Luiza's Voice
Ouvir a voz da Valentina me procurando na minha própria casa me tirou do eixo por uns bons segundos. Eu queria descer e correr até os braços dela. Fui covarde e não sabia mais como agir. Meu coração acelerava em um ritmo descompassado, minha boca secava a cada vez que eu ouvia a voz dela ecoar pelo vazio da minha casa.
Me senti completamente burra ao me dar conta de que eu estava afastando o amor da minha vida por algo que eu poderia contar. Mas eu não queria. Não até entender tudo. A Monalisa infelizmente tinha sido orientada por mim a não dizer a ninguém que eu estava em casa, queria fugir do mundo.
Passei o dia em casa para disfarçar e poder averiguar a vida da minha mãe sem a presença dela aqui, revirei todo o seu quarto mas não achava nada útil. Existiam muitos papéis, contratos e até rabiscos de poesia o que me fez ficar confusa já que aquela mulher só tinha dom para manipular. Continuava a busca e vejo de longe dentro seu closet o cofre que era dela e do meu pai.
Eu sabia a senha mas claro, ela deveria ter trocado. Sem esperança de abrir, digitei o ano do meu nascimento e bingo! Ele abriu. Lá tinha alguns papéis como testamento do meu avô, atestado de óbito, dinheiro, jóias, recibos e entre os papéis avisto uma passagem de avião agendada para o próximo mês com o destino "Porto - Portugal".
Me espantei ao ver o destino, afinal, era onde o pai da Valentina estava e supostamente com o atual namorado. Mas o que a minha mãe faria lá? E por que? Por que ela compraria passagem para um lugar onde hipoteticamente ela não seria bem vinda? Cada vez mais a minha curiosidade aumentava com o fato da minha mãe ser apaixonada pelo pai da Valen.
Tirei fotografia da passagem e continuei buscando algo que fosse favorável contra ela além disso mas não achei. Avisto de longe uma caixa que o meu pai sempre usava para mostrar fotos da nossa família, sentei no chão com a caixa e abri com carinho. Nela continha diversas fotos minha quando era pequena, fotos deles dois juntos, fotos da nossa família. Não demorou muito para que uma lágrima escoasse em meus olhos e um sentimento de nostalgia manifestar-se sobre mim.
Achei uma foto minha e do meu pai em um dos pontos turísticos lá na Bahia. O meu pai sempre fazia questão de enraizar a cultura de onde eu nasci em mim, ele me levava em diversos lugares famosos, me oferecia comidas típicas, sem falar que sempre pedia para que eu tirasse fotos em cada passeio nosso e dizia que era "para registrar momentos de felicidade". Lembrar do meu pai naquele momento me confortava em relação a ter uma mãe completamente miserável.
Ao perceber que a dona Helen também estava nas minhas lembranças, disfarço e recordo no quanto eu precisava focar naquele momento. O que era difícil já que os meus pensamentos eram consumidos pela saudade que sentia da Valentina vez ou outra. Eu não posso acreditar que num ato impulsivo afastei a minha namorada por não saber o que fazer.
Peguei o meu celular e olhava enquanto pensava em algo, em seguida liguei para a Eduarda, certamente ela seria a única pessoa sã que me aconselharia a fazer o certo e eu querendo ou não, obedecia.
Como tinha decidido trabalhar em casa hoje, resolvo conferir alguns e-mails e adiantar o que tinha a ser feito. Soube através de um e-mail que a Laís tinha sido contratada e logo estaria assumindo sua função de minha secretária. Já a Laura, ainda ficaria trabalhando no hotel porém em outro setor até ela ganhar minha confiança novamente. Ou não.
Eu não sei como tinha sido a reação da minha mãe mas provavelmente ela faria um show quando chegasse em casa.
Ouço batidas na porta e uma voz animada percorrer os meus ouvidos. Obviamente era a Eduarda.
- Minha amiga baianaa!!! - Ela falava me abraçando.
- Meu Deus, Eduarda. Você é animada 24/48, né?
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ACASO
Aktuelle LiteraturLuiza e Valentina se conhecem no momento mais difícil da vida delas. Cada uma em uma fase diferente da vida, e o que elas menos precisam é de pessoas ao redor dificultando esse momento. O que não acontece. O que será que o acaso reserva pro destino...