Capítulo CIII - As últimas verdades

242 15 142
                                    

Wandinha Addams

   As paredes mudam de cor. E por mais que o branco represente a paz, meu corpo só sente isso quando olho para a cor cinza das paredes de minha casa. É como um aroma doce invadindo minhas narinas e relaxando meu cérebro de prazer.
   Tyler passa seus olhos pelo cômodo como se jamais tivesse entrado aqui antes. Há um brilho em seu olhar que me faz sorrir.
   Sorrir.
   Mas sorrir mesmo. Um sorriso brilhante e sincero que revela meus dentes. Um sorriso sem nenhuma malícia ou sarcasmo.
   Não sabia que era possível ver os olhos dele se iluminarem mais, mas se iluminaram.

— Wan... Você está sorrindo. É você mesma? Você é a minha esposa mortífera?... - pergunta, sem conseguir desviar o olhar de mim.

   Meu sorriso perde um pouco da intensidade. Não consigo manter essas expressões por muito tempo, não fui feita para isso...
   Sinto meu coração explodir de paixão ao vê-lo se encantar com um simples gesto meu.
   Eu me aproximo dele e me estico um pouco para poder beija-lo. A sensação de estar tocando em seus lábios com os meus é inebriante. Minhas mãos agarram seu pescoço, enquanto sinto as dele em meu rosto e em minha cintura. Meu corpo esquenta... Mas antes de virar um incêndio, nosso beijo se encerra. Mesmo assim, minhas bochechas insistem em ser devoradas pelo fogo.

— Você não sabe... Mas eu já sonhei muitas vezes com você sorrindo desse jeito tão sincero para mim. - sussurra. — Achei que seria impossível arrancar um desses de você.

   Eu beijo seu rosto e me afasto. Suas palavras ecoam na minha mente. Sorrir é complicado, mas não impossível. Se Tyler queria tanto que eu sorrisse para ele, por que não me pediu? Eu teria entregue a ele. Mas não seria totalmente verdadeiro... Nem encontro palavras para responder a essa fofura, por isso não digo nada sobre tal ato.
   De repente sinto minha boca secar um pouco, então percebo que de fato não bebo nada há um bom tempo. Não deve fazer muito bem para meu filho. Junto o útil ao agradável:

— Tyler, estou com sede. Por que não vai até a cozinha e me trás algo para beber? Aproveite e explore sua própria casa.

— Claro. O que você quer beber, esposa?

— Sangue. - minha resposta é real. Estou com muita vontade de tomar sangue... Não sei se são esses os tais desejos de grávida... mas eu quero.

   Tyler se surpreende com a minha resposta. De todas as opções, aposto que essa era a que ele menos considerava possível.

— Mas Wand... Como eu vou matar um animal ou pessoa agora? Também estava a fim de beber um pouco de sangue... - Tyler murmura, sonhador.

   Eu me animo com a resposta e deixo que um sorriso maldoso molde meus lábios.

— Não sei se beber sangue iria afetar nosso bebê. - comento, levemente chateada. — Então vamos esquecer o sangue por enquanto. Quero leite.

   Meu marido quase zomba de mim, sorrindo como uma criança travessa.

— Wandinha, primeiro você pede sangue... E agora pede leite? Há um contraste muito grande entre as duas opções. Mas, sim. Vou te trazer leite. - o carinho em sua voz chama minha atenção.

   Tyler já estava indo para a cozinha, quando minha voz ecoa em seus ouvidos:

— Pode colocar café coado no leite?

   Galpin se vira na minha direção com o senho franzido. Sei exatamente o que se passa na cabeça dele agora... Também me lembro.

— Mas você não disse outra vez que...

— Quero experimentar. Só um pouco. Não exagere. - corto.

   Meu marido dá de ombros e vai até a cozinha atender ao meu pedido.
   Depois de quinze minutos, Tyler me entrega a caneca quente de leite com café. O cheio é... atraente. O aroma se espalha pela sala, e o vapor dança sob meus olhos.
   Ele se senta ao meu lado no sofá e fica me encarando, à espera da minha opinião sobre a bebida. Mas seu olhar já não brilha tanto quanto antes, está embaçado por uma névoa de confusão. Névoa que eu identifico facilmente.

Amor SangrentoOnde histórias criam vida. Descubra agora