Montado em um Cavalo Pálido

Capítulo 24

Nas instalações tudo foi pré-planejado e organizado até o último detalhe. Havia seções de tempo dedicadas à recreação, exercícios, terapia de grupo e sono. Rick gostava de ordem, gostava de ter que estar em determinados lugares e em determinados horários.

Os corredores estão limpos e vazios, não há nem mesmo um zelador, uma enfermeira ou uma enfermaria para bloquear a monotonia. Rick pode ver, no final do corredor, um par de portas fechadas. Atrás dele, ele ouve os assobios e rosnados baixos dos caminhantes. Ele está correndo, mas não importa o quão rápido ele corra, ele não consegue alcançar as portas e a segurança implícita que está além delas.

Suas pernas estão queimando de tanto correr e seus pulmões doem a cada inspiração instável. Ele não ousa voltar-se para olhar a horda que ele sabe que está atrás dele, aproximando-se sorrateiramente. Se ele olhar para trás, quem ele verá? Pessoas que ele conhece estão mortas, pessoas que se transformaram diante de seus olhos ou estranhos? Será que eles pareceriam estranhos, mesmo que ele os conhecesse?

Ele não consegue alcançar as portas. Ele não tem arma. Deve ser um sonho, mas não significa que ele não será comido vivo mesmo assim. Ele aprendeu a não confiar mais na separação entre a realidade e a terra dos sonhos. Se ele puder se machucar, e se os cavaleiros puderem machucá-lo enquanto ele estiver dormindo, então ele certamente também poderá ser transformado por um dos caminhantes. Disso ele não tem dúvidas.

Finalmente parece que as portas estão se aproximando. Se há algo em si mesmo em que ele pode confiar, é na determinação obstinada. Exercícios e vigilâncias ensinaram-lhe o valor da paciência e do progresso de cabeça baixa e olhos para o futuro. Os rosnados dos caminhantes atrás dele estão se aproximando conforme ele se aproxima da porta e, com um empurrão final, ele passa pelas portas e sai para a luz além.

Apenas as portas se fecham atrás dele, e já é noite quando ele foge do prédio da instalação. A área de recreação que separa o prédio do homem e o consultório do Dr. Woodmore se estende além dele como uma tela. O calor, apesar de ser noturno, é sufocante.

Ele começa a suar e continua correndo, ouvindo as portas rangerem e gemerem atrás dele enquanto os caminhantes se amontoam contra elas, ávidos por sua carne. Seu coração bate na cabeça pior do que os tambores na manhã seguinte a uma noite de bebedeira, perfurando seu crânio com mais força do que uma ressaca.

Ele para na porta do prédio do Dr. Woodmore, respirando fundo, as mãos nos joelhos.

"Rick."

É a voz de Daryl, mas quando Rick levanta os olhos ele sabe que o homem para quem está olhando não é Daryl. Mesmo agora, Pestilence não consegue enganá-lo como ele pensa que pode. Os olhos são muito planos, não são tão bonitos quanto os de Daryl. A varredura de seu cabelo está errada. O sorriso está errado.

"Você não é real", ele rosna, virando-se. Além do ombro de Daryl, os portões estão abertos e o bosque do outro lado da estrada o chama. Ele corre no momento em que as portas da instalação cedem e os caminhantes saem. Ele pensa que, em meio aos rosnados e assobios, poderá ouvir a pronúncia de seu nome. Há uma recompensa pela sua cabeça – talvez o homem que o mata consiga viver novamente.

Ele corre em direção às árvores, sem se importar com a maneira como seus pés descalços quebram galhos e tropeça em pedras e pedaços de folhas. Ele está descoordenado, seus músculos pesados ​​de exaustão. Ele tem que continuar se movendo. Ele tem que continuar se movendo .

Ele ouve um assobio. Não é um apito com o qual ele esteja familiarizado – é alto, agudo e longo, e sobe por sua espinha e entra em sua cabeça e ele cerra os dentes, de cabeça baixa contra as árvores enquanto elas se movem para abraçá-lo e mantê-lo imóvel. Até a natureza está do lado da Pestilência.