-Pode nos explicar isso, Gabriel?
Puta merda, tinha esquecido completamente desse fato. Essa songa monga de papel também, só vacila!
Respiro fundo e coloco o meu melhor sorriso no rosto.
- É que, a Clare, não tem água na casa dela, então eu deixo ela tomar banho aqui quando precisa. - Falo abaixando o tom de voz e me encolhendo no cantinho.
- E VOCÊ SIMPLESMENTE OMITE ISSO DE NÓS? - Luise ameaça acabar com a minha raça.
Eu tento ser bom mas a vida só me joga do penhasco.
Inferno de vida.
- Eu esqueci de contar. - Fico envergonhado diante dos dois.
Daniel e Luise são como pais para mim. Quando eu me mudei a dois anos, eles me acolheram e me ajudaram em tudo que precisei.
Odeio quando ficam bravos comigo. Sinto como se fosse a bronca dos pais que eu nunca tive.
- Desculpa. - Peço de um jeito sincero.
Dan percebe a situação e coloca a mão no ombro da namorada que respira fundo e me dá um abraço.
- Tinha que ser você, né? Se ela te sequestrasse, nunca saberíamos! Toma cuidado com o que você faz! Sabe que amamos você! - Recebo um cafuné como forma de consolo.
Confirmo com a cabeça e aproveito o carinho.
- Vamos logo nos arrumar, vamos acabar nos atrasando assim! - Meu melhor amigo nos alerta e vai em direção ao quarto que praticamente já é deles.
Faço o mesmo e tomo meu banho. Coloco o uniforme da seleção, pego meus protetores e encaro uma camisa do Brasil que está no meu armário.
Pego a camisa.
Quando saio do quarto, milagrosamente, Clare está pronta.
Ela está vestida com uma blusinha verde, short jeans preto e uma botinha da mesma cor.
Adorável.
Jogo a blusa do Brasil na sua direção. Ela tenta pegar, mas falha miseravelmente, sendo atingida em cheio no rosto.
Contenho uma risada e encaro a mesma, sentindo um olhar mortal em minha direção.
- Você está indo ver um jogo da seleção brasileira, vá pelo menos a caráter. - Saio em direção a cozinha e pego alguns pedaços de mamão na geladeira.
Alguns minutos depois, todos descem arrumados e me esperam na sala enquanto escovo os dentes.
Dan está com sua bandana preta prendendo parte do cabelo, uma blusa azul da seleção, bermuda branca e a famosa havaiana cinza.
Bom, já foi branca.
Luise está com a mesma blusa azul, um macacão em tons claros e uma sandália branca. Seus cabelos ondulados estão presos em uma trança.
Os dois pintaram o cabelo recentemente alegando ser coisas bregas de casal.
Clare agora está com minha blusa.
Vamos em direção a garagem. Abro a porta para Clare e meus amigos me fuzilam com olhares curiosos.
Dou de ombros e entro, esperando todos se acomodarem. Quando tudo está em ordem, dou partida no carro e me dirijo a quadra.
- Vai colocar que música dessa vez, Gab? - pergunta Dan animado no banco traseiro.
Toda vez que saímos de carro, eu coloco uma música diferente e julgamos ela em conjunto.
Sorrio animado e coloco uma música que lançou recentemente.
"Surreal".
Ficamos em silêncio ouvindo o lançamento. Quando acaba, começam as críticas.
- Eu achei a batida extremamente viciante, mal consegui prestar atenção na letra por isso! - Lu opina.
- Sua opinião é minha opinião, meu amor! - Meu melhor amigo fala, dando um selinho na mesma.
- Eca, casal! - Eu e Clare soltamos ao mesmo tempo, o que faz todos rirem.
- Eu estou viciado nessa música desde que comecei a ouvir. - Confesso enquanto entro no estacionamento.
- Até que não é tão ruim! - Clare finaliza com sua opinião.
Estaciono o carro e descemos. Entramos no ginásio e o casal de pombinhos direciona a nova amiga até o lugar onde ficam.
Como são meus convidados, ficam bem próximos da quadra.
Começo o aquecimento e não demora muito para o jogo começar.
Começo de um jeito péssimo. Erro algumas recepções e alguns cortes vão diretamente do outro lado da quadra, talvez até da cidade.
Não entendo o motivo de estar tão nervoso.
Olho para arquibancada e vejo meus amigos torcendo por mim, Clare está com uma cara de songa. Certeza que não sabe nem o que é vôlei.
Meu treinador pede tempo. Começamos perdendo de 15 a 7 para o Canadá. Levo um esporro e tento voltar mais concentrado pro jogo.
O jogo segue empatado até virarmos e chegarmos no placar 24x23. O último ponto era meu saque.
Respiro fundo.
Estava certo de que iria errar. Porém, como um pequeno fio de esperança, ouço algo de uma voz conhecida na torcida.
- Esse ponto é seu, bombom!
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Querida vizinha.
RomanceDizem por aí que um romance pode surgir até mesmo nos casos mais improváveis. Seria esse o caso da história de Gabriel e Clare, que, se conheceram de um jeito memorável e improvável? Seria possível que ele, um jovem intenso e romântico, porém sem at...