Kalu deveria ter voltado para casa depois de se despedir de Sheyla, afinal, nada de bom sairia de uma noitada na Gokudō. Gostava da companhia dos amigos e não era do tipo antissocial, no geral, se saia bem só observando os outros cometerem idiotices pelo abuso de álcool. Porém, hoje em especial havia um fator importante — o mesmo, não podia mais negar, que o fez aceitar o convite de Nicholas.
Tahira Lubandji.
Depois da conversa com a professora tinha percebido o grande erro cometido com as duas mulheres. Sheyla por tê-la enfiado no meio daquilo tudo e Tahira por ter agido como um covarde no lugar de conversar como o adulto que era. Não adiantava evitar ou tentar racionalizar, a verdade é que a complicação havia entrado na sua vida no instante que foi atropelado por uma mulher problemática e mandona. Não adiantava mais fingir que ela não mexia com seu corpo e mente de uma forma que nenhuma outra conseguia, pelo amor de Deus, um simples beijo havia feito seu coração disparar como um adolescente emocionado.
Isso não significava que iria jogar tudo para o ar e tomar a iniciativa de um relacionamento — ainda precisava trabalhar a ideia, considerar todas as consequências — mas estava disposto a se desculpar e quem sabe, chegar a algum lugar sem dramas. Era um estrategista nato, ter um plano para seguir com etapas e cálculos fazia bem mais seu estilo, ao invés de se deixar envolver pelo pânico.
Com a decisão tomada, deu uma última tragada no cigarro, depois o descartou em uma lixeira pública. A fila da boate estava tão grande que contornava o quarteirão, no entanto, despreocupadamente, Kalu rumou para o início dela ao mesmo tempo que mandava uma mensagem de celular. Quando chegou na porta só precisou esperar por alguns instantes.
— Ele está comigo. — disse Nathaniel ao segurança ruivo relativamente pequeno, mas com uma inexpressividade meio assustadora.
Não foi necessário confirmar o nome na lista, já que apesar de morarem numa cidade grande, a família de Nathan era conhecida e o peso do seu nome garantia a cada um dos seus membros a abertura de todas as portas.
— Quando mandei mensagem no grupo esperava encontrar o Samuel.
— Ele e Nicholas estão ocupados. — Kalu percebeu uma nota estranha na afirmação, mas conhecendo os envolvidos não quis entrar em detalhes.
— Não pensei que estaria aqui. — disse após ser revistado por outro segurança.
Nathaniel não fazia a linha baladeiro, muito pelo contrário, desde que se conheceram — fazia dois anos — podia contar nos dedos da mão quantas vezes ele saiu para se divertir e virar a noite, no lugar de ficar em casa estudando. A única coisa que podia mudar isso de forma tão drástica era Tamara, porém — segundo Iara — os dois haviam terminado.
— Decidi por impulso. — Não encarou o amigo, seus ombros estavam tensos e a postura contida.
Algo estava muito errado ali, pois Nathan nunca fazia qualquer coisa de forma precipitada, o pragmatismo era parte fundamental da sua personalidade.
Antes que Kalu pudesse questioná-lo, sua atenção foi roubada pelo mundo que se abriu a sua frente. Gokudō era enorme, assim que entrou Kaluanã deparou-se com um ambiente mais descontraído, as luzes do lugar provinham do tampo de led das mesas altas distribuídas estrategicamente — que mudavam de cor em sincronia com a música — e o bar nos fundos, com um balcão — também de led — com prateleiras de vidro atrás lotadas de garrafas. Uma escada com corrimão cromado levava ao segundo andar, que era dominado em grande parte pela pista de dança apinhada de gente.
Se aproximando da grade de proteção que separava os dois ambientes, Kalu pode ver outro bar no canto, um palco que tinha como atração principal Douglas como DJ e algumas gaiolas aqui e ali, com pessoas seminuas movendo-se sugestivamente.
De toda informação que absorveu em questão de segundos, seu olhar foi atraído automaticamente para Tahira — não importava o quão cheio uma sala estava, seu subconsciente parecia sempre encontrar uma forma de encontrá-la. Dessa vez, ela estava dançando de forma sensual acompanhada de Iara.
Don't Start Now, Dua Lipa, começou a tocar como se zombasse dele. Tahira definitivamente sabia o que estava fazendo, e mexia com sua libido de uma forma que não deveria — era hipnotizante. Ela voltou-se de costa para a Iara — que por sua vez — segurou a cintura dela enquanto essa rebolava sem nenhum pudor inclinada o corpo contra a amiga.
Por conta do som alto e a distância, Kalu não pode ouvir, entretanto, tinha certeza que a loira cantava as letras como uma provocação — pelo menos foi o deboche da sua frustração.
— O que está acontecendo entre esses três?
A pergunta intrigada de Nathaniel o tirou da contemplação.
— Quem?
— Nicholas, Helena e Samuel.
Bem, se a intenção deles era manter o "relacionamento" — ou seja lá o que havia resultado do ménage — em segredo, estavam fazendo um péssimo trabalho. A intimidade que o trio compartilhava em público era quase obscena, Samuel tocava em Helena de uma maneira que não deveria — principalmente levando em conta que se tratava da namorada do melhor amigo dele — porém, no lugar de ficar puto, Nicholas também aproveitava cada pequena oportunidade no meio da "coreografia" para tocar os dois com um sorriso malicioso.
— É complicado. — Deu de ombros, esperando que Nathan deixasse o assunto por isso mesmo. Detestava conjecturar sobre a vida dos amigos, ainda mais quando era algo minimamente sexual.
Para sua sorte — ou azar — outro evento atraiu o foco.
Tahira foi andando lentamente pela multidão até o bar, lá parou para conversar com o barman — um bombado estranho. Apesar da loira está de costa para ele — o que impossibilitou a leitura de lábios, uma das suas melhores habilidades — Kaluanã podia ver perfeitamente a expressão de luxúria do bombadão — muito parecida com a de um tubarão pronto para o banquete.
Kalu queria socar a cara dele, o que era incomum já que a violência raramente era sua primeira resposta. Tudo só piorou quando Tahira se inclinou sobre o balcão, puxando o barman pela gola para beijá-lo.
Kaluanã sentiu um aperto no peito, uma dor física — tinha certeza — e uma raiva inexplicável que acelerou seu coração. Mas mesmo querendo quebrar algo, ou gritar até extravasar aquela queimação fodida que o consumia — tratando de esquentar todo seu corpo — manteve-se imóvel. Os únicos sinais do turbilhão interior, eram suas mãos segurando a grade com força, a tremedeira quase imperceptível e o olhar assassino que fuzilava o casal.
Toda a cena tinha por música de fundo Sorry Not Sorry, Demi Lovato, e sim, Kalu era obrigado a concordar: a vingança era uma vadia e aquilo doía para um caralho, porém, não chegava aos pés de ter que assistir Tahira praticamente fudendo com Miguel na pista de dança.
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COLEGA DE QUARTO
RomanceKaluanã tinha a vida perfeita que todo preguiçoso sonhava: era professor universitário aos 21 anos, dividia seu apartamento com outros cinco amigos e mantinha uma rotina banal. Até que seu melhor amigo decide ir morar com a namorada. Agora, Kalu tem...