𝐂𝐚𝐩𝐢́𝐭𝐮𝐥𝐨 𝐋𝐕𝐈 - 𝐉𝐮𝐧𝐭𝐨𝐬

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   Se sentou em uma das tantas cadeiras de madeira envolta da mesa da cozinha. Xavier limpava seus ferimentos com todo o cuidado possível para não machucar mais do que estava machucada. A carne aberta dela, trazia a ele uma sensação tão ruim de culpa por não ter conseguido a proteger... não tinha como fazer nada, mas mesmo assim o amor abafado - abafado para impedir que trouxesse mais problemas para ele e o resto do mundo - que sentia por ela o entregava a obrigação de sempre a defender e guardar.
   No entanto nada poderia ter sido mais doloroso para Wandinha do que saber que para manter a vida de quem amava teria que destruir a de seu amor. Nem as facadas e os sentimentos de raiva conseguiram superar a dor da ferida amorosa. Divina foi esperta. A desprezível garota esperou que os dois assumissem uma paixão, para em seguida desmanchar a conexão entre eles da forma mais dolorosa possível. Seria bem melhor se ela atacasse quando os dois ainda não tinham experimentado o gosto doce da liberdade de amar, mas, é claro que ela esperaria o tempo que fosse só para aplicar o golpe do jeito mais fatal possível, fosse agora ou meses depois. A doçura de amar é tão viciante! Isso era um ponto positivo para a sereia. Como Wandinha e Tyler conseguiriam aguentar?!  Seus olhos arderam só de pensar no que teria que fazer... e era sério. Com certeza a sereia a espionaria - como sempre andou fazendo secretamente- para conferir se ela faria o ordenado. Seu coração errava as batidas enquanto as lágrimas caíam por cima da carne exposta. Queria poder segurá-las, principalmente porque estava na frente de Thorpe, e na de não se imaginava quantas câmeras.

— O que ela te fez? - sussurrou secando a lágrima salgada pela decepção da amiga.

— Não... não foi... É só... que eu estou... O Tyler... - pensou por diversas vezes em uma mesma frase se revelava ou não, e se revelava, o quê soltava? 

— Ele? Aquela puta quer impedir que fiquem juntos, né? - era o mais óbvio a se pensar. Era a única ligação existente entre ela e a sereia, pelo menos a que todos sabiam existir.

   Wandinha concordou levemente com a cabeça, retomando a dor dos ocorridos...
   Xavier sentiu repulsa pela sereia, raiva por ela ser assim tão baixa!

— Qual é o problema dela? Será que ela é possessiva? - disparou enquanto passava o algodão pelo corte já limpo no rosto da gótica. Depois passou para o braço, o sangramento parava de derramar como antes.
 
   Thorpe continuou a fazer o curativo.  A garota esbanjou confusão com as palavras ditas sem a maior importância por ele... Xavier literalmente questionava se a sereia tinha algum problema com o relacionamento dela com o barista, com total indiferença na voz. Era questão passada?  Ele não odiava o Tyler há um tempo atrás? Não odiava a ideia dela estar namorando com o monstro?

— Xavier, achei que não gostava do Tyler comigo. - murmurou intrigada.

   Ele revirou os olhos.

— Exato. Mas eu tenho que superar, pelo menos tentar. Ainda acho que você merece coisa melhor. Mas mesmo depois do nosso beijo, você não sentiu... nada. Olha, não quero falar sobre isso. - tratou de fugir. Jogou os materiais sujos e usados no lixo e guardou os outros de volta no armário. Com esse intervalo esperava que ela entendesse.

— Também não. - Wandinha respondeu. 

   Xavier respirou aliviado. Voltou a se sentar na frente dela. Parou para olhar para os olhos escuros e entristecidos da amiga. Certamente esses efeitos melancólicos estavam sendo causados pela reflexão que fervia como lava na cabeça dela.

— O que vamos fazer? - Xavier perguntou, esperançoso por uma resposta minimamente positiva. Era possível ouvir seu desejo por uma saída! Estar sobre o controle da sereia para ele não era uma opção. Qualquer coisa que soasse como uma alternativa seria rapidamente abraçada por ele, não importava o que fosse. Infelizmente, a resposta tristonha da amiga o deixou sem as últimas esperanças que tanto gostava de manter junto a si.

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