Ainda Amo

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Quando Helô acordou pelos primeiros raios da manhã invadindo a janela, ela pensou que estava vivendo um pesadelo, mas não era, a noite anterior havia mesmo acontecido e agora ela estava deitada nua, na cama de Stenio, sentindo a respiração do ex-marido no pescoço dela. 

— Bom dia...— Ele disse beijando o pescoço dela com a voz grossa, um pouco grogue, ainda sonolento.

— Stenio...— Ela disse quase cedendo. — Não, não, não... — Ela falou se afastando dele, se sentando na cama, e cobrindo o corpo com lençol.

— Já sei, você vai dizer que foi um erro. — Ele disse.

— E foi, você sabe disso. — Ela falou.

— Eu não acho... — Ele disse voltando  a se aproximar dela. — Mas se foi um erro, foi um dos melhores que já tivemos... — Ele falou beijando a boca dela.

De fato a noite tinha sido incrível, top dez deles e top um da Heloísa dos últimos anos, desde o divórcio e esse pensamento fez ela suspirar frustrada.

— Stenio, para .....— Ela falava tentando resistir a ele mas o corpo dela não ajudava.

— Eu não me importo de continuar errando com você....— Ele falou olhando nos olhos dela e ela sabia que ele não estava  falando só sobre aquele momento.

— Stenio, não faz isso. — Ela pediu. — Já passamos por isso duas vezes e no final sempre acabamos nos magoando e nos machucando....

— Mas a gente mudou ao longo desses anos, não somos os mesmos, dessa vez pode dar certo, eu sinto isso. — Ele falou.

— Para. — Ela disse se controlando pra não chorar. — Não diz essas coisas, não quando foi você que pediu o divórcio, não quando foi você que desistiu da gente, não quando foi você que deixou de me amar.

— Você não falava mais comigo, você me evitava, você mal me olhava. — Ele falou. — Era como enfiar uma faca afiada dia após dia no meu coração....

— Você achou que eu estava tendo um caso, me seguiu, estragou meu disfarce e....— Ela parou.

— Fala, vamos, termina. — Ele pediu feroz.

— Stenio, já passou. — Ela disse.

— E por minha culpa o Ricardo morreu no seu lugar. — Ele disse. — Viu, não é tão difícil dizer.

— Stenio, não foi sua culpa!!! — Ela falou.

— Mas você agia como se fosse, até hoje você ainda pensa isso. — Ele disse ressentido.

— Não, claro que não, eu nunca pensei, você precisa acreditar em mim! — Ele falou.

— Por que eu acreditaria? Você nunca falou comigo sobre isso ou sobre nada o que aconteceu, apenas fingiu que eu não existia.— Ele falou e ela se calou, ela realmente nunca culpou ele pela morte do amigo, mas não conseguia falar sobre.

— Eu vou embora. — Ela disse sem falar mais nada, então se enrolou no lençol e começou a catar a roupa dela.

— Helô espera...— Ele foi atrás dela na sala, ela tinha lágrimas nos olhos. — Me desculpa!

— Você imagina o quanto foi difícil pra mim? Perder o Ricardo e meses depois perder você? — Ela falou com a voz falhando.

Ele puxou ela para um abraço. — Você nunca me perdeu, eu sempre vou ser seu! — Ele disse a abraçando ela.

Helô não disse de volta, mas ambos sabiam que ela também sempre seria dele. Eles acabaram tomando banho juntos, mas diferente da noite anterior, não foi um reencontro e sim mais uma das milhares de despedidas que já tiveram ao longo dos mais de trinta anos de histórias.

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