NOVAS DESCOBERTAS

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Enquanto estava desacordado, o homem do espaço via apenas formas indistintas em sua mente. Via o que se parecia o rosto de Bento, todo coberto de sangue, os olhos estralados como se pertencessem a um morto-vivo. Uma grande dor enchia Zayan, e ele gritava para o companheiro tombado, buscando trazê-lo de volta à consciência; mas nada aconteceu.

O guerreiro finalmente abriu os olhos, notando que todo o seu corpo doía, cheio de ferimentos da batalha. Acima dele, candelabros de tochas rústicas flamejavam, iluminando o local. Ergueu-se do solo, buscando respirar calmamente. Mas a dor da morte de Bento encheu-o como chumbo quente. Antes que pudesse evitar, estava chorando muito, o corpo sacolejando de um lado a outro.

Nunca imaginou que pudesse ser abalado daquela forma, mas o que acontecera ao companheiro fora terrível demais. E tudo tinha sido sua culpa, ao pensar que matara Walros. Mas na verdade o deixara sair ileso, e voltar com a ajuda de um monstro! Devia ter se certificado da morte do duende, e lhe cortado a cabeça como garantia.

Demorou até que sua mente voltasse à condição normal de racionalidade; finalmente podia pensar com certa clareza, e buscar entender onde se encontrava.

Era um túnel bem largo, todo revestido de terra extremamente amarronzada. Olhando para cima, via apenas uma pequena nesga de luz solar, a qual devia encontrar-se a mais de vinte metros de altura. Definitivamente, não poderia escalar para a superfície. Tinha de encontrar outra saída, seguindo pelo túnel que se lhe apresentava adiante.

As tochas o deixavam receoso, imaginando que tipo de seres as teriam acendido. Imaginava se talvez não fossem o povo de Alice, num acampamento subterrâneo. Mas descartou a ideia, já que isso lhe teria sido informado pela rainha caso existisse.

Prosseguiu com cautela, porém sem a lança. A arma havia se partido durante a queda, e não passava de um amontoado de farpas fúteis.

Enquanto caminhava, a parte escura de sua mente dava sinais de retornar. Ele se lembrava da proposta feita por Walros, e precisava cerrar os punhos para resistir em cogitá-la. Forçava-se a lembrar-se de Alice, e ver em seu rosto alguma esperança; alguma coisa que o permitisse manter a bondade de seu coração.

O tempo passou-se, e as tochas ficavam cada vez mais frequentes. Zayan começava a notar uma grama esverdeada, que brotava em alguns lugares específicos do solo. Logo, ele estava apinhado daquela relva, e os pés do guerreiro podiam senti-la com uma umidade agradável.

De repente, o homem do espaço viu-se diante de um grande recinto. Ele se abria em meio ao túnel, apinhado de postes e candelabros para todo o canto. Estes objetos saíam do meio de altas vegetações, lagos e fontes.

Um aroma refrescante permeou as narinas de Zayan, tomando o lugar do sentimento de abafamento que tinha antes. O guerreiro correu logo para um dos lagos, e bebeu de sua água como um cão faminto. Assim que saciou-se, ficou sentado a uma árvore grossa, observando a beleza do oásis que encontrara.

Mal fizera isso, entretanto, e formas estranhas começaram a se mover não muito distantes dele. Apertando os olhos, percebeu tratar-se de seres muito pequenos e esbranquiçados. Traziam tochas nas mãos, e os olhos negros reluziam na luz delas. Vestiam-se em tangas rústicas, e a aparência albina dava-lhes um ar extremamente macabro. Tinham olheiras, e narizes que se assemelhavam a fendas longas.

Zayan não se assustou com a visão. Permaneceu sentado, esperando que aquele povo o saudasse. Eles logo estavam diante dele, e o analisavam com aquelas faces extremamente exóticas.

— Mas o que é isso? — disse um deles.

— Nunca vi algo igual!

— É um sinal dos deuses! Devemos fazer um sacrifício e prezar por fartura!

Ao ouvir isso, o homem do espaço levantou-se bruscamente. Ergueu os punhos e preparou-se para lutar. As criaturas, munidas de arcos e flechas, atiraram nele, antes que pudesse reagir.

Os projéteis o atingiram em cheio, mais de uma dezena deles, e seus grandes músculos sacolejaram. Ele ficou zonzo, e veio ao chão.

Os seres riram-se do estranho bicho que acabavam de derrubar, e logo o ergueram todos juntos, com os bracinhos franzinos, levando-o dali.

Tinham em mente colocá-lo numa grande pira de madeira, a qual usavam com constância para fazer inúmeros sacrifícios. Chegaram a uma pequena vila, composta por mais daquele povo. As mulheres e crianças, todas muito similares em aspectos físicos, ficaram em espanto ao ver o gigante que seus companheiros traziam.

Indagaram-se sobre a origem de Zayan, a qual nenhum deles sabia. Sem mais demora, colocaram-no na pira alta no centro da praça da vila, jogaram nela um piche negro e pestilento, e lhe atearam fogo. As chamas começaram a subir, esfomeadas.

ZAYAN DO ESPAÇOOnde histórias criam vida. Descubra agora