Capítulo Dezoito

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A contragosto joguei a coberta para o lado e sentei na cama, o despertador do meu celular continua tocando, meus ouvidos imploram para que o som estridente seja interrompido, por outro lado meus músculos também imploram para que eu não faça nenhum mínimo movimento. Passei alguns minutos parada, olhando para o nada, até que minha alma parece ter voltado para o tempo presente; me estiquei até alcançar o celular e desliguei o alarme, teria ficado mais alguns minutos sentada se não tivesse lembrado que hoje teria prova no primeiro horário. Ao levantar, o primeiro lugar que meus olhos focaram, foi nos papéis espalhados pelo chão do quarto, por alguns segundos me veio à mente qual seria o valor da proposta, pensando bem seria uma ótima oportunidade para sair do café e focar apenas na faculdade, pagar as contas em atraso e… Fechei os olhos e balancei a cabeça, em uma tentativa de afastar aqueles pensamentos pra longe, o cansaço as vezes nos atenta ao absurdo. Segui para o banheiro, e fiz questão de pisar nos papéis despedaçados.

*****

Pela milésima vez nos últimos dias, cheguei atrasada no trabalho, eu e Noah ficamos presos na fila de um mercado enquanto pegávamos algo para almoçar. 

— Eu limpo o salão e você lá dentro. - Ele disse enquanto colocava o uniforme, aproveitando as portas ainda fechadas.

— Sim senhor. - Me curvei brevemente, o fazendo rir.

— Idiota. - Rolou os olhos. — Tenho fé que uma hora você laça Camila e nos tira dessa vida.

Grunhi irritada.

— Péssima abordagem. - Me afastei. — Melhor iniciar os trabalhos. 

Ouvi ele ainda insistindo, mas ignorei, não vou mentir que não gosto de transar com Camila, mas… é só isso? Não acredito que seja um bom caminho para se trilhar. 

No decorrer das horas, obriguei minha mente a não pensar em nada que envolvesse a dona da Paradise, mas foi impossível levando em consideração as constantes mensagens em meu celular alertando sobre o atraso na última parcela do maldito empréstimo, não sei onde diabos eu estava com a cabeça ao fazer isso, na verdade sei sim, mas nunca aceitarei tal impulso. 

— Nada no cardápio me parece agradável, mas em contrapartida aquela linda jovem sim.

Minha atenção estava toda voltada para a planilha de estoque que eu estava preenchendo, quando ouvi a fala anterior, na verdade o que me chamou atenção não foi o que foi dito em um tom claramente alto para que eu ouvisse, mas sim a voz. Ergui os olhos e por alguns segundos demorei a corresponder o sorriso da mulher chique no meio do salão, sempre me impressiono com sua beleza.

— O que faz aqui?

A pergunta saiu no automático, ela ergueu um pouco a sobrancelha, mas não tirou o sorriso simpático do rosto.

— Você disse que eu poderia aparecer "qualquer dia desses". - Fez aspas com os dedos.

— Hã… - Balancei a cabeça. — Me expressei mal, desculpe. - Guardei os papéis debaixo do balcão e fui até o centro do salão, tudo isso sob o olhar sugestivo do meu amigo. — Deixe que eu atendo ela.

— Claro. - Cantarolou e saiu, ocupando meu lugar no balcão. 

— Quer sentar? - Apontei a mesa.

— Sim, mas antes… - Se inclinou e deixou um beijo em meu rosto. — Você está linda.

Rolei os olhos.

— Esse uniforme é horrível. - Passei a mão na camisa.

— Não consigo imaginar algo que a deixe feia.

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