𝐂𝐚𝐩𝐢́𝐭𝐮𝐥𝐨 𝐗𝐋𝐕𝐈𝐈 - 𝐎 𝐢𝐧𝐢́𝐜𝐢𝐨

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   A noite caiu após um dia exaustivo, repleto de preparos, decorações, recordações, diversos momentos em família e pura purpurina.
   Tyler quase teve sua vida tirada por Feioso e Wandinha duas vezes em um curto período de 3 horas. Acidentes decorativos. Apenas um globo de luzes quase despencou em sua cabeça e uma faca passou raspando em seu braço, a lâmina não chegou a tocar em sua pele mas sentiu o vento da lâmina correndo bem de perto.
   No final a casa ficou linda como um bolo de aniversário trabalhado em enfeites e pedras negras cintilantes. Algumas abóboras davam um destaque mais colorido de laranja nos cantos da casa, esbanjando luminosidade e ainda mais terror. A estrela da noite, Vovó Addams, se arrumava em seu quarto assim como todos faziam em seus aposentos.
   Wandinha se complicava para fazer um penteado bem feito e deixar cada traço de seu rosto pálido ainda mais belo ao seu ver. Por mais que não gostava nada da ideia de se arrumar, sua avó merecia ver um pouco do fruto de seu esforço para agrada-la. 
   A parte mais importante de seu visual era o magnífico vestido preto que a acompanharia a noite inteira. Tinha uma saia longa, leve e cheia de camadas de tecidos finos transparentes na cor preta. Mais acima em seu busto, pedras negras e retalhos faziam o complemento ideal para a saia. E como se fosse a cereja do bolo, o vestido era fechado da parte do decote até o pescoço com mais um tecido preto transparente que terminava em uma gola também negra. Os ombros eram decorados com as mesmas pedras e retalhos usados no busto e no início da saia, os braços da gótica ficaram livres sem incômodo pela falta de mangas. O vestido era incrível. Incrivelmente espetacular e tenebroso.
   Se olhava no reflexo do brilhante espelho procurando algum defeito para arrumar. Desde o coque até o seu tão odiado salto alto que nem aparecia graças ao comprimento do vestido. Estava aparentemente perfeita, seguindo os padrões da festa elegante do Dia das Bruxas Família Addams, a risca.
   Parou de explorar uma caixa de acessórios quando batidas na porta foram ouvidas por ela. Largou calmamente seus itens, e caminhou até a porta sem saber quem esperar por trás dela, como uma verdadeira caixa de surpresas. Abriu sem mais demora e encontrou ele os olhos claros dele a encarando surpresos no mesmo instante que a viram. Tyler estava sem palavras. Seu semblante estava completamente admirado. Era a visão mais linda que já tivera o prazer de contemplar em toda a vida.

—Tyler? - Wandinha questionou, e com sucesso conseguiu acordar o garoto do sonho. — O que está fazendo aqui?

— Wandinha... você está a pessoa mais linda que esse mundo já viu. Meu Deus... Você está simplesmente perfeita. - seu elogio foi escapando pela boca. Não conseguiu impedir que as palavras saíssem a tempo.

—Ahm, obrigada? - limpou a garganta antes de analisar ele desta vez. Tinha que concordar que ele também estava muito lindo em seu terno escuro junto com o resto de sua roupa que acompanhava o mesmo tom na calça e sapatos, exceto pela sua camisa que era branca. Seu cabelo estava arrumado da forma mais perfeita possível. Simplesmente muito bonito.

— Respondendo sua pergunta, seu irmão e sua mãe me pediram para vir aqui, te acompanhar no que eu não sei ao certo.

— Ah, pode entrar.

   Os dois entraram dentro do cômodo e Wandinha voltou a mexer nas caixas dela. Tyler sentou no canto da cama admirando a beleza daquela mulher com os olhos quase sem piscar.

— Tyler, o que me recomenda usar como acessório? - disparou a pergunta apenas para jogar conversa fora, coisa que raramente fazia.

— Não sei... qualquer coisa vai ficar perfeita em você... - as palavras saíram leves, sem esforço.

— Ok, obrigada. - não deu tanta atenção, pegou um colar e começou a olhar atenta a peça buscando saber se ficaria boa ou não com seu visual.

— Ah... por favor casa comigo?... - Tyler murmurou baixo como um sussurro. Eram seus pensamentos tomando conta de sua boca no lugar da razão. Razão que se foi no mesmo instante que seus olhos se depararam com a jóia preciosa que Wandinha é.

— O que? - ela perguntou se virando para ele enquanto colocava no pulso sua pulseira de aniversário.

— Nada! Não foi nada! - nesse momento tentava recuperar nem que fosse um pouco da razão que já estava lhe fazendo tanta falta. — Vai usar a pulseira que eu te dei?

— Vou, é uma boa ocasião para usá-la.

— Ficou incrivelmente mais linda do que antes.

— Pode parar de me elogiar, Tyler. - conhecia a si mesma, e sabia que se ele continuasse daqui a pouco estaria tão vermelha quanto um tomate. Um elogio ou outro era fácil de suportar, agora três, quatro ou cinco... teria que aguentar firme para não dar ouvidos e deixar com que seu coração escutasse.

   Ele estendeu a mão na maior elegância contra ela. Hesitou por segundos. Fazia contato ou não com ele? Decidiu por fazer. Encaixou sua mão mortal na dele e recebeu um sorriso vindo de Tyler como recompensa.

— Faria o prazer de me acompanhar nesta noite tenebrosa? - Galpin chegou perto do ouvido da gótica para fazer o pedido, colando seus rostos de lado.

— Aceito. - as palavras uma vez soltas, não voltam mais. Agora Wandinha desejava poder voltar no tempo e manter as letras aprisionadas em sua garganta, tudo por medo do que o futuro reserva com a decisão que tomou.

   Tyler descolou seu rosto do dela para trazer sua mão até os lábios, onde depositou um beijo com intensões desconhecidas. Sentiu uma corrente elétrica passar da sua mão até os pés arrepiando seu corpo inteiro. O beijo na mão teve uma influência estranha sobre ela, mas passou a vida inteira escondendo os sentimentos atrás de uma máscara, por isso ele não notou que a deixou diferente por dentro com o toque superficial.

— Você está uma princesa.

— Se sente melhor agora? - ela pergunta mirando os olhos nos dele e ignorando completamente o elogio feito.

— A que se refere?

— O monstro. Não sente ele?

— Não agora. - Tyler não sabia se deveria sentir alívio ou ansiedade por estar sujeito a aqueles sentimentos dominando seu ser a qualquer momento.

— Melhor assim. Minhas olheiras estão aparentes?

— Se estão, também fazem o papel de te deixar ainda mais bela.

— Se me elogiar denovo me responsabilizo por estragar toda a sua roupa e seu visual aceitável nessa noite, com as minhas próprias mãos. - usou o tom ameaçador com o qual simpatizava tão bem. A energia das palavras ditas daquela forma combinavam perfeitamente com sua expressão e o seu eu-interior. Seriedade, corte, morte. Tyler recuou.

— Você está parecendo uma barata, uma aranha morta, está ridícula.

— Recomendo fechar a boca. Não me elogie e não tente me fazer o contrário de elogiar também. Só fique quieto.

— Pode deixar! - sorriu mais uma vez com as atitudes excêntricas da garota.

   Juntos, caminharam a passos rápidos até a sala.

Amor SangrentoOnde histórias criam vida. Descubra agora