Amor Sangrento

Capítulo LXXX - Amor

Wandinha Addams

   Não demorou.
   Mais dois dias se passaram como um trem e nós quatro tínhamos nos mudado para a residência de Tyler Galpin. Enid tinha acabado de retornar como um saco de cansaço da viagem que havia feito para acompanhar o melancólico e injusto enterro do irmão mais velho. Meu coração perde um pouco da força quando paro para pensar da dor que deve assolar seu coração alegre, mas não sinto mais aquela culpa que intensificava meus sentimentos ruins. A verdade veio para me libertar de mais essas algemas.
   A casa - que Tyler insiste em dizer que também é minha- era obviamente menor que minha antiga morada, afinal, não tem porque ser maior do que o necessário. A fachada é extremamente linda, um colírio de tijolos empilhados numa aparência moderna e contemporânea para meus olhos. Uma sacada... Paro meus olhos nesse detalhe. Não temos janelas no andar de baixo, apenas a grande porta de vidro no segundo andar e duas janelas - uma de cada lado- da sacada. Devem ser de outros dois quartos.

— Uau... - Enid balbucia atrás de mim e de Tyler. — Gente... essa casa é linda! Me deixem morar com vocês?

— Só por um tempo! - Tyler alerta, se virando para trás e oferecendo um sorriso brincalhão para o casal.

   Não sei o motivo pelo qual meu cérebro enlouqueceu, juntamente com meu coração, mas... Não consigo parar de reparar em como meu amigo/namorado é atraente, lindo e impressionante. Efeitos colaterais de se estar apaixonada, será? Mas acho essa sensação extremamente esquisita e muitas vezes perturbadora a nível de fazer meu estômago se revirar sem parar.
   Tudo é questão de costume, como andar de bicicleta, quando eu aprender a conviver com isso, vai soar tão normal que não vou nem mais notar as picadas de incômodo que podem vir a me atacar.

— Bom, a casa está parcialmente mobiliada, podemos mexer se quisermos, comprei a cama de todos os três quartos e vocês dois podem escolher entre qual das duas opções vão querer ficar: O quarto da direita ou da esquerda. - Tyler explicou para Enid e Ajax, que assentiram, tomando todas as informações.

   Sem mais enrolar, as mãos de Tyler encostaram na maçaneta praticamente de gelo e abriram o portal para a beleza daquele espaço. Móveis modernos, luzes calmas e reconfortantes, paredes cinzas e brancas... Muito para processar. Meu olhar correu uma maratona fazendo o inventário de cada canto daquele lugar que chamaria agora de minha casa. Faltaram alguns acessórios mais soturnos, como candelabros, estátuas estranhas ou caules de rosa sem flores espalhados por uma mesa aqui ou ali. Já que seria minha casa também, seria ótimo se possuísse um pouco da minha alma.
   Ajax e Enid ficaram ainda mais em choque com o interior da casa. Seus queixos foram parar no chão. Por mais que eu estivesse impressionada com a beleza de tudo, preferia esconder tudo por baixo da minha costumeira expressão séria.

— Ah! Nossa esse lugar é impressionante! - Ajax exclamou, perdido nos mínimos detalhes de cada parte dali.

— Demais! Mas, eu vou deixar minha empolgação para amanhã, porque agora... - Sinclair soltou um bocejo preguiçoso de sua boca. — Estou absurdamente cansada! São 00:15, a neve começou a cair lá fora e eu me sinto um saco vazio...

   Enid caiu no ombro de Ajax. O górgona segurou a garota praticamente morta, nos braços, pediu licença a mim e a Tyler e subiu as escadas que ficavam de frente para a porta, encostada na parede, reta e não muito longa.

— Gente, eu vou tentar achar o quarto, se não se incomodam. - Petropolus disse, com Enid quase fechando os olhos nos braços do namorado. A loba sorriu um pouco e abriu mais o seu olhar para o garoto que a mantinha segura. Estava muito apaixonada.

— Claro, fique à vontade. Nós já vamos subir também. - Tyler permitiu.

— Boa noite, gente. - Enid sussurrou.