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Logo em seguida, trabalho em dupla.

Eu não sei se eu fiz alguma coisa digna de um castigo divino, mas depois de hoje, eu tenho certeza absoluta que a resposta é um sim.

Me aproximo da sala lentamente, com uma sombra de 1,60 atrás de mim. Respiro fundo antes de pedir licença ao professor de português.

Ele me encara com um olhar surpreso e repousa seus olhos na pequena atrás de mim.

- É uma entrada bem dramática para o primeiro dia, não acha? - vejo um sorriso simpático no rosto do professor.

Dou um passo para o lado, permitindo que a sala tenha visão da aluna nova. Olho para ela esperando uma resposta e vejo um rubor em suas bochechas.

Eu acharia adorável se ela não fosse encapetada.

Ela se aproxima lentamente da sala, analisando minuciosamente cada detalhe. Quando finalmente entra, vejo que muitos olhares se voltaram para ela.

A maioria de meninos. Idiotas.

- Por que não se apresenta para a turma? - O Sr. Anderson diz encarando a garota.

Clare caminha timidamente até o centro do cômodo. Vejo que ela está tremendo, não sabia que bruxa sentia medo.

- Meu nome é Clare Gutierrez, tenho 18 anos e me mudei recentemente para a cidade. Vou começar a estudar com vocês, então espero que possam ser gentis comigo. - Um sorriso tímido toma seus lábios.

Não acredito que ela sabe ser gentil! Estou levemente chocado, principalmente por não conseguir tirar meus olhos dela.

Procuro meu lugar nas carteiras. Quando acho, vejo um rosto conhecido o ocupar. Santos.

Como se o dia já não estivesse ruim o suficiente, o garoto mais insuportável e mimado da escola, filho do diretor, acabou de roubar definitivamente o meu lugar.

Merda, não posso atrasar por um segundo sequer.

Reviro os olhos com irritação, procurando outro lugar que esteja vazio. Vejo duas carteiras juntas, para minha felicidade.

Até perceber que eram as únicas disponíveis na sala inteira.

O que eu fiz para merecer isso?

- Seja bem vinda, Sra. Gutierrez! - O professor se aproxima e aperta a mão da mesma, com entusiasmo - Fico muito feliz de podermos desfrutar da sua presença. Você pode se sentar junto com o Sr. LeBlanc. Imagino que já se conheçam, então não vai ser problema para você, certo? - O mesmo aponta para mim.

Me seguro com tudo que tenho para não jogar todo o meu material na cara dele.

Clare mostra um sorriso forçado e caminha na minha direção. Quando alcança a carteira, senta lentamente enquanto encera o meu ser.

Pelo visto o descontentamento é recíproco.

Quando nos acomodamos nos nossos lugares, o Sr. Anderson retoma a explicação.

- Como estava dizendo antes, a escola está testando um novo método de ensino. De agora em diante vocês iram trabalhar com a dupla em que se encontram até o final do ano!

Sinto meu corpo se preencher de terror. O ódio claramente perceptível vindo da minha dupla assusta ainda mais.

Com certeza, se ela fosse uma vilã, destruiria essa sala inteira só com isso. Acho que esse é o famoso passado do vilão.

- Vocês irão permanecer assim durante todas as aulas. Não aceito a possibilidade de trocas! Vão ficar do jeito que estão. - Conclui o professor.

A sala resmunga, alguns entusiasmados e alegres, outros com cara de enterro.

Procuro meu melhor amigo e vejo ele extremamente feliz ao lado da namorada. Eu te odeio.

Ele olha pra mim com um olhar curioso e percebo o sorriso inocente em seus lábios.

Eu mataria ele da forma mais dolorosa possível, se não entendesse que ele é completamente cadelinha da namorada, que, também é minha melhor amiga.

Juntei os dois no ano passado. Não aguentava mais os olhares carregados de sentimentos, mas a ausência de atitude. Na primeira oportunidade que tive, imitei a letra dos pombinhos e deixei um bilhete para cada um revelando os sentimentos dos mesmos. Depois disso eles começaram a sair e não demorou muito para começarem a namorar.

Eu deveria ter uma estátua minha pelo esforço.

Tento não pensar muito no castigo que acabei de receber. Pego meu caderno e abro na continuação da matéria.

- Pelo menos a letra não é de médico, você é o primeiro menino que tem a letra melhor do que a minha. - Sinto olhos acinzentados fixados em mim.

- Eu sou bom no que faço. - Respondo com um sorriso enorme.

Encaro seus olhos.

Percebo que ela me encarava a um tempo, maluca.

Olho para o caderno dela na mesa, não faço ideia de quando ela tirou. A letra dela é realmente muito bonita, digna de ser chamada de impecável.

- A sua é aceitável, palmito. - Falo entre os dentes desviando o olhar para o canto da sala.

- Obrigado pelas palavras, chocolate. - Me forço a encarar a praga novamente.

- De todos os apelidos maravilhosos utilizando a minha cor, você vai me chamar de chocolate? - Fuzilo seu olhar com um ódio que eu não sabia ser possível sentir.

Vejo um sorriso diabólico surgir em seus lábios.

- Não gostou, chocolate?

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