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O caminho para casa, depois de ter a certeza de que o mais novo membro da família estava limpo, devidamente arrumado e apresentável para conviver em um apartamento, tinha sido mais rápido que Sana esperava.

Como Tzuyu estava quase desmaiando no volante, para a proteção de ambas — E do novo membro — Sana havia assumido o volante e as levado para casa em segurança.

Ela havia praticamente ordenado que Tzuyu fosse imediatamente para o banho, infelizmente tendo que ajudá-la a caminhar até o banheiro e colocá-la na grande banheira, então rumou para a cozinha.

Preparou uma sopa quente e cheia de nutrientes que ajudariam o reconstruir o organismo de Tzuyu, e Sana conseguiu imaginar várias Mini-Tzuyu dentro da barriga dela gritando "alerta vermelho!" E várias luzes vermelhas piscando por todo o estômago, devido aos vômitos constantes.

A sopa já estava pronta e agora havia uma Tzuyu fraca comendo a sopa devagar e com uma expressão quase cansada no rosto.

— Eunwoo já está vindo. — Começou Sana. — Hm, o médico amigo meu que eu havia lhe dito.—  Explicou ao ver o olhar confuso da modelo mais nova.

— Eunwoo? — Tzuyu perguntou. — Aquele que levou chifre da sua irmã?

Não havia sido bem assim. Momo talvez tenha traído Eunwoo com uma garota nova na academia de dança, cujo nome era Dahyun. Desde então, Eunwoo tem uma obsessão maluca por Sana.

— Não foi muito bem um chifre, mas sim, é ele.

— Eu não gosto dele. — Revirou os olhos.

— Ele é um bom rapaz, quando não está tentando me cantar ou me levar para um motel. — Sana argumentou.

A campainha do grande apartamento tocou fazendo a grande bola de pelos caramelizados levantar a cabeça, mas logo voltando a dormir na confortável cama amarela brilhante.

O rapaz estava com uma roupa não tão formal, com uma maleta na mão esquerda e uma rosa vermelha solitária na mão direita, em um vermelho vivo como se tivesse sido colhida há pouco tempo.

Já não era segredo para ninguém que Sana era lésbica, mas o jovem e bonito rapaz insistia na possibilidade de conseguir provar para Sana que homens poderiam ser tão interessantes para Sana quanto mulheres.

— Olá, entre. A Tzuyu já deve estar no quarto. — Tentou ser formal, talvez assim Eunwoo finalmente se tocasse.

Eles caminharam em passos rápidos até o grande quarto principal, e a modelo prodígio estava deitada embaixo de grossos cobertores brancos feito a mais clara neve. Eunwoo manteve um semblante confuso todo o caminho.

— Eu achei que você estava doente, Minha flor, por isso vim o mais rápido possível até aqui. — Eunwoo disse com a voz doce e logo o som de Tzuyu limpando a garganta se fez presente.

— Não deveria chamar minha futura esposa de flor, sabia? — Confrontou Tzuyu com a voz falhando.

No rosto de Sana se formou uma careta azeda, pois ela não estava nem um pouco acostumada com a modelo taiwanesa se referir a ela daquela forma.

— Eu preciso que fique sentada para que eu possa medir sua pressão. — Eunwoo ignorou a fala de Tzuyu.

Depois de muito tempo vendo Eunwoo fazendo vários procedimentos em Tzuyu para ver se apresentava algum problema e perguntando o que Tzuyu estava sentindo, e de muitas farpas trocadas de ambos os lados, o rapaz finalmente se levantou.

O quase sorriso vitorioso de Tzuyu entregou seu alívio.

— Isso é um caso de uma simples virose, mas não há um remédio certo para isso, então o que eu recomendo é um repouso reforçado e bastante hidratação, se os sintomas persistirem por mais de uma semana, o ideal é que você vá até o hospital urgentemente. — O rapaz adotou um tom profissional na esperança de impressionar Sana.

Depois de Eunwoo dizer todas as recomendações, eles rumaram até a porta, para deixar Tzuyu repousando no quarto,  e em um momento inesperado o rapaz segurou delicadamente o braço de Sana.

