4 - Trauma

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Luiza's Voice

Se não fosse aquela bendita buzina eu teria feito mais uma merda: Beijar minha funcionária. Se bem que pelo andar da carruagem acho que ela retribuiria, pareceu gostar do meu toque, nossas respirações transcendiam o desejo escondido. Talvez não fosse tão ruim assim, fora da nossa empresa, somos Luiza e Valentina. Aliás, que Valentina! Sinceramente, foi difícil resistir aquela mulher linda e com aqueles olhos hipnotizantes na minha frente.

O clima pesou durante o caminho até a casa dela, senti ela cada vez mais tensa provavelmente constrangida do que tinha acabado de acontecer minutos atrás.

- Me diz aí, o que tu gosta de ouvir? - Resolvi quebrar o gelo.

- Qualquer coisa. Me mostra algo que você gosta.

Coloquei Numanice da Ludmilla no som do carro e vejo ela se espantar ao ouvir, nós duas rimos juntas e eu cantava Maldivas enquanto percebia os olhares dela pra mim.

- Que foi? Achava que não tinha bom gosto?

- Digamos que com esse seu jeito achei que gostava de rock pesadão, etc...

- Engraçadinha. - Revirei os olhos enquanto focava minha atenção no trânsito.

- Como cantora, você é uma ótima chefe de departamento, dona Luiza. - Ela falava e ria ao mesmo tempo.

- Ai, que garota implicante, né gente?!

Depois de uns 20 minutos de trânsito, chegamos até o apartamento dela e eu fiquei pensativa, não queria perder tempo. Queria conhecer mais daquela mulher nem que eu tivesse que demonstrar mais do que já estava. Não pensei muito e resolvi dar o recado antes que fosse tarde demais.

- E aí, o próximo restaurante você escolhe? - Perguntei enquanto ela se direcionava pra sair do carro.

- Não tava sabendo que teria o próximo. - Ela falou segurando o riso.

- Terão muitos. Boa noite, Valentina.

- Uau. Boa noite, Luiza.

Ela acenou e em seguida sorriu pra mim, ali eu me desmontei. Não tava entendendo o que tava sentindo mas aquela mulher mexia comigo. Fiquei parada dentro do carro antes de me deslocar para minha casa por alguns minutos tentando absorver e entender meus sentimentos mas não obtive sucesso. Era tudo muito recente e minha cabeça estava ao ponto de colapsar cada vez que pensava mais.

Quando chego em casa, estranho não encontrar minha mãe, ela sempre estava em casa a noite, principalmente na sala, assistindo TV, lendo livro, ou até mesmo trabalhando. Imaginei que talvez ela tivesse ido dormir mais cedo hoje.

Senti um breve alívio por estar sozinha, apenas com a Mona que não me incomodava de jeito nenhum. Ficava no quarto dela pela noite e qualquer coisa que eu precisasse ela estava sempre atenta e disponível, mas claro, eu sempre deixava a mesma descansar. Subo até meu quarto e me deparo com a dona Helen na beira da minha cama segurando um retrato da nossa família, ou melhor, antiga família.

Fiquei revoltada ao ver aquela cena, e rapidamente me encaminhei até ela e peguei o retrato da sua mão com uma certa força.

- O que você ta fazendo aqui? Com isso? - Perguntei séria.

- Tava olhando essa foto e me veio tantas lembranças...

- O que você quer? - Continuei questionando sem tirar os olhos dela.

- Queria conversar com você, minha filha, eu sei que...

- Você veio me dar bronca de novo? Me cobrar algo? Isso é a última coisa que preciso. Pode sair. Eu não preciso de mais ninguém no meu ouvido! - Interrompi ela e a minha voz já estava em um tom bastante alterado.

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