Capítulo Dezesseis

14.5K 1K 1.4K
                                    

Soltei os livros de qualquer jeito em cima da mesa de Noah e sai da sala, a verdade é que essas aulas estão me saturando, se faculdade já não é um paraíso, imagine quando se faz um curso que não se identifica em seu total, acontece que descobri isso um pouco tarde, e como estou mais perto do fim do que do começo, apenas sigo em frente até concluir, e também porque não tem nenhum outro curso que me faça imaginar que iria amar a faculdade.

— Um suco de abacaxi com hortelã, por favor. - Pedi soltando meu corpo no banco vazio próximo balcão da lanchonete.

A moça do outro lado assentiu e se afastou. Peguei meu celular e o deixei sobre o balcão enquanto deslizava lentamente atenta as últimas atualizações supérfluas do meu feed do Instagram.

— Uma água.

Meu dedo que deslizava na tela parou no ar, meu corpo deu uma leve travada e meu cenho franziu. Estou louca ou a pessoa que acabou de sentar no outro banco vazio e pedir uma água foi Camila? Uma Camila que estou fugindo a pouco mais de uma semana, vale a menção.

Ergui a cabeça pedindo para que fosse delírio da minha mente cansada, mas não era, lá está ela, cabelo bem arrumado, óculos escuro, calça e blusa preta, blusa essa que está com mais botões abertos do que eu julgaria necessário.

— Boa tarde, Lauren. - Disse erguendo os óculos para o topo da sua cabeça. — Tudo bem com você?

— O que faz aqui?

A pergunta saiu mais urgente do que eu gostaria, demonstrando minha surpresa e desconforto, talvez até um pouco de má educação por não responder seu cumprimento inicial.

— Vim ver como estão os preços dos cursos, logo logo Giulia estará aqui.

Analisei o rosto de Camila, em busca de um vestígio de piada.

— Ela não tem nem 10 anos ainda.

Camila se manteve calada enquanto eu recebia o suco que pedi, e ela a água.

— É claro que vim até aqui por sua causa, Lauren.

Dei um gole no suco, apenas pra ter tempo suficiente para pensar.

— Poderia ter me ligado.

— Eu liguei, liguei várias vezes, mas você não atendeu, assim como também não respondeu minhas últimas mensagens.

— Hã… - Cocei a garganta. — Acontece que ando um pouco ocupada.

Camila ergueu uma sobrancelha.

— Bem, tava te vendo de longe, o tempo que passou com o celular nas mãos poderia ter me respondido em menos de 1 minuto. - Serviu a água em seu copo. — Melhor falar que não queria responder, não acha? O que houve, não estávamos bem?

Sim, estávamos bem. Bem até eu chegar em casa e receber uma ligação da minha mãe, ela disse que queria conversar comigo sobre o que ela viu entre eu e Camila, eu sabia que ela queria conversar comigo, por isso evitei ficar a sós com ela, o que de nada adiantou, pois assim que avisei que tinha chegado em Miami, meu celular chamou em uma chamada de vídeo, minha mãe falou tudo que eu já sabia e também esperava vir dela. Sobre mim, sobre Camila e sobre seu casamento. Entendo perfeitamente a preocupação de dona Clara, embora eu preferisse continuar me fazendo de cega para os fatos, ou até mesmo ouvindo os conselhos nada éticos de Noah, e dessa forma me sentir confortável em entrar em um casamento alheio, mas se não me trouxesse de volta para a realidade não seria minha mãe, não é mesmo? E esse é o motivo que estou evitando Camila, suas ligações, e suas mensagens desde que voltamos de viagem.

Minha mente retornou para o momento presente, Camila me olha com certa curiosidade, talvez pelo meu silêncio repentino ou até mesmo por sua pergunta sem resposta.

CabaretOnde histórias criam vida. Descubra agora