ACASO

13 - Coragem

Valentina's Voice

O beijo com a Luiza hoje não tinha sido como os outros, apesar do nosso fogo quase incessante, eu senti um cuidado, um acolhimento da parte dela. Ela estava preocupada com o meu semblante e transmitia isso para mim. Ali, eu me encantei mais por aquela mulher, em pouco tempo ela conseguiu captar minha expressão de tristeza. Não poderia deixar de citar sobre a delicadeza dela em lidar, sem me pressionar, sem ser invasiva. Apenas respeitando o meu espaço.

Pude ver que ela não era apenas uma chefe que queria me pegar como ela disse e sim, aquela Luiza que eu gosto. Sem base, sem filtro, sem compromisso ou postura profissional. Uma Luiza que tinha todo apoio pra me dar e todos os ouvidos pra oferecer. Uma Luiza sem ter a mãe sendo a sombra dela.

Eu já estava com esse assunto engasgado e contar pra uma pessoa de fora que confio, me trazia acalento.

- Então... A minha vida familiar sempre foi muito boa, cresci numa família unida, onde tinha comemorações, presentes, carinho, amor. Tínhamos uma condição razoável, não igual a sua, claro.. - Eu soltei um riso fraco e ela me ouvia com atenção - Mas nada que se compare a hoje: eu e o Igor sustentando uma casa.

- Entendi... e o que aconteceu pra que chegasse nesse ponto? - Ela acariciava minha mão em tom de empatia.

- A minha mãe... E-eu era muito apegada a ela. Sabe quando uma pessoa é seu porto seguro?

- Não sei, mas eu imagino, Valen...

- Então, é aquela pessoa que era seu suporte pra tudo, éramos muito unidas, ela era minha melhor amiga definitivamente. Mas resolveu se envolver com coisas erradas...

Eu ensaiava um choro que estava novamente engasgado. Ela me abraçou de lado e me encaixou sobre seu corpo.

- E não, eu não sei que tipo de coisas. Eu e o Igor não sabemos de quase nada, só que ela se envolveu com gente que não presta e um dia foi pega.

- Nossa, que triste isso. Sinto muito, de verdade. Ela está presa ou já saiu?

- Está presa. Há dois meses. E o meu pai assim que soube disso simplesmente arrumou suas malas e viajou para Portugal sem ao menos dar um suporte para mim e para o Igor, sabe? Ele não faz questão nem de ligar. E ele ainda está namorando um...

- Um?

- Um homem.

Luiza arregalou os olhos, não conteve a reação de susto com o que falei, eu chorava e tentava desabafar com ela ao mesmo tempo. Tudo isso aconteceu há 2 meses atrás então eu ainda estava muito sensível com tudo. Mas eu sentia segurança nela e aquele abraço me desmontava.

- Meu Deus, Valen... Que falta de empatia com vocês isso de ir pra outro país. Agora consigo te entender um pouco mais. E a sua mãe, você costuma visitar ela?

- Eu só fui uma vez. Eu não consigo sabe, Lu? Uma mulher que era humilde, trabalhadora, uma ótima mãe, ótima esposa, do nada se envolver nessa vida sem ao menos pensar nos filhos. Ela não pensou no quanto a gente amav... ama ela.

Ela virou o corpo e me olhou fixamente. Segurou meu rosto com as suas mãos e abria um sorriso de lado que me acalentava por ora.

- Eu imagino o quanto é difícil pra você essa mudança drástica, foi algo do tipo com o meu pai, lembra? - Eu concordei com a cabeça. - Mas Valen, aproveita que ela está aqui, ela ainda pode ser o seu porto seguro. Tenta entender o que houve... Conversa com ela.

- Ela não fala. Ela oculta com medo de alguém, não sei... Isso me frusta demais.

Ela deu um longo suspiro e estava visivelmente tocada pelo que eu tinha acabado de confessar, eu me sentia leve por fazer isso com ela. Ela me dava o conforto que eu precisava. Ela não me olhava com pena, não me olhava em tom de julgamento, ela me olhava com carinho como se em um abraço pudesse me livrar de qualquer mal no mundo.