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"Se você gosta dela, se ela te faz feliz, e se você sente que a conhece — então não a deixe ir." — Nicholas Sparks.


Karol não pregou os olhos a noite inteira. Era impossível se esquecer dos escapulários e da emoção tão densa que fez seu coração pesar.

Era impossível explicar; apenas os queria. Queria aquelas joias.

E fora isso, tinha Ruggero...

Como ele sabia? Como os dois sabiam, para começo de conversa?

Vish! Pelo visto está no mundo da lua de novo. — Kyara brincou, passando pela irmã para ir se servir de um pouco de café.

Naquela manhã Bruno não havia ido acordar nenhuma das duas para o desjejum.

— Não dormi nadinha. — Karol explicou, bocejando. — Mas me diz, cadê o papai? Será que ele foi dormir muito tarde?

— Que nada. Passei rapidinho no quarto dele e, enfim, não é porque estamos meio brigados que eu deixo de preocupar. Porém, pelo tanto de remédio na mesinha de cabeceira, percebi logo que ele teve uma noite de cão.

— Aquelas dores na coluna, não é? Que inferno! Será que ele vai passar a vida inteira sofrendo por causa daquele maldito acidente?! O papai não merece isso!

— Karol...

— O engraçado é que aquele tal de Javier deve estar em casa pleno, sem sofrer nada. Um monstro! Sabe, às vezes parece que nem existe justiça divina!

— Não diz isso!

— Eu estou cansada, Kyara. Cansada! — Karol derrubou o resto do suco que bebia na pia e se virou. — Eu vou resolver isso. Aquele desgraçado vai pagar pelo o que fez com o nosso pai, você vai ver!

— De cabeça quente você não vai resolver nada. Além do mais, o papai não quer te ver assim. Para com isso.

— Você não entende. Eu não sou do tipo que aceita tudo e diz amém, Kyara. Perdão. Eu luto pelo o que acredito. E vou lutar sempre. E só vou sossegar quando o Javier Pasquarelli estiver na prisão.

Kyara tentou argumentar, mas Karol lhe deu as costas e saiu da casa. Nesses momentos a caçula de Bruno sequer conseguia vê-lo, pois tinha medo de deixar à amostra toda a sua ira.

E Karol não era de explodir assim, porém, o ódio por Javier era tão profundo que a cegava.

— Ei, bom dia! — Samuel guinchou ao vê-la. Ele já ia bater na porta da floricultura quando a ruiva a abriu de supetão. — Que cara é essa? Aconteceu alguma coisa?

— Desculpa, mas eu não quero conversar. Vou caminhar um pouco.

— Karol, espera, o que houve?

— O que houve, Samuel? O que houve é que um homem maldito e sem escrúpulos está por aí vivendo feliz da vida enquanto o meu pai definha de dor numa cama. Foi isso o que houve! E ah, tem mais, a minha família acha que é errado eu sentir raiva desse homem. Só que pra mim, errado é fingir que nada aconteceu e que o meu pai não está condenado a viver numa cadeira de rodas por causa de um abutre imbecil. Um criminoso!

Samuel notou que ela tremia enquanto gesticulava enfaticamente.

— Eu compreendo.

— Não. Você não compreende. Ninguém compreende! Todo mundo acha que eu estou sendo radical em remoer esse rancor, mas eu sinto muito, porque não posso me livrar disso. Eu não posso. Não aceito!

A Menina Raposa - Vol 2Onde histórias criam vida. Descubra agora