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"Alguns segredos nunca devem se transformar em confissões." - Collen Hoover

Kyara Sevilla

Segui Richard até a porta de uma casa que ficava no final de uma rua pouco movimentada. Não era tão longe da floricultura, dava para ir à pé até lá.

Ele me olhou rapidamente antes de pegar as chaves no bolso, porém, antes que a colocasse na fechadura, a porta se abriu.

Por um segundo ele ficou tão inerte quanto eu, mas no momento seguinte, abraçou a mulher que se atirou sobre ele, chorando copiosamente.

Eu olhei ao redor, mas pouco se via além de casinhas parecidas, pintadas com cores neutras. Um cachorro revirava o lixo do outro lado da rua, mas nada além disso.

O choro da mulher era o único som ali.

"Rich, finalmente! Eu tive tanto, tanto medo!"

"Mãe, o que houve? A senhora está tremendo."

A mulher ia responder, mas então me viu.

Eu pensei em recuar e dizer que iria esperar no carro, mas ela me fitou com tanta intensidade que eu não consegui falar nada.

Desviei o olhar por um instante, mas logo voltei a fitá-la.
Ela era muito mais jovem do que eu esperava. Sua pele negra como a de Richard era lisa e brilhosa. Seu rosto levemente arredondado parecia inchado no canto, perto do olho.

O lábio inferior estava sujo de sangue.

"Mãe!" Richard a sacudiu. "Mãe, fala comigo. Me diz o que aconteceu."

Como se saísse de um transe, a mulher abanou a cabeça e secou o rosto com as costas das mãos.

"Quem é ela? Quem a mandou aqui? Foi ele? Foi o Javier? Ela é família dele?"

"O quê? Como assim? O que diabo o Javier teria a ver com a Kyara?"

"Kyara." Ela ecoou, os olhos ficando menos intensos e mais calmos. "É a moça da floricultura de quem você falou." Não era uma pergunta, a mãe de Richard realmente sabia de mim.

Fiquei lisonjeada e tensa ao mesmo tempo.

" Sim, mãe, ela é. Mas agora eu preciso que me conte as coisas. Estou ficando maluco aqui."

Meio desnorteada, ela cambaleou para dentro de casa e nós a seguimos.

Não era um lugar muito grande, mas com certeza já teve dias melhores. Porque naquele momento tudo estava quebrado e virado para os ares.

A luz tremeluzia sobre nossas figuras chocadas.

"Mãe..."

" Eu preciso... preciso que me perdoe, Rich. Preciso que me perdoe..."

Eu vi os ombros de Richard se sacudirem sutilmente como se um calafrio tomasse seu corpo inteiro. Apoiei a mão em seu braço, mas ele parecia confuso demais para reagir.

O que quer que a mãe dele fosse contar, parecia que nenhum de nós queria ouvir.

A Menina Raposa - Vol 2Onde histórias criam vida. Descubra agora