Domingo

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Kalu estava extremamente cansado, o que era um péssimo sinal considerando que era seu dia de folga. Ser professor universitário demandava muito mais trabalho do que podia imaginar ao aceitar a vaga, especialmente quando se aproximavam das provas de fim de semestre. Porém, para ser fiel à sua natureza preguiçosa, Kaluanã havia decidido a tempos que os domingos seriam seus dias de absoluto ócio. Nada de trabalho acumulado, tarefas domésticas ou aporrinhações, se dedicava a aquilo de segunda a sábado, para ter o descanso merecido.

O problema é que, nas últimas 3 noites, o que menos estava fazendo era dormir pelo simples fato de que havia — inocentemente — flagrado sua colega de quarto em um momento constrangedor. Agora, tinha que lidar não só com o malabarismo de não se encontrar cara a cara com ela — sim, era um covarde e admitia tranquilamente — como a imagem de Tahira invadia seus pensamentos todas as vezes que fechava os olhos. E não era como a mulher problemática e agressiva que fazia questão de brigar por quase tudo, e sim uma muito mais perigosa:

Uma Tahira fodidamente sexy, de camisola de seda vermelha, rosto ruborizado, gemido rouco e um maldito vibrador entre as pernas.

Cacete, quando sua vida havia ficado tão miseravelmente complicada?

Seu maior passatempo se transformou no pior pesadelo, pois tinha medo de deixar escapar entre um sonho e outro, seu nome — por Deus, já acordara vezes o suficiente com uma ereção para comprovar o quão real era a possibilidade.

Precisava resolver aquela merda, não fazia ideia de quantos períodos faltavam para ela cursar, o que significava que ainda podiam dividir o quarto por anos e não tinha a menor condição de arrastar a insônia por todo esse tempo. Já estava começando a afetar sua saúde mental, até mesmo Nicholas — o mais desligado dos seus amigos — havia percebido suas mudanças de humor e irritabilidade, algo totalmente oposto à sua personalidade.

Ao entrar no Ramen Hashi, Kalu logo avistou Iara e Caio. Ambos escolheram a mesa que ficava no canto do grande restaurante.

Não estava tão cheio para um sábado, algumas pessoas transitavam entre as mesas de quatro e seis lugares. Atrás do balcão central, na janela que dava acesso a cozinha, vários papéis estavam pregados e de tempos em tempos o sino era tocado informando a um dos atendentes que o pedido estava pronto.

Iara estava discutindo algo com Caio que, não surpreendentemente, já estava comendo algo.

— Não vai morrer de fome se esperar mais um pouco para encher a pança! — ouviu a loira esbravejar ao se aproximar da mesa. — Kalu já está chegando.

— Foi o que disse 10 minutos atrás. — Resmungou seu amigo, logo deu uma grande mordida no bolinho de arroz.

— Sinceramente, não sei como conseguiu arrumar uma namorada com esses modos.

— Deixa ele, Iara. — como um perfeito diplomata, Kalu interferiu. — Não me importo que já tenha feito o pedido.

— Pois deveria — ela também o repreendeu, fazendo uma cara emburrada.

Conhecia os dois desde criança, seus pais eram muito amigos em primeiro lugar, então, se juntar a Caio e Iara fora algo natural, mesmo com suas diferenças. Onde o gorducho não lhe cobrava absolutamente nada, aceitando-o exatamente da forma que era estando sempre disposto a apoiá-lo incondicionalmente, Iara era a força que o impulsionava a fazer coisas novas — confiando totalmente no seu potencial. E se não fosse pelos amigos, não teria se esforçado para prestar o vestibular ainda um adolescente, também não teria iniciado o mestrado, muito menos considerado a proposta da reitora da universidade para lecionar, tão jovem e inseguro.

Kalu poderia conformar-se facilmente com a calma mediocridade, porém, fazendo uma retrospectiva da sua vida hoje, era mais que grato pelo que tinha.

— Eu preferia o Saito Q. — Caio lamentou, e pela reação de Iara, Kalu tinha certeza que aquela não havia sido a primeira vez.

COLEGA DE QUARTOOnde histórias criam vida. Descubra agora