1 - Lembranças

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Segunda-feira, 18 de maio de 2022 | 7:48am

Luiza's Voice:

Sinto uma mão sacudindo meu peito e uma voz nada sutil no fundo urrando o meu nome.

- Luiza, acorda! Já são 8h, você já está atrasada.

Era a Monalisa. Abro os olhos lentamente e me deparo com a minha segunda mãe, a nossa governanta, provavelmente me dando bronca por ter bebido demais na noite seguinte, aliás, o que eu fiz ontem? Deveria ter bebido menos, a dor de cabeça era incessante, cada parte do meu corpo pesava, minha boca estava completamente seca e eu não conseguia captar uma palavra que ela falava.

- Calma, Mona! Pra que essa gritaria toda? Minha cabeça arde. - Falei ainda com uma voz embargada de sono e cansaço.

- Isso que dá encher a cara, mocinha. Vamos, levanta, você está atrasada. Sua mãe vai te dar bronca.

Levantei desesperadamente com a gritaria da Monalisa, olhava os cantos do meu quarto com cada peça de roupa espalhada pelo chão, rapidamente olho por baixo dos lençóis e percebo marcas de machucados na minha mão e na minha barriga. Coloco as mãos na cabeça, arregalo meus olhos e continuo me perguntando: o que eu fiz ontem?

Desviei meus pensamentos e fui me arrumar para o trabalho. Já imagino a falação da minha mãe. Felizmente ou infelizmente sou a chefe de departamento de uma rede de hotéis, uns dos mais cobiçados do Rio de Janeiro e do Brasil. Não precisava me preocupar com horário. Mas, por outro lado, tinha que seguir a disciplina de manter a boa postura e pontualidade para minha mãe que me colocava contra a parede todos os dias naquele ambiente.

Peguei meu carro e fui sem comer nada, apenas bebi uma água, literalmente não descia nada pro meu estômago. Chego no hotel sendo recebida pela minha mãe, dou um breve suspiro enquanto a observo na minha frente.

- Bom dia, atrasada. Como sempre. Já separei os contratos que devem ser analisados na sua mesa, quero eles prontos até 12h.

- Bom dia, mãe. Tudo bem com você? Ah, comigo tá tudo bem também, obrigada por perguntar. Como sempre muito preocupada comigo. - Falo num tom ríspido e com ar debochado, pra complementar o meu dia, ainda teria ela pra me tirar do sério em plena segunda-feira.

- Não tenho culpa se a bonita enche a cara e se atrasa pros compromissos, Luiza. Aprenda a ter responsabilidade. - Percebo o tom irônico dela.

Revirei os olhos e dei meia volta pra ir embora da sala da minha mãe que era a tal famosa presidente do Harmony Hotel quando sou interrompida por uma fala distante dela.

- E a propósito, estou bem, minha filha. Sendo muito bem responsável como sempre. Tenha um bom dia.

Arfo de ódio e saio da sala batendo a porta com a maior força que tinha nos braços naquele momento. Assim me dirijo a caminho da minha sala enquanto me perco nos pensamentos ignorando tudo ao meu redor, era impressionante o quanto a minha mãe não tinha um pingo de empatia com tudo que venho passando, mas, nada novo sob o sol.

A minha relação com a minha mãe não era das melhores, ela não era uma pessoa má, sempre me deu tudo que quis, mas era bastante exigente e controladora. Eu, como uma jovem normal, gosto de liberdade e isso é motivo pra briga. Há alguns anos, eu decidi me libertar e curtir a vida como se não houvesse amanhã. Mas sim, talvez eu exagere um pouco as vezes.

Resolvo adiantar os contratos dos novos fornecedores já que tinha horário pra entrega pra dona Helen, vulgo minha mãe. Eu atualmente era responsável mais pela parte administrativa do hotel, mas claro, com meu jeitinho de ser resolvo me meter e dar opinião em tudo aqui, modéstia parte, o hotel melhorou muito depois que virei chefe.

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