Prólogo

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23 anos antes dos tempos atuais

Enquanto as gotículas de chuva caíam implacáveis, elas pareciam formar um coro sombrio na calçada, um lamento que ecoava pelos becos da cidade. A noite, iluminada apenas pelos faróis dos carros que passavam esporadicamente, trazia consigo uma aura enigmática e desolada.

Os sons dos veículos se assemelhavam a um vento veloz, um sussurro inquietante que permeava o ambiente. Eram como fantasmas da cidade, movendo-se rapidamente através da escuridão, suas luzes desvanecendo na distância como almas perdidas. Os pneus deslizavam sobre o asfalto molhado, deixando um rastro de agonia auditiva por onde passavam.

Os postes de iluminação pública, em estado precário, emitiam uma luz fraca e intermitente, como se estivessem à beira da extinção. Suas sombras alongadas dançavam nas poças d'água, criando figuras monstruosas que pareciam se contorcer com cada relâmpago que cortava o céu. Era como se a própria cidade estivesse mergulhada em uma tristeza profunda, seus alicerces abalados pela tempestade.

As pessoas nas ruas, encharcadas e desesperadas, corriam em busca de abrigo. Seus passos eram apressados, como se fugissem de algo mais do que apenas da chuva. O pânico estava presente em seus olhos, refletido nas silhuetas trêmulas que se moviam pelas calçadas escuras.

O céu, nublado e escuro, parecia carregar o peso de uma tragédia iminente. As nuvens se contorciam em formas sinistras, como se estivessem prontas para desabar em uma torrente de lágrimas. Cada relâmpago iluminava o cenário, revelando um mundo momentaneamente distorcido e assombrado, antes de ser engolido novamente pela escuridão.

No mais sombrio recanto do beco, um homem solitário se encostava contra a parede de tijolos gastos, envolto em uma capa de chuva preta. O material impermeável parecia absorver a escuridão da noite, fazendo com que sua presença se tornasse quase invisível. O capuz repelia a água incessante que caía do céu, criando uma cortina de gotas que ecoavam em torno dele, tornando-as ainda mais altas do que o normal.

Com a cabeça abaixada, ele mantinha os olhos fechados, como se estivesse buscando refúgio na escuridão de suas próprias pálpebras. Seus braços estavam cruzados sobre o peito, formando uma barreira protetora contra o mundo exterior, um gesto de quem desejava se isolar da tempestade e das conversas indistintas que pairavam ao seu redor.

Enquanto as pessoas passavam apressadas, ele captava fragmentos de suas conversas como se fossem ecos distantes. Era como se ele fosse um observador silencioso, um fantasma que se misturava à paisagem urbana, e ninguém parecia notar sua presença. As palavras dos transeuntes flutuavam até ele, desconexas e sem sentido, como se fossem murmúrios de almas perdidas em meio à tormenta.

A luz fraca dos postes de iluminação jogava sombras obscuras sobre seu rosto oculto sob o capuz. Seus traços eram um enigma, uma silhueta sem contornos definidos, uma figura solitária em meio à escuridão. Era como se ele fosse uma parte esquecida da cidade, uma sombra esquecida pelos vivos.

Finalmente se desencostou da parede e começou a mover-se entre as pessoas que seguravam guarda-chuvas, a maioria deles negros, como se estivessem todos compartilhando da mesma tristeza. Ele se deslocava com uma leveza assustadora, como se flutuasse sobre o pavimento, uma presença tão comum que as pessoas o ignoravam por completo.

Caminhando por mais alguns quarteirões, ele deixou para trás a multidão e avançou em direção a um pequeno condomínio. A rua que subia o local era meticulosamente pavimentada, e as casas que a ladeavam exibiam sinais de riqueza. No topo do condomínio, erguia-se uma mansão imensa, silenciosa como uma tumba.

O homem se aproximou do portão de entrada e o empurrou, fazendo-o ranger de forma arrepiante. Um suspiro escapou de seus lábios enquanto ele respirava profundamente. Ele começou a andar pela estrada de pedrinhas que levava à entrada da casa. A grama estava perfeitamente aparada, um sinal de manutenção constante, contrastando com a noite chuvosa e sinistra.

Cibercrimeética - Jeon JungkookOnde histórias criam vida. Descubra agora