ASSASSINO

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Zayan correu pela selva como se não houvesse amanhã, passando pelas árvores a passadas decididas e imensas. Não conseguia conter as emoções raivosas que haviam dentro de si, e todo animal que via, triturava com os próprios dedos, sem nem mesmo comê-lo.

Ficou assim, andando sem rumo até que a noite caísse, escura e gelada. Parou ao lado de um grande lago negro, e ali se afundou. Enquanto o líquido o envolvia de cima a baixo, sua cabeça se rebobinava, trazendo-lhe os desejos das trevas de forma acelerada. Ele queria matar, conquistar e mostrar seu poder; não podia mais conter os impulsos, e a civilidade o abandonava. Se estivesse ao lado de Alice agora, não pensaria duas vezes, e a trucidaria a mordidas e socos.

Finalmente saiu da água, completamente renovado, o busto como que uma rocha séria e fechada para o céu. Então berrou, soltando a fúria pelos ares. O grito ecoou pelas árvores, balançando folhas e cascos. Talvez, seus criadores poderiam escutar aquele rugido, e vir esclarecer suas dúvidas a respeito de sua origem. Entretanto, isso teria de ficar para depois. Agora, era a hora de caçar.

O homem do espaço pôs-se sobre o solo, buscando os menores sinais de rastros que achasse. Não teve dificuldade em encontrar pegadas humanas, e segui-las na velocidade de um urso rábico. Elas o levaram até uma pequena vila, que descansava à luz das chamas e estrelas que a lambiam.

Zayan podia notar o vulto das pessoas que ainda se mantinham acordadas, sambando ao lado do fogo. Suas formas lhe pareciam extremamente agressivas, e provocantes de raiva. Os dentes do homem do espaço rangeram, e os músculos se reprimiram, formando veias azuladas por toda a pele esbranquiçada do estrangeiro.

Ele então avançou colina abaixo, rosnando para o vento. Havia tanta energia em suas passadas, que seus pés furavam o solo, espalhando terra para cima. Chegou até a estacada, saltando-a de uma só vez.

As pessoas que o viram cair ficaram incrédulas; gritaram em saudação a Zayan, pois o conheciam. Ele já caçara com elas, há não muito tempo atrás, e mostrara-se extremamente inofensivo, disposto a ajudá-los contra os inimigos.

Por isso, foi com muito pacifismo que vários do povoado se aproximaram do homem do espaço, buscando cumprimentá-lo normalmente. Entretanto, o primeiro que chegou perto logo arrependeu-se de seus atos. O homem do espaço o pegou pelos braços, arrancando os dois de uma vez.

Todos gritaram em assombro, e começaram a correr desesperados, enquanto Zayan finalizava a vítima, dando-lhe possante soco na cabeça, o qual lhe esmagou o cérebro.

O terror que emanava no local, enquanto o homem do espaço por ele avançava, seria impossível de descrever. Como uma estátua de medo, o guerreiro pulava em cima de qualquer pessoa que visse em sua frente, mordendo e socando feito um animal selvagem.

Seus cabelos longos e castanhos enchiam-se de sangue à medida em que trucidava carne, deixando para trás dezenas de corpos. Alguns do povo buscaram resistir, utilizando-se de lanças e flechas. Mas estas não conseguiam acertar o homem, que se esquivava delas e partia ao ataque.

Logo, a vila jazia vazia, com exceção dos cadáveres e a fumaça das fogueiras. Aqueles que restaram fugiram, escalando as paliçadas ou passando pelo portão principal. Seus corações jamais poderiam ser os mesmos, destruídos pelo trauma que Zayan lhes causara. Loucos, perderam-se na selva, e nunca mais foram vistos.

O homem assassino permaneceu no local, observando a magnífica chacina que realizara. Os olhos negros possuíam um brilho nunca antes visto, refletindo o negrume da noite repleta de estrelas. Seus músculos mais se pareciam pedras duras, estimulados e protuberantes na pele.

Zayan ficou ali, e procurou o trono de Alice para se sentar. Achegou-se entre as peles que cobriam a cadeira, e nela permaneceu. Sua fronte apenas via a linha do horizonte, que de leve denunciava um sol alaranjado. Dentro dos neurônios hiper aguçados, tomados pelas trevas instintivas, a glória emanava. Um sorriso brotou-lhe dos lábios. Seria rei daquele mundo, custe o que custasse!

ZAYAN DO ESPAÇOOnde histórias criam vida. Descubra agora