Prendi a respiração. Tentei não deixar o choro que se acumulava em minha garganta rolar como cahoeiras pelo meu rosto, enquanto olhava minha mãe, nitidamente tentando fazer o mesmo ao carregar minha mala para o andar debaixo.
— As férias de natal vão chegar bem rápido. — Minhas palavras foram sopradas em direção ao corpo magro que aparentava cansaço e tristeza. Por cima do ombro minha mãe assentiu, enquanto eu caminhava atrás dela, carregando minha mochila com o resto das minhas coisas.
— Em um piscar de olhos você estará aqui filha.
Minha mãe tentando soar otimista é triste. Eu sinto a pressão do choro como se uma enxurrada tentasse passar pela minha garganta, fazendo arder, comprimindo o ar. E, por um breve instante penso em desisitir de tudo, me jogar na minha cama, e esperar enquanto minha mãe faz o jantar. Apesar de ter sido uma decisão difícil, eu almejei dar o passo que estou prestes a dar. Não dizem que uma pessoa só amadurece quando sai do ninho? Eu estava pronta para a maturidade e toda responsabilidade e consequência que vem com ela. Penso em como amo o cheirinho do café espalhando-se por entre os cantos de nossa casa, e mesmo que eu não seja tão fã assim de café sem leite, ele representa vida e energia para nossa rotina, e para mim sempre será um cheio de lar.
— Prometo tirar muitas fotos e ligar. — Sorrio para ela descendo as escadas pulando os degraus, e observando as marcas do tempo.
Do hall da casa onde vivi minha vida toda, observo pela última vez os degraus gastos que acompanham o corrimão para o segundo andar. A casa que minha mãe tem tanto orgulho de ter conquistado para nós duas. Um quadro com uma foto recente, da minha da formatura, remete a uma rápida lembrança da noite do baile. Sinto minhas bochechas queimarem ao lembrar do embaraçoso plano de não deixar a escola sem antes ter estado com um garoto. Aquilo foi ridículo.
— Lys, — mamãe me chama pela segunda vez — o sr. Charper já tirou o carro da garagem, você precisar ir. Agora.
Minha mãe sai para falar com David, nosso vizinho. Ele é o que chamamos de faz tudo na vizinhança. Alto de cabelos volumosos e a barba volumosa mas bem aparada, o tímido David Charper faz o tipo sexy e rústico. David trabalha como controlador de tráfego do pequeno aeroporto internacional de Spokane e vai me dar carona, por isso minha mãe se apressa em levar as malas até a calçada. Observo como David se esforça para parecer natural diante de minha mãe, mesmo depois de tantos anos. Está claro para qualquer um que ele tem uma queda por ela.
— Sr. Charper, obrigada por deixar Lys no aeroporto e me poupar de mais uma despedida triste. — minha mãe sempre formal com o homem que ela conhece há mais de uma década deixa-o ainda mais embaraçado. Coitado!
— Emma, não precisa agradecer. — Ele diz fechando o porta-malas do carro.
— Filha, avisa quando chegar. Eu te amo! — a figura magra, de cabelos loiros naturais, baixa estatura e naturalmente elegante, me abraça e o nó volta a torcer-se na minha garganta.
— Eu te amo mãe. — digo, e salgadas gotas invadem meu rosto, unindo meus volumosos cílios, formando uma massa de pelos espessos.
Insegura, entro no carro de David que tem o motor ligado, ele tenta algum contato visual, mas eu o ignoro, dominada pela vontade de sair correndo em direção a minha casa. Parecendo ler meus pensamentos, ele arranca, saindo antes que eu termine de por o cinto. Pelo retrovisor vejo Emma Brooks acenando com uma mão, enquanto a outra cobre a boca para abafar o choro. Partiu meu coração, pela vigésima vez no dia. Minha mãe e nossa pequena casa azul, no 32 da rua Burth,vai ficando para trás, enquanto um choro silencioso escorre pela minha bochecha.
Capturo e memorizo cada detalhe de Spokane onde passei a maior parte da vida, remoendo, quando vejo o shopping que minha mãe vinha comigo, correndo porque sempre tinha um plantão que a fazia se equilibrar para passar tempo com a filha ao mesmo tempo que garantia o sustento da casa, e mesmo com César ajudando-a quando soube de mim, ela sempre fez questão de poupar tudo para minha educação.
David para no sinal vermelho, em frente a melhor pizza da cidade, onde trabalha Matt, que estará para sempre em minha memória. Só não decidi ainda se por ter sido o primeiro ou por ter sido tão ruim a ponto de congelar todas as minhas expectativas sexuais.
— Vou cuidar e fazer companhia para ela, não se preocupe Lys. — David interrompe meus pensamentos, tentando confortar.
—Eu sei, — limpo os cantos dos olhos — mas é triste, apesar de eu estar feliz.
Ele me olha com seus grandes olhos cor de mel e vejo o pesar estampado no bonito rosto de pele naturalmente bronzeada. Acho que David é o único homem bronzeado na fria e nublada Spokane. Eu desvio o olhar quando chegamos a estrada, dando a entender que não quero continuar falando e ele parece entender. Continuo olhando as ruas pela janela do carro, pensando em como minha mãe vai se enfiar no trabalho sem eu para exigir um tempo livre ou dar um passeio alegando ser sua única filha. A enfermagem é a vida dela e sem eu por perto será só o trabalho. Fico triste por ela, porque é tão bonita e jovem, mas nunca a vi se interessar por alguém.
David reduz a velocidade 15 minutos mais tarde quando nos aproximamos do aeroporto, e depois de contornar o estacionamento, me deixa nas partidas do terminal internacional.
Um tremor corre da minha barriga para a cabeça, indo em alta velocidade para as pontas dos pés. Minha vida começa agora.
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DE TODOS QUE AMEI, VOCÊ FOI DIFERENTE
RomanceLys Brooks finalmente conquistou os 18 anos e o direito de fazer e ser o que tem vontade. Sem medo de se envolver com o perigo que os homens podem oferecer, ela se entrega aos prazeres carnais, ainda que seu coração a confunda algumas vezes. Uma vi...