II

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QUEM FOI A FILHA DA PUTA QUE FALOU ISSO?

- Pelo visto você esqueceu a educação em casa. - falo alto o suficiente para meio quarteirão ouvir.

Ouço passos rápidos e em instantes sinto algo cair em meu colo, meus óculos! Glória! Eu já falei que eu amo meus óculos? Perfeitos.

- Vê se toma cuidado da próxima vez, ceguinho! - A até então pessoa desconhecida fala com uma risada sínica.

Palhaça.

Coloco meus óculos para saber como xingar o alecrim dourado, quando percebo uma certa familiaridade no corpo. Não brinca.

Acabo de descobrir que a minha vizinha nova é totalmente o oposto do que a casa dela me fez pensar.

- Acho que você esqueceu os bons modos na mudança! - Abro um sorriso de orelha a orelha.

Ao menos é bonita! Pena que o que tem de beleza, pelo visto não tem de educação.

Vejo o sorrisinho que ainda estava depositado em seus lábios sumir mais rápido do que o meu na copa de 7x1.

O sorriso em meus lábios aumenta mais ainda.

Ela se aproxima rápido o suficiente para me assustar, ficando a um palmo de distância.

Seu olhar claramente me fuzila com o ódio de metade da população brasileira. Começo a pensar se ela já não matou um ser humano na vida, é impossível conter esse ódio todo nesse corpinho de aparentemente 1,60 levando em consideração os meus humildes 1,83.

Encaro seus olhos que, acabo de perceber que são de um tom acinzentado. Nunca tinha visto olhos dessa cor antes, confesso que são hipnotizantes. NÃO VOU ME DEIXAR LEVAR!

Ela aponta o dedo na minha cara e solta em uma velocidade inacreditável.

- Cuida da sua vida, idiota!

Eita, certeza que tem daddy issues!

Desço o meu olhar analisando o projétil de ser humano que se encontra na minha frente. Olho seu rosto, me deparando com sardas extremamente adoráveis! Sua boca tem um tom tão avermelhado que eu facilmente acredito ser artificial.

Seus cabelos cacheados em um tom ruivo caem em seus ombros e se encerram em pontas pretas, logo abaixo do peito, ela contém uma pele clara e aparentemente um corpo divinamente escupido, não que eu tenha olhado isso.

Percebo um tom de cores familiares demais para o meu gosto.

Não creio. Não, não, não.

- Não me diga que você estuda na escola no final do quarteirão. - falo com desgosto na voz, fixando meu olhar no seu.

- Era a única que tinha vaga.

Eu mereço! Devo ter jogado pedra na cruz!

Respiro fundo e quebro o nosso contato visual, tenso o suficiente para calar um estádio inteiro. Começo a me mover em direção a escola, ignorando completamente a existência desse ser maquiavélico.

- Você vai se atrasar logo no seu primeiro dia? - Olho para ela de relance, que pega o celular desesperadamente para conferir as horas.

7:10

- Merda! - Vejo ela iniciar uma maratona até a escola.

Prefiro não avisar que ela não vai chegar a tempo e que, ela só entra no segundo horário agora. Me divirto vendo a menor correr.

Caminho lentamente até meu destino, me preparando para mais um dia no hospício público.

Quando chego, sinto um olhar me massacrar.

Acho que alguém correu atoa, gargalho mentalmente.

- Curtiu seu caminho até aqui, Sra. Vizinha?

Querida vizinha.Onde histórias criam vida. Descubra agora