O grande dia

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[...]

Não tinha como eu saber. E uma parte do problema ainda existia. Mas ainda assim, me sinto uma tremenda de uma palhaça. Tanto choro, raiva, eu briguei com a mulher que eu amo por conta disso! E aqui eu estou, encostada no ombro da minha mãe.

Ela teve um motivo para ser ausente, apesar desse motivo não servir pra ausência dela nos primeiros anos de divórcio.

Câncer de mama.

Uma hipótese que eu suspeitei algumas vezes. Pelo histórico, pela insistência dela de sempre nos encontrarmos em restaurantes ou lugares abertos em dias de sol, onde ela não tirava o maldito chapéu da cabeça. O cabelo dela permanecia sempre no mesmo corte chanel, nunca um pouco mais longo nem mais curto. Quando parecia mais magra, pálida, continuava negando estar doente.

Bem que é do feitio dela esconder uma coisa assim. Porém da própria filha? O melhor apoio que ela poderia ter? Por quatro anos?

Segundo ela, me poupar era o melhor que podia fazer. Isso me fez entender ainda mais os motivos da Mina em querer esconder a doença dela.

E a maneira como eu me senti ao saber disso, me fez entender ainda mais porque a Momo tem certa razão de não querer falar comigo. Não total. Mas um pouquinho.

Pelo menos agora, até que não caí de volta no fundo do poço como pensei. Minha mãe está disposta e muito determinada em se aproximar de mim e tentar recuperar todo o tempo perdido. E o carinho e amor dela me fez uma falta que é até maior do que eu imaginei.

— Achou que eu tinha te deixado na mão, não é? — Ela diz com um sorrisinho convencido no rosto. — Dinheiro não cai do céu, Nayeon. Era eu me assegurando de que você não ia passar necessidade.

A fala dela me leva de volta a primeira vez que veio um depósito na minha conta. Até achei que foi um milagre, ou ela, talvez a ahjumma. Na segunda vez, desconfiei mais ainda que fosse ela.

E era. Bingo.

— Foi você todas as vezes? Até a última?

Ela ergue uma sobrancelha.

— A última não. Porque eu pretendia entregar pessoalmente. Quem pode ser, se não eu?

— Engano, talvez.

— Estranho. — Ela continua acarinhando meu braço. — Todo esse drama, achou mesmo que eu fosse uma desnaturada?

— Ok, o que mais fez sem eu saber?

— Fiquei de olho o tempo todo por meio da sua madrinha. Mas claro, ela me contava só o básico, não me contou por exemplo que você se comprometeu com alguém. — Toda hora algo para me lembrar que eu estou longe da Momo. — Sabe, eu gostei dela. Me pareceu uma boa garota.

— Ela é perfeita. Aprendi muito com ela. Momo é a melhor pessoa que eu já conheci. Não sei mais como viver sem ela.

— E...O que aconteceu? — Minha mãe me olha de relance. — Não precisa ser advinha pra ver o quão triste você está.

— Na hora, eu fiquei tão brava. Eu queria fugir de você. E...Eu me senti traída por ela ter armado um reencontro sem me falar nada. — Solto um suspiro. Vou me lembrando da expressão fria no rosto, dela ter arrancado com aquela caminhonete sem nem olhar para trás. — E agora a situação piorou. Eu fiz o maior escândalo por algo idiota, e ela descobriu que eu escondi coisas dela.

— Ela só quis ajudar, mas também foi normal você reagir da maneira que reagiu. Essa questão de nós duas, era algo delicado pra você. Momo sabia disso?

— Sim.

— Então. Se acalme, vocês vão se entender.

— Não tenho certeza. Momo tem uma irmã, Mina. Ela tá muito doente, é terminal. Eu sabia. E não contei pra Momo. Prometi a irmã dela que não ia contar.

Uma Troca de Favores [NaMo]Onde histórias criam vida. Descubra agora