TROLLS

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Quando o homem do espaço partiu, Levi e Alice encontravam-se perplexos. A rainha não conseguia parar de chorar, encostada a um tronco de carvalho. Sua face antes austera e decidida de rainha estava repleta de lágrimas salgadas, tombando-lhe pelos lábios marrons.

Levi tentava consolá-la, dizendo-lhe palavras apaziguadoras. Porém, nem mesmo ele sabia o que se sucedera. Esperava que Zayan voltasse, mas disso não tinha certeza. Por fim, após um longo tempo de emoções, a rainha se recuperou, e ergueu o pescoço.

— Vamos atrás dele! — exclamou.

Levi concordou com a cabeça, e logo após isso, puseram-se a lhe seguir as pegadas. Andaram boa distância, observando onde o solo havia sido remexido pelos movimentos ferrenhos do gigante do espaço. Entretanto, a velocidade de Zayan era tamanha, que a noite caiu sem que o encontrassem. No momento em que pararam para descansar, ouviram gritos, e assustaram-se com eles. Gostariam de seguir para o local de onde partiam, mas a distância era muita.

— Deve ser Walros — disse Alice. — O desgraçado já deve estar atacando nossa vila!

Levi não lhe disse nada. Sabia que havia a possibilidade de aquilo estar sendo causado pelo companheiro que tinham. O soco que lhe dera atestava a agressividade do estrangeiro; quem sabe não havia perdido completamente o senso de juízo, e se aliado aos ideais inimigos? Não sabia a resposta para esta pergunta, mas a reteve na mente, em busca de poder saná-la mais tarde.

Fizeram uma boa fogueira para se alimentar, e aconchegaram-se na clareira mais espaçada. Os dois nada diziam, mesmo que próximos um do outro. E foi nesse instante que ouviram algo mover-se.

Levi parou de comer a carne de porco na hora, encarando a vegetação. Algo remexera as folhas, ele tinha certeza, e estava à espreita. O homem levantou-se, segurando a espada com vontade entre os dedos.

Um ronco similar a um guincho ecoou, vindo lhe bater no rosto. Então, dois grandes olhos se abriram, e a criatura avançou do meio dos arbustos. Levi mal teve tempo de ver o que era, esquivando-se para o lado ao mesmo tempo em que golpeava com a espada.

Entretanto, o movimento não surtiu efeito no inimigo, e Levi de repente sentiu algo bater-lhe no ombro, lançando-o para longe. A dor encheu-lhe o corpo quando caiu no chão, e com dificuldade, ergueu a cabeça para olhar o monstro que o atacara.

Era um grande troll branco, os dentes caninos pingando saliva. Sua face parecia-se uma pedra deformada, com um nariz adunco e arrebitado saindo-lhe de forma grotesca acima da boca; esta era como a fenda disforme de uma rachadura, lábios secos e arroxeados abertos numa expressão de ódio.

Alice também assistia à cena, suor descendo-lhe pela face. Assim que teve coragem, partiu para cima com a faca de ossos, dando um grito de raiva. Atracaram-se, e o monstro veio lhe golpeando feito um furacão. Enquanto a rainha tinha apenas a pequena faca, o troll possuía dentes e unhas extremamente longos, atacando de forma tempestuosa. Entretanto, a soberana resistia bem às imensa força do bruto, recuando para trás, equilibrando a força no punho de sua arma. Dessa forma, a pequena lâmina de ossos não se quebrava ao aparar as unhas do desgraçado.

Levi finalmente se recobrara, e então juntou-se à companheira. Juntos caíram em cima do troll, o qual enfureceu-se com a disparidade da luta. Por mais que fosse grande, foi sendo cercado, Levi lhe cortando os tendões da perna e punhos. Diante das injúrias incessantes, a criatura por fim chegou a imenso grau de hemorragia, que a deixou tonta.

Aproveitando a oportunidade, os dois humanos dirigiram os ataques para a cabeça do maldito, cortando-a a movimentos precisos de seus instrumentos de combate. O crânio por fim desprendeu-se do corpo, e saiu rolando pela relva. Havia apenas sangue brotando do tronco do troll, e seu corpo caiu ao lado da cabeça decepada.

Os dois ofegavam, olhando um para o outro. A rainha encontrava-se mais pálida do que nunca, assim como Levi. Não sabiam de onde tinha saído aquele ser terrível, mas tinham noção de aquele não ser bom sinal.

— Ele deve ter visto a fogueira — disse Alice.

— Se este nos atacou — disse Levi —, mais deles provavelmente encontram-se por aqui.

— Não tenha dúvida disso.

Após trocarem tais palavras, os dois decidiram-se por saírem da clareira, e se embrenharem em locais mais seguros da floresta. Subiram numa grande árvore, e nela adormeceram entre seus galhos.

Enquanto isso, boa centena de trolls da floresta saíam de seus esconderijos, estimulados pelos sons da batalha que ocorrera em seus domínios. Criaturas selvagens, sem grandes ambições, trolls atacam apenas para se alimentar; porém, não muito longe de onde estavam Alice e Levi, Fenir e Walros espreitavam. Atrás deles, os duendezinhos escondiam-se, seguindo os mestres. Ao ouvir os gritos dos trolls, Walros disse:

— Não estamos muito longe deles.

— Deles quem? — perguntou um duende ao lado.

— Nossos mais novos aliados!

ZAYAN DO ESPAÇOOnde histórias criam vida. Descubra agora