vinte e dois

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O vejo preparando as coisas na cozinha, enquanto subo até o quarto, olho ao redor e vejo alguns calmantes, decido pegar eles.
Os guardo no bolso do short e desço novamente às escadas.

_Mas então, como você veio se tornar um serial killer?

Vejo ele parando de se mexer por alguns segundos, sinto que peguei em algo profundo, algo que mexeu mais do que devia com ele...
Resolvo descobrir.

_Você já... nasceu assim?

Ele continua sem responder, apenas continua cortando algo que não me atento em ver.

Ele solta um breve suspiro

_O que faz sermos o que somos, são as pessoas que nos criam.

Ouço sua voz rouca, sinto um arrepio percorrer meu corpo.

_Não acho que isso seja verdade.

_O meu comportamento me fez ser "diferente" apenas do que o mundo conhece.

Arqueio as sombrancelhas com olha de dúvida, enquanto seus músculos se dilatam, controlando alguma possível reação. O som da faca cortando aumenta, mas então pergunto.

_Como assim?

_As pessoas nos dão uma base do que vamos ser, não estou falando de pessoas qualquer, estou dizendo de pessoas base, pessoas que convivemos desde que nascemos...

Uma longa pausa.

_Me fizeram assim, me menosprezavam.
Ele era tudo, e eu nada...eu era o erro e ele o acerto, me fizeram crescer sabendo que não era bem vindo, a crueldade do ser humano pode ser sutil, mas ainda está ali.

_Eu me lembro de como você era, você nunca me contou sobre problemas, você sabia tudo de mim e eu nada de você.

_É algo que nunca deixei que vissem.

_É por isso que você faz o que faz?

Ele faz uma pausa, respira fundo enquanto mexe nas panelas. Ele suspira e se vira para mim.
Ajeito meu corpo para poder ouvir mais atenta

_Não, o que você passa, ou deixa de passar não te faz ser o que é, eu poderia ter sido outra pessoa, boa, totalmente oposta, mas quis lidar com as coisas do meu jeito, do jeito que eu achava certo.

_Você não quis ser outra pessoa, não é?

_Não, cedi aos meus demônios, os matei um a um e percebi que havia demorado muito para aquilo.

O som da cozinha, o bater de panelas, o cheiro de alho, e som do fogão invadiam aquele silêncio que ficou.

_Talvez todos nós tenhamos essa essência.

Digo, a fim de querer quebrar o silêncio.

_Somos todos loucos, lutando por algo no mundo, algo como reconhecimento, ou um espaço, nesse maldito lugar.

_Profundo isso...

_Um pouco, talvez, mas se você parar para ver: quanto mais cruel, mais verdadeiro tende a ser.

_Gosto de acreditar que existem pessoas boas

_Gosto de acreditar que todas são ruins, algumas apenas escondem melhor isso, do que outras, e facilita o trabalho de não me importar com o que faço.

_Então se considera ruim.

_Na verdade, gosto de acreditar que sou verdadeiro, mostrando o meu interior, ao invés de mascarar isso e dizer a todos "olhem para mim, eu sou normal".

_Talvez esteja certo

_Ou talvez não, sempre há o outro lado, duas possibilidades em jogo.

_O que quer dizer com isso?

A mulher de Jeff The KillerOnde histórias criam vida. Descubra agora