UMA ALIANÇA ENTRE ESPÉCIES

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Levi começou a recuperar os sentidos quando já chegava na morada dos desgraçados. Eles haviam atado seus membros, e posto um pedaço de corda em seus lábios; desta forma, não podia gritar para chamar pelos companheiros. Sua cabeça doía bastante, e os cortes em seu corpo ardiam, ainda frescos.

Em sua mente, o terrível medo da morte instalou-se. Berrava, mas os sons eram abafados pela corda sufocante. Por fim, ele foi colocado no que se parecia uma mesa de carvalho, e Amurake passou os olhos rodeados de pelos em cima dele. Ordenou que lhe tirassem a corda da boca, e exclamou:

— O que é você, e por que vaga por minhas terras junto de outros da mesma espécie?!

Levi esbravejou; queria apenas matar aquele monstro, como tinha feito com tantos deles no campo de batalha. Amurake riu-se, e ordenou que ele fosse cortado em tiras. Não valeria à pena procriar um organismo tão agressivo.

Logo, vários serezinhos aproximaram-se, os facões de ferro erguidos para reduzir Levi a pedaços de bife. O homem buscou estrebuchar-se, mas nada conseguiu a não ser irritar ainda mais seus captores, que finalmente encostaram as lâminas em sua pele branca.

Neste instante, porém, ouviu-se o ruído de uma trombeta, e todos pararam o que estavam fazendo. Até mesmo o prisioneiro atentou-se aos sons da floresta, percebendo uma grande quantidade de seres que avançavam por cima da paliçada da vila.

Eram Ykan e seus servos, vindo em grande contingente. Se não possuíam as mesmas tecnologias do povo de Amurake, podiam utilizar-se do número como vantagem; se multiplicavam muito mais, graças a suas características biológicas específicas.

Logo, Amurake e seus súditos esqueceram-se de Levi, e partiram ao ataque contra Ykan. O homem, deitado e impotente, conseguia apenas ver como a luta se desenrolava. Primeiro, os "Amurakes" levavam vantagem, fazendo recuar os "Ykans". As espadas de aço duro rompiam facilmente a carne dos inimigos, matando muitos.

Entretanto, graças à força moral que as cornetas de Ykan davam a seus soldados, o grande número de bichos esbranquiçados virou a carnificina. Agitavam os porretes e arcos, deixando pilhas de mortos diante de seus pés.

Levi, durante tudo o que acontecia, tentava se libertar. Com o corpo musculoso, fazia pressão nas cordas, até que elas finalmente começaram a se romper. Por fim, estava livre, e encarou o caminho de fuga. Porém, o cheiro e os ruídos da batalha o atraíam; precisava novamente lutar, demonstrar sua força e se realizar como guerreiro.

Aproximou-se de alguns cadáveres, os quais tinham sido arremessados longe da luta. Pegou de um deles uma longa espada, e partiu para cima do amontoado de desgraçados.

No início, matava qualquer um que se aproximasse dele, sem grandes esforços. Mas, logo, alguma coisa o fez permanecer do lado dos Amurakes. O motivo era de que estes homens se demonstravam mais corajosos e brutais, apesar de a batalha já não andar tão boa para eles.

Levi era como que um gigante em meio àqueles pequeninos, e em pouco tempo, lhes representava poderosa vantagem. O humano exterminou muitos Ykans, e estes em poucos minutos encheram-se de medo daquela arma viva.

Transbordando de ódio e mais uma vez derrotado, Ykan bateu em retirada, deixando os Amurakes bradarem berros de vitória. Dentre eles Levi se encontrava, o corpo encoberto de suor e sangue.

Impressionado com aquela figura, Amurake aproximou-se dele, colocando as mãos em seu ombro.

— Você luta bravamente — disse ele. — Eu não mais o matarei; a partir de agora, tu é parte de nosso povo.

Levi ergueu o queixo, lisonjeado.

— Se admira tanto minha força, ajude-me a ter com meus companheiros, e a sair deste local subterrâneo.

— Isto é impossível! Os Ykans rondam todos estes lugares, e barram as saídas durante séculos. Nem mesmo nós conseguimos escapar ao longo de todo o tempo em que existimos aqui.

— Então, temos de tirá-los do caminho.

Amurake ficou muito chocado com a frase. Não conseguia acreditar em tamanha coragem de Levi.

— Então — disse ele — , lutaremos lado a lado, humano, para acabar com nossos inimigos em comum. Entretanto, o advirto de que esse é um caminho sem volta, no qual a morte pode estar esperando no final.

— Eu não temo a morte, chefe Amurake. Sem ela, a vida nada tem de valor. Nestes tempos antigos, tenho sido covarde, e a hora de me redimir é agora!

Os Amurakes bradaram gritos de triunfo, e reuniram-se ao redor de Levi. Logo, o haviam levantado, e andavam de um lado a outro a jogá-lo para o ar. O guerreiro sentiu muita felicidade lhe percorrer as veias; percebia-se acolhido, finalmente, o que não acontecia desde o dia em que tinha perdido a briga para Zayan.

Porém, longe dali, enquanto eles comemoravam sua vitória, os Ykans esgueiravam-se pelas trilhas dos matagais. O chefe deles ia em direção a um poderoso aliado, o qual estivera sumido durante muitos e muitos anos. Era o mais terrível ser em meio àquele mundo subterrâneo. Seus poderes eram conhecidos por todas as criaturas que ali viviam, e qualquer delas que tivesse o mínimo de prudência os temeria.

ZAYAN DO ESPAÇOOnde histórias criam vida. Descubra agora