XIV

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-Pode nos explicar isso, Gabriel?

Puta merda, tinha esquecido completamente desse fato. Essa songa monga de papel também, só vacila!

Respiro fundo e coloco o meu melhor sorriso no rosto.

- É que, a Clare, não tem água na casa dela, então eu deixo ela tomar banho aqui quando precisa. - Falo abaixando o tom de voz e me encolhendo no cantinho.

- E VOCÊ SIMPLESMENTE OMITE ISSO DE NÓS? - Luise ameaça acabar com a minha raça.

Eu tento ser bom mas a vida só me joga do penhasco.

Inferno de vida.

- Eu esqueci de contar. - Fico envergonhado diante dos dois.

Daniel e Luise são como pais para mim. Quando eu me mudei a dois anos, eles me acolheram e me ajudaram em tudo que precisei.

Odeio quando ficam bravos comigo. Sinto como se fosse a bronca dos pais que eu nunca tive.

- Desculpa. - Peço de um jeito sincero.

Dan percebe a situação e coloca a mão no ombro da namorada que respira fundo e me dá um abraço.

- Tinha que ser você, né? Se ela te sequestrasse, nunca saberíamos! Toma cuidado com o que você faz! Sabe que amamos você! - Recebo um cafuné como forma de consolo.

Confirmo com a cabeça e aproveito o carinho.

- Vamos logo nos arrumar, vamos acabar nos atrasando assim! - Meu melhor amigo nos alerta e vai em direção ao quarto que praticamente já é deles.

Faço o mesmo e tomo meu banho. Coloco o uniforme da seleção, pego meus protetores e encaro uma camisa do Brasil que está no meu armário.

Pego a camisa.

Quando saio do quarto, milagrosamente, Clare está pronta.

Ela está vestida com uma blusinha verde, short jeans preto e uma botinha da mesma cor.

Adorável.

Jogo a blusa do Brasil na sua direção. Ela tenta pegar, mas falha miseravelmente, sendo atingida em cheio no rosto.

Contenho uma risada e encaro a mesma, sentindo um olhar mortal em minha direção.

- Você está indo ver um jogo da seleção brasileira, vá pelo menos a caráter. - Saio em direção a cozinha e pego alguns pedaços de mamão na geladeira.

Alguns minutos depois, todos descem arrumados e me esperam na sala enquanto escovo os dentes.

Dan está com sua bandana preta prendendo parte do cabelo, uma blusa azul da seleção, bermuda branca e a famosa havaiana cinza.

Bom, já foi branca.

Luise está com a mesma blusa azul, um macacão em tons claros e uma sandália branca. Seus cabelos ondulados estão presos em uma trança.

Os dois pintaram o cabelo recentemente alegando ser coisas bregas de casal.

Clare agora está com minha blusa.

Vamos em direção a garagem. Abro a porta para Clare e meus amigos me fuzilam com olhares curiosos.

Dou de ombros e entro, esperando todos se acomodarem. Quando tudo está em ordem, dou partida no carro e me dirijo a quadra.

- Vai colocar que música dessa vez, Gab? - pergunta Dan animado no banco traseiro.

Toda vez que saímos de carro, eu coloco uma música diferente e julgamos ela em conjunto.

Sorrio animado e coloco uma música que lançou recentemente.

"Surreal".

Ficamos em silêncio ouvindo o lançamento. Quando acaba, começam as críticas.

- Eu achei a batida extremamente viciante, mal consegui prestar atenção na letra por isso! - Lu opina.

- Sua opinião é minha opinião, meu amor! - Meu melhor amigo fala, dando um selinho na mesma.

- Eca, casal! - Eu e Clare soltamos ao mesmo tempo, o que faz todos rirem.

- Eu estou viciado nessa música desde que comecei a ouvir. - Confesso enquanto entro no estacionamento.

- Até que não é tão ruim! - Clare finaliza com sua opinião.

Estaciono o carro e descemos. Entramos no ginásio e o casal de pombinhos direciona a nova amiga até o lugar onde ficam.

Como são meus convidados, ficam bem próximos da quadra.

Começo o aquecimento e não demora muito para o jogo começar.

Começo de um jeito péssimo. Erro algumas recepções e alguns cortes vão diretamente do outro lado da quadra, talvez até da cidade.

Não entendo o motivo de estar tão nervoso.

Olho para arquibancada e vejo meus amigos torcendo por mim, Clare está com uma cara de songa. Certeza que não sabe nem o que é vôlei.

Meu treinador pede tempo. Começamos perdendo de 15 a 7 para o Canadá. Levo um esporro e tento voltar mais concentrado pro jogo.

O jogo segue empatado até virarmos e chegarmos no placar 24x23. O último ponto era meu saque.

Respiro fundo.

Estava certo de que iria errar. Porém, como um pequeno fio de esperança, ouço algo de uma voz conhecida na torcida.

- Esse ponto é seu, bombom!

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