado de perto pelo Mordomo Leal.

— Tem certeza que ele não deixou nenhum recado para mim? – perguntou, fingindo indiferença.

— Tenho, senhor. Ele não deixou.

O Leneu passou a língua nos dentes sem abrir a boca; uma possibilidade incomoda ( para não dizer dolorosa) brilhando insinuante na fronte de sua mente.

— E para Haram? Ele deixou algo?

— Não, senhor!

Antes de qualquer outro pensamento, ele anotou mentalmente que a voz do empregado era a características mais forte dele: rouca e arrastada, típico dos que pouco falam, mas facilmente atribuída ao fumo também. Não cigarros da Canabis como qualquer Sobrenatural, mas os de tabaco, costume dos Naturais.

— Você não me diria, de qualquer forma – salientou.

— Não senhor!

Abel girou o queixo na direção do outro, flagrando o exato momento que as íris se moveram em sua direção.

— Um recado?

Silêncio.

— Uma carta?

Silêncio em dobro.

— Um objeto?

Silêncio leal e frustante.

Impaciente, o Leneu ergueu-se do sofá e venceu a distância entre eles, quase colando seus troncos.

— Meu irmão pode está em perigo e você ousa esconder informações?

— Senhor Abel – Jesus explicou, pacientemente. — lamento que tenha esse tipo de pensamento, mas todas as informações as quais tive acesso já lhe repassei.

Ele recuou um passo, deixando o cérebro trabalhar na possibilidade de um combate corporal com o mordomo para ter acesso ao escritório e/ou ao quarto do primogênito.

— Admiro sua lealdade – disse, deixando o tom cair em um vale perigoso de ameaça. — mas se continuar a me impedir de entrar atrás de pistas do paradeiro de Alexandre, teremos problemas.

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