XXIII

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Sinto um carinho nas minhas costas e não demoro muito para adormecer.

Quando acordo, ainda tenho Clare em meus braços.

Confesso que é uma sensação absurdamente gostosa.

Eu não faço ideia do que essa noite significou, mas espero que tenha sido algo bom.

Eu não estava esperando tudo isso.

Foi uma mistura de muitas emoções.

Não é todo dia que você descobre que quer pegar sua vizinha.

Nem que ela quer te pegar.

Não sei o que estou sentindo, não sei o que me causou, me sinto perdido nisso tudo.

Clare passou a me causar sentimentos inexplicáveis.

Até ontem, eu com certeza aproveitaria qualquer situação para jogar ela na frente de um carro e sorrir vitorioso.

Tenho certeza que ela também.

Como fomos disso para um beijo na minha cama?

Eu sinceramente não sei de mais nada.

Talvez nem queira saber.

Enquanto eu puder desfrutar disso, mesmo que me prive da resposta de um dia saber o que isso tudo vai se tornar, eu vou aceitar.

Deposito um beijo na testa da pequena e me aconchego, voltando a adormecer.

Acordo duas horas depois.

Clare ainda está dormindo.

Meu deus, ela devia ter me avisado com antecedência que ela hibernava.

Confiro se ela ainda respira e, quando obtenho uma resposta positiva, me levanto com cuidado o suficiente para não acordá-la.

Penso em tomar um banho, porém percebo que o cheiro dela está em mim e desisto da ideia.

Cachorrinho de mulher.

Vou até a cozinha e me deparo com uma Luise e um Daniel me encarando como se fossem repórteres esperando um furo fantástico.

- Fomos no quarto da Clare mas não encontramos ela lá, pode me explicar o que aconteceu ontem, Gabriel? - Lu exige em um tom mandão, batendo os pés no chão.

Eu falei! Esses não são meus melhores amigos, são repórteres disfarçados.

A globo está perdendo.

Olho para meu amigo em uma súplica silenciosa.

Ele me encara da mesma forma.

Respiro fundo.

- Clare estava com medo de dormir sozinha e dormiu no meu quarto. Aconteceu da gente se beijar e dormir junto, nada de mais. - Dou de ombros e me dirijo a cozinha, pegando uma banana.

- COMO ASSIM NÃO FOI NADA DE MAIS? - Os dois gritam juntos e correm em minha direção, quase me derrubando no chão.

Com certeza o bairro inteiro ouviu.

- Acontece nas melhores famílias! - Desvio o assunto.

Os dois riem tentando assimilar tudo que aconteceu.

Ficamos um tempo jogando conversa fora antes de decidirmos que já estava na hora do almoço.

Rapidamente nos juntamos e fazemos uma lasanha.

Como se fosse um ser movido pela comida, Clare aparece no topo das escadas olhando fixamente para a cozinha.

Seus olhos percorrem todo o cômodo antes de pararem exclusivamente em mim.

Ela abre um sorriso.

Eu devolvo um maior ainda.

Almoçamos todos juntos enquanto tentávamos decidir o que faríamos no resto do dia e no domingo.

Optamos por maratonar Harry Potter.

Quando terminamos de comer, arrumamos a bagunça e meus melhores amigos saem para comprar besteiras e sorvete.

Aproveito a oportunidade para conversar com Clare sobre tudo que aconteceu.

- O que significou aquilo? - Falo sem jeito, evitando encarar seus olhos.

Ela segura meu queixo com delicadeza e faz meus olhos irem de encontro aos dela.

- Não posso te falar que isso vai se transformar em algo no futuro, só fiz algo que eu estava com vontade a alguns dias. - Releva enquanto me encara com um brilho no olhar.

Se antes eu já estava perdido, agora então nem se fale!

- Explica direito! Você sabe que eu sou meio lerdinho. - Falo cabisbaixo e recebo uma risada como resposta.

Como assim a alguns dias?

- Eu queria te beijar desde o dia do piquenique. O jeito que você foi delicado comigo e com toda a situação acabou girando uma chavinha na minha cabeça. Não quis admitir por um tempinho! Não acreditava que de todas as pessoas existentes, queria beijar logo você. - Ela faz uma pausa dramática.

E quase me mata no meio dessa pausa.

Não sei dizer se o meu coração está batendo tão rápido que eu não estou sentindo, ou se ele simplesmente não está batendo.

- Ignorei tudo que aconteceu até você ter demonstrado ciúmes ontem a noite, aquilo foi a confirmação que eu precisava. Além de achar extremamente fofo, fiquei feliz por saber que era recíproco. - Concluiu, segurando minha mão.

Antes que eu pudesse dar uma resposta, a campainha toca.

Abro a porta e meus pés não saem do lugar.

- Sentiu saudade, Biel?




(Adm tava meio tristinho hoje, mas veio trazer esse capítulo absurdamente impecável para vocês! Não me matem pelo próximo. Beijinho!)

Querida vizinha.Onde histórias criam vida. Descubra agora