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" 𝐃𝐞𝐬𝐜𝐮𝐛𝐫𝐚 𝐪𝐮𝐞𝐦 𝐯𝐨𝐜ê é 𝐞 𝐬𝐞𝐣𝐚 𝐝𝐞 𝐩𝐫𝐨𝐩ó𝐬𝐢𝐭𝐨." - 𝐃𝐨𝐥𝐥𝐲 𝐏𝐚𝐫𝐝𝐨𝐧

Ruggero desceu do táxi e pagou ao motorista. Assim que o veículo amarelado se afastou do meio-fio, ele deu um discreto passo em direção a imponente construção na qual havia crescido.

Aquele lugar havia sido — a muitos e muitos anos atrás — um casarão. Tinha passado por todas as gerações da família Pasquarelli e foi bastante modificada, contudo ainda guardava em si uma elegância real; como se tivesse pertencido a alguém da realeza inglesa.

E sempre que Ruggero olhava para a casa, uma sensação esquisita percorria seu corpo. Era um misto de coisas boas e ruins. Não dava para definir.

Todavia, amava o jardim. Amava principalmente a cerca que ele e a mãe haviam feito para as rosas que Antonella plantou quando ele ainda era criança.
De algum modo, olhar para aquele pequeno pedaço do terreno lhe devolvia a vontade de viver.

De resto, a enorme entrada e as inúmeras janelas, além de todo o resto, não lhe apeteciam.

Por ele, haviam ido embora dali há muitos anos.

— Vamos acabar logo com isso. — Disse a si mesmo, andando a passos largos até a porta do velho casarão restaurado.

Sua mão fechada pairou no ar por alguns segundos até que bateu.

Ainda podia desistir. Podia simplesmente virar as costas e ir embora. Porém, Antonella precisava dele. E ele precisava da mãe. Além do mais, havia se comprometido a tentar recomeçar.

A voz encorajadora de Karol ecoava em sua mente.

De longe, um corvo observava a cena. Com elegância, a robusta ave pousou no muro e levantou um pouco o bico; atento.

— Parece que todos ficaram surdos. — Javier ralhou ao abrir a porta. Sua feição sisuda se acentuou ao ver o filho caçula. — Ah, é você.

— Desculpa, não foi dessa vez que o Papai Noel veio te visitar. — Ruggero gracejou, entrando. — A mamãe está no quarto?

— Está.

— Beleza. Vou subir. — Ele deu alguns passos e parou, virando-se. — A não ser que eu deva pedir autorização. Tem que pagar pra permanecer aqui?

Com força, Javier fechou a porta.

— Você não cresce nunca, não é? E se for pra ficar falando besteira, melhor ir embora.

— Eu não vou. Essa casa ainda é minha.

— É aí que você se engana. — Rebateu o pai, cruzando os braços. — Essa mansão é minha. Eu mando aqui. E se você não quiser obedecer ou não concordar, pode voltar por onde veio. Não faz diferença.

Ruggero gostaria — gostaria mesmo — de já estar vacinado daquela dor, mas era difícil. Doía como se fosse a primeira vez.

A inflexibilidade do pai e o rancor em sua voz era cortante.

— Não se esqueça o senhor de que essa casa é da família da minha mãe. Sempre pertenceu aos legítimos Pasquarelli. E você só pegou esse sobrenome porque te convém. Ou seja, abaixa a bola, beleza?

— Olha aqui, seu moleque inconsequente....

— Eu não vou ouvir nada! O senhor não vai ficar me dando broncas, porque eu não sou mais uma criança, ouviu bem? E se te incomodar muito me respeitar, pode sair. Como dizem por aí, a porta da rua é a serventia da casa!

A Menina Raposa - Vol 2Onde histórias criam vida. Descubra agora