- Você está fudida.
Fico em cima de Claire, prendendo seus braços acima da cabeça, minhas pernas prendendo seu corpo.
Não sei descrever a reação do ser embaixo de mim.
Se ela era branca, agora ela transcendeu.
Acho que, de duas, uma! Ou ela viu um fantasma, ou, eu sou realmente MUITO gostoso.
Creio que seja a segunda opção, claro.
Dou um sorriso ainda maior que o anterior.
Começo a fazer cócegas em Claire, sem dar abertura para uma possível defesa.
Essa com certeza foi minha maior vigarice!
Ninguém consegue fugir dessa armadilha cruel.
Com toda a certeza do mundo, deve ser possível matar alguém dessa forma.
Como cheguei nessa conclusão? Simples, ela está mais vermelha que um tomate.
Será que se eu continuar, ela vai explodir?
Recebo uma joelhada entre as pernas como resposta.
Puta.que.pariu.
Meu deus, acho que vou morrer.
Me jogo em cima de Claire, fazendo birra.
- Você vai me castrar desse jeito! - Faço voz de choro e levo minha mão bem no ponto que ela bateu.
Meu adorável órfão reprodutor, porra!
- Como ficam nossos futuros filhos? - Começo a me mexer, tentando inutilmente amenizar a dor.
Meu deus, eu não vou mais ter miniaturas minhas.
- Você estava tentando me matar! - Grita indignada.
Eu achava que eu era dramático, mas achei alguém que me supera em níveis estrondosos.
Eu esteja inocentemente cutucando a onça com vara curta e agora a onça está fazendo DRAMA?
Acho que o ditado está errado.
E só para constar, minha vara não é curta.
Deito em seu peito, deixando meu corpo relaxar.
- Cafuné. - Falo baixinho enquanto me aconchego.
- Manhoso. - Sinto sua mão em minha cabeça.
- É o mínimo que você pode fazer depois de acabar com os meus sonhos de expandir meu legado. - Falo enquanto desenhos pequenos círculos imaginários em seu corpo.
- Nem doeu tanto assim, vai! - Ela tenta se justificar.
Claro, vagabunda, nem doeu tanto assim.
Vou te jogar desse sofá para você ver se você é imune a dor também.
Nego com a cabeça desacreditado e dou um beliscão na mesma como resposta.
Acho que, nessa relação de amor e ódio, o ódio ultrapassa o amor.
O engraçado é que, não faço ideia de como explicar o que sinto quando estou com ela.
Meu coração acelera, ao mesmo tempo que acalma.
Vou deixar a boiolagem para os filmes clichês da Netflix.
Peter Kavinsky, esse lugar é todinho seu, cara.
Não sei quem dormiu primeiro, só sei que dormimos juntos.
Acordo com algo gelado na minha nuca.
Eu devo ter jogado pedra na cruz!
- Que porra é essa? - Falo sonolento, tentando e falhando miseravelmente em entender a situação.
Ouço duas risadas maquiavélicas.
Babacas.
Abro os olhos e vejo que Claire está tão perdida quanto eu estou.
Pobre ralé humana.
Já não basta ser toda esquisita, agora descobri que também é lerda.
Dou um beijo em sua testa e me levanto.
Começo a me alongar calmamente.
Eu vou dar o troco.
Eu definitivamente vou dar o troco.
As risadas param na mesma hora.
- Você não vai.. né? - Vejo meu melhor amigo engolir seco.
- Eu dou três segundos. - Respiro fundo e estralo o pescoço.
Minha vizinha me olha com a mesma confusão que poderia ser encontrada nos olhos dos estudantes que fizeram o Enem e se depararam com questões do tipo, "Fulano comprou X em utensílios domésticos e Y em materiais de construção. Qual o nome do cachorro?"
Dou um sorriso e conto até três.
Não precisei nem chegar no dois para ver meus melhores amigos correndo para fora da casa.
Corro atrás deles e, sem muito esforço, alcanço Daniel.
O corpo em forma dele manda lembranças.
Ouço Luise gritar um "boa sorte" antes de subir na casa na árvore que fica na área dos fundos.
Esperta.
Nós três construímos juntos quando me mudei. Eu tinha medo de ficar sozinho em casa mas, como não tínhamos muita intimidade na época, eles ficavam sem graça de dormir lá em casa sempre e nunca pagarem nada.
De acordo com eles, eu praticamente tratava eles como filhos, mas não deixava eles me recompensarem.
Então, chegamos no consenso de construirmos uma casa na árvore.
Como lá não ia ter gasto e nós três tivemos participação no projeto, eles achavam justo ficarem lá.
Sempre que um dos três ficava mal, íamos todos para lá para jogarmos vários jogos de tabuleiro e pensarmos em possíveis soluções.
Dou um sorriso com a lembrança.
Isso não vai influenciar meu plano diabólico!
Me jogo em cima do Daniel, derrubando ele no chão.
Começo a fazer cócegas nele.
Esse é o meu ataque especial.
MAHAUAHAA!
Sempre quis parecer um vilão, não tenho culpa se era apaixonado no coringa quando criança.
Sim, eu já frequento um psicólogo.
Agora, sem mais delongas, vamos descobrir se é possível matar alguém assim ou não.
- NÃO É JUSTO VOCÊ VIR ATRÁS DO SEDENTÁRIO! - Ele tenta falar em meio ao caos da situação.
O mundo é dos espertos, meu jovem.
- Eu tenho certeza que foi ideia sua! - Falo gargalhando da cena.
Paro de rir quando sinto algo atingindo minha cabeça.
(Presentinho para vocês!)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Querida vizinha.
RomanceDizem por aí que um romance pode surgir até mesmo nos casos mais improváveis. Seria esse o caso da história de Gabriel e Clare, que, se conheceram de um jeito memorável e improvável? Seria possível que ele, um jovem intenso e romântico, porém sem at...