— Sana, eu sei que está em um relacionamento agora, mas eu gostaria de convidá-la para tomar um café no centro comigo, você aceita? — Disse docemente e recuou com a mão depois de receber um olhar reprovador de Sana.

— Eu até aceitaria se eu não soubesse suas intenções, Eunwoo. Você e todo o resto do mundo sabe que eu sou abertamente lésbica e estou em um relacionamento, então peço encarecidamente que vá para casa, porque você é um cara muito legal e doce que provavelmente encontrará uma mulher incrível para você.

Os olhos do rapaz na frente de Sana se encheram de lágrimas para a total surpresa de Sana, e o que mais deixou Sana surpresa foi o abraço de urso que recebeu de Eunwoo.

— Certo, Obrigado, Sana. Eu sinto muito mesmo por ter te importunado tanto por tanto tempo, obrigado por suas palavras. — Limpou as lágrimas grossas que caíram no rosto liso.

[...]

— Vocês não vão ficar nesse grude e nos deixar de vela aqui, não né? — A irmã de Sana, comentou indignada enquanto parava de descascar as batatas para o purê.

Tzuyu riu enquanto abraçava e apoiava confortavelmente a cabeça no ombro de Sana — essa que mexia os legumes na panela quente.

— É, Meu amor, eu acho que viemos até aqui para ficar de vela mesmo. — Dahyun entrou na brincadeira.

— Vocês estão com inveja. — Sana riu com a língua entre os dentes.

— Inveja? Inveja do que se eu posso ter o meu docinho de coco a qualquer momento? Só não estamos nos beijando na frente de vocês porque temos respeito, okay? — Momo argumentou.

— Exatamente, Meu amor. — A coreana plantou um rápido beijo nos lábios cheios de Momo.

As outras garotas já haviam chegado na grande casa de Sana e Tzuyu, e agora todas comiam grandes porções de carne, legumes, purê de batatas e outras coisas preparadas por elas mesmas. Risadas preenchiam a casa, que se tornava ainda mais animada com o passar do tempo.

Sana havia subido para ir ao banheiro, mas Tzuyu já estava suspeitando e começando a ficar levemente preocupada, então rumou em direção as escadas da casa.

Ao entrar no grande quarto do casal, a modelo prodígio se assustou com braços brancos e finos puxando ela para dentro e fechando a porta, não tardando em grudar seus lábios em um beijo cheio de vida.

E como duas adolescentes apaixonadas, elas se afastaram rindo e coradas, sussurrando uma para outra como elas se amavam e o quanto elas eram felizes, mas é claro que um selinho se fazia presente a cada palavra.

— Eu amo você e quero passar o resto da minha vida ao seu lado, Tzuyu.

Um ano depois. Duas da madrugada.

— Onde diabos você estava, Tzuyu?! — A voz alta de Sana se fez presente na madrugada.

Tzuyu havia chegado em casa tarde da noite depois do trabalho, com cheiro de bebida velha e perfume barato.

— Eu já disse que estava com as meninas em um bar, Sana, Por Deus!

— Não coloque o nome de Deus no meio de suas safadezas, Tzuyu! Você acha que as meninas não teriam me avisado antes? — Gritou com lágrimas rolando e Tzuyu tentou se aproximar, mas logo foi impedida. — Não chega perto de mim!

— Por que diabos eu iria trair você, Sana!? Eu- — Um tapa na bochecha esquerda a fez parar.

Ela colocou a mão por cima da bochecha vermelha e ardida em choque. Ela não reconhecia o seu amor.

Tzuyu não estava reconhecendo a Sana que jurou que iria ama-la até o fim dos tempos e que nem a morte seria capaz de separar as duas.

[...]

Com o estômago revirando, Tzuyu acordou do inexplicável sonho que estava tendo, vomitando toda a sopa nutritiva que Sana havia feito.

Sentindo o suor molhar todo o seu corpo e o cobertor grosso, ela sujou todo o chão de madeira polido e brilhante com os resíduos de seu estômago ruim.

Por que diabos estava sonhando com o passado?!

Inefável. | Satzu. Onde histórias criam vida. Descubra agora