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"Se as pessoas fossem chuva, eu seria garoa, e ela um furacão."

 —  Quem é Você, Alasca?

Ruggero Pasquarelli

Eu nunca realmente achei que fosse possível ouvir um coração se quebrando,
mas eu ouço. É o meu coração.
E nunca doeu tanto ter um maldito coração.

— A gente precisa conversar, Karol. — Falo, mas sei que ela não quer.

Eu sinto que nada mais importa pra ela. É nítido. Cristalino como água.

Água. Eu podia estar submerso nesse momento, morrendo sufocado com as mentiras que criei. E enquanto eu me afogo na liquidez de meus sentimentos, Karol parece sólida como gelo. Uma grande geleira.

— Conversar? O que temos pra conversar? Nada do que diga vai mudar o que fez. Ou melhor, o que não fez. Porque você nunca foi sincero comigo, Ruggero!

— Me deixe explicar...

— Explicar o quê? Não tem nada o que dizer, cara. Acabou. Sua farsa já era.

Sacudo a cabeça com força. Quero correr até ela e agarrá-la pelos braços, prendendo-a na minha frente para que me ouça. Quero segurá-la perto de mim para que sinta o tamanho do meu arrependimento.

Contudo, não saio do lugar.

— Você é mesmo filho do Javier? — Kyara pergunta, parece atônita.

Eu viro a cabeça devagar e encaro Bruno. Ele parece decepcionado.

— Ele é. — É Karol quem responde por mim. — E além de tudo, é um mentiroso e um falso igual ao pai dele. Estão vendo? Eu nunca estive errada. Os Pasquarelli são pessoas ruins. Todos. O Ruggero mentiu pra mim, pra vocês, e só Deus sabe pra quantas outras pessoas. Porque é isso o que ele faz. Ele mente! Ele engana!

Desejo fortemente poder dizer que não, mas não posso.
Eu menti mesmo. Errei. Meti os pés pelas mãos.

— É melhor entrarmos. — Bruno diz, manobrando sua cadeira. — Esse assunto não vai dar em nada além de dor. Vá para casa, Ruggero.

— Vá e não volte nunca mais. — Karol enfatiza.

Eu nunca sonhei que um olhar pudesse ser tão letal, mas o dela é.
A forma como me encara, como me evita, como simplesmente me odeia, é o suficiente para abrir uma ferida no meu peito.

E de todos os momentos em que eu poderia ter notado, é naquele instante em que percebo o tamanho da minha paixão.

Ela é enorme. É a maior paixão que já existiu. Mas tal qual os escombros de uma casa velha, cada pedaço dela se desprende e vai me soterrando.

E vou perdendo o fôlego... a vida... o rumo...

— Eu tive medo de que você me afastasse. — Digo ao notar que ela vai me deixar sozinho na rua, que vai sair da minha vida. — Sim, eu errei. Errei pra caralho, Karol. Mas pelo amor de Deus, nunca foi a minha intenção magoar você. Eu queria te ajudar! Tudo o que eu estou fazendo é porque eu quero que você fique tranquila, que a sua dor acabe.

A Menina Raposa - Vol 2Onde histórias criam vida. Descubra agora