Casamento

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Eu não me lembrava do verão em Miami. Ensolarado. Ar fresco e suave. E cheio de energia. Fazia tantos anos que não colocava os pés nessa cidade. A casa que ficamos hospedadas era próxima de onde seria o casamento. Na casa de praia da família. Um casarão à beira-mar, e com um magnífico pôr do sol. Eu me pegava recordando o passado. Estive aqui uma vez com os meus pais, numa festa de fim de ano. Eu era criança. Mas conseguia me lembrar de todos os detalhes; do nosso pai correndo atrás da Lizzie e eu pela areia. Da minha mãe gargalhando pela falta de coordenação dele ao tentar nos alcançar. Me lembro da tia Caroline adolescente sentada em uma cadeira e resmungando por causa do barulho.

Resquícios de solidão batiam a minha porta. Como se estivesse à espreita. Esperando uma única oportunidade para adentrar. O vazio que nunca me larga. Tenho dias melhores que outros. Alguns eu me sinto verdadeiramente feliz. Em outros, triste. E essas lembranças deixavam tudo pior.

Nós estávamos provando os vestidos. Os homens se encontravam no salão a espera para almoçar. Tudo parecia fora do eixo. A euforia de todas as pessoas presentes era contagiante e estressante. Tantas vozes ecoando pelo lugar.

Tia Caroline estava tão radiante. Ela gesticulava para as costureiras que faziam retoques em seu vestido de noiva. Um lindo e brilhante vestido branco. Com uma calda quilométrica e todo coberto por pedras reluzentes. A sala estava cheia de mulheres. Sendo a grande maioria modelos e celebridades. Pessoas que eu conhecia de filmes e comerciais. Eu não imaginava que Caroline era tão badalada. Lizzie parecia estar num parque de diversões. Ela sorria e conversava como se conhecesse há anos. Nós duas seremos madrinhas. Eu já havia experimentado o vestido dourado e lindo. Escolha do noivo. Que parecia ter mais bom gosto do que eu pensava. Penelope viria depois. Os seus pais também foram convidados. E ela seria a minha acompanhante. O grande impasse seria Hope. Ninguém sabia ao certo se ela viria. Em nossa última conversa, ela não parecia convencida. Mesmo com todos os discursos de Hayley. Sobre como devemos liberar o perdão. Por um lado, eu a entendia. Ela apenas queria ser uma boa mãe. E tentava amenizar a mágoa da filha.

Quando vi Klaus pela manhã ele estava feliz. Apesar de ver no fundo dos seus olhos que algo o perturbava. E eu sabia que ele sentia culpa por ser um pai ausente. E a consequência do seu abandono refletia diretamente na sua vida. Caroline fez mais do que só o enlaçar. Acredito que ela o mudou. Para melhor. Desde a morte dos meus pais. Família era tudo para ela. E jamais abriria mão disso. E ao saber da relação péssima entre ele e a filha. Ela mexeu os pauzinhos para mudar isso. Agora ele teria que fazer a parte dele.

Acabei conhecendo alguns membros da sua grande e refinada família. Todos eram elegantes e cheios de classe. Como se viessem de uma família tradicional rica. Que de fato eram. Elijah era o mais cordial de todos. Ele nos tratará com tanta gentileza. Parecia que ele havia saído de um livro de época. Rebekah, sua irmã do meio era desconfiada. Ela falava e analisava cada pessoa. Mas sem perder a classe. O humor ácido foi o que mais me atraiu. Freya, a irmã mais velha, era totalmente diferente. Muito divertida e simpática. Ela literalmente conversava com qualquer pessoa. E fazia os comentários mais hilários sobre se casar. Kol, o caçula. Era mais fanfarrão e menos "classudo". Ele ria e conversava alto. Sem se importar com as inúmeras invertidas de Elijah. Que pedia que ele se comportasse. Além de ser muito bonito. Ele não dava a mínima para o que Elijah falava. Revirava os olhos como uma criança mimada. Já a mãe era culta e gentil. Sempre tentando ser solícita. Em um todo, era uma família unida. Caroline era tratada com muito respeito. Agora entendo porque Hope ama tanto os tios. Eles eram pessoas legais. Klaus era o único que não condizia com o comportamento deles. Que tipo de pai rejeita a própria filha? Vai ver é por isso que a família dele nunca a deixou desamparada.

Procurei a minha avó paterna. Ela não estava lá. As vezes ela ligava. Eu ouvia Caroline pedindo conselhos sobre a festa. E fiquei curiosa para saber o motivo da sua "não presença". Seria por causa de Lizzie e eu?

Eu não estava de fato ansiosa para vê-la. Quer dizer, ela nunca se importou comigo. Então nada melhor do que eu fazer o mesmo.

Penelope chegou no dia do casamento pela manhã. O jatinho dos seus pais os trouxe. Eles ficaram hospedados no prédio em que eram donos. Nós trocamos mensagens durante o dia inteiro. Como eu estava no meio do fuzuê do casamento. Ficou impossível sair. A decoração estava a todo vapor. E Caroline uma pilha de nervos. Sendo acalmada a base de remédios. Ela tentava controlar tudo. E isso a sobrecarregava. Não imaginava o quanto casar era estressante.

Cadeiras bem posicionadas de cada lado na areia. Luzes agrupadas por toda a sua extensão, e um pequeno altar no centro, com um corredor repleto por pétalas de rosas por onde a noiva passaria. A paisagem com um lindo pôr do sol. Eu estava no altar, perto do noivo, junto das outras madrinhas e seus respectivos pares. Tão ansiosa. Parecia que seria eu que casaria. O que me fazia idealizar o meu próprio casamento.

Assistir toda a cerimônia do casamento foi emocionante. Os votos dos noivos me fizeram chorar discretamente. Todas as pessoas presentes sentiram a ligação entre eles. Klaus se mostrou ser romântico e profundo. E tia Caroline estava tão absorta em cada palavra. Penelope segurava a minha mão com força. Ela estava esplêndida. Com o seu lindo e perfeito macacão social preto. Saltos da mesma cor. As joias davam todo um destaque para a roupa. Seus cabelos estavam presos nas laterais e enrolados. A maquiagem deixou o seu rosto bem marcado. O tipo de beleza que não se encontra em qualquer lugar. Eu fiquei sem palavras quando a vi caminhando em minha direção.

A grande tenda estendida para a festa principal se encontrava cheia. Com as pessoas dançando e bebendo. Os noivos já haviam trocado a roupa para algo mais casual. Eu estava sentada assistindo a tudo. Lizzie mostrava alguns dos seus passos de dança as modelos. Que pareciam realmente ansiosas em aprender; entre elas estava Caroline. Que ria alto ao tentar reproduzir os mesmos passos. De longe pude ver os meus avós de olho na interação delas. Elas são tão parecidas. Que era impossível não dizer que fazem parte da mesma família. Mas por alguma razão, encontrei a minha avó olhando para mim. Ela não se intimidou ao vir que eu havia notado. O seu semblante estava retorcido. Como se ela estivesse debatendo consigo mesma. E era incrivelmente cruel ver o quanto o meu avô era parecido com o meu pai. Eu até parei de olhar tanto. Porque já estava ficando estranho. Mas ele não pareceu notar nenhum dos meus olhares. Ele apenas estava sentado com cara de poucos amigos. Sempre muito sério.

Num certo momento eu a vi se levantar e caminhar até a mesa onde eu estava. Penelope não estava comigo. Ela tinha ido buscar alguma coisa. Eu estava sozinha. O seu andar era calmo e imponente. Com o seu longo e chique vestido azul escuro. E esmeraldas por toda parte: pescoço, orelhas, pulso...

-Você deve ser a Jossete - ela parou ao meu lado. Com um pequeno sorriso.

-As pessoas me chamam de Josie.

-Desculpe não ter vindo falar com você antes. Eu estava esperando uma boa oportunidade - eu dei apenas um sorriso amarelo. Ela prosseguiu com a fala. - Eu falei brevemente com a sua irmã, Elizabeth. Estou admirada do quanto vocês cresceram. Alaric ficaria feliz em vê-las tão bonitas.

-Acho que sim.

­-Você se incomoda em darmos uma volta?

Disse que não e a segui para fora da tenda. Havia algumas pessoas andando por ali com suas taças de champagne em mãos. Fiquei curiosa em saber o que ela queria comigo. Me senti estranha. Com embrulho no estômago...

Incapaz de EsquecerOnde histórias criam vida. Descubra agora