Tahira agachou na frente da mesa até que seus olhos estivessem no mesmo nível do enfeite estranho que imitava um besouro muito colorido, moveu o objeto milimetricamente — como um general arquitetando uma guerra. Levantou a cabeça para fitar o painel, que tinha um "PARABÉNS" cheio de glitter e pequenas borboletas aqui e ali. Satisfeita com o resultado final, assentiu lentamente.
Uma bufada impaciente às suas costas fez com que a loira desviasse a atenção do que estava fazendo para encarar Kaleb.
— Se voltar a me apressar mais uma vez, juro por Deus que vou socar a sua cara.
— Ele já me mandou mensagem dizendo que está saindo do estúdio, pode chegar a qualquer momento. — respondeu Kaleb, inquieto.
— Não me interessa! — Tahira rosnou. — Eu disse que tudo estaria pronto a tempo, então tudo vai ficar pronto a tempo.
— Não se preocupe, Kaleb. — Interveio Nathaniel, na tentativa de acalmar o rapaz. — Se Daniel saiu do estúdio agora, ainda temos, no mínimo, uma hora.
— Ele está de moto.
— Então 30 minutos. — Nathan retrucou — Porque não vai ajudar o Nicholas e o Samuel com as bebidas na cozinha?
— Certo! — com a concordância a contragosto, saiu da sala.
Tahira começou a encher uma bola para colar na extremidade da mesa. A coisa era estilizada com uma foto cômica de Kaleb vestindo uma fantasia de borboleta, com direito a um arco de antenas felpudas e bolinhas prateadas presas nas pontas.
— Deveria pegar mais leve com ele, é a primeira festa surpresa que faz para o namorado. — Completamente impassível e perfeccionista, Nathaniel continuou espalhando glacê pelo bolo. — Só está nervoso.
Todos tinham se envolvido numa verdadeira força tarefa para realizar aquele evento, quando Kaleb veio com a triste história de que seu namorado introvertido nunca havia recebido uma festa de aniversário na vida. Com lágrimas fingidas, o moreno explicou seu plano para realizar o sonho, então — mesmo sem querer admitir em voz alta — Tahira deixou-se afetar.
No fim, acabou ficando responsável por cuidar da decoração, o que foi bem incomum, visto que Daniel era obcecado por insetos. Convenceu Nathaniel a preparar o bolo, ele era muito melhor com confeitaria que ela, e Helena se juntou a dupla para fazer os doces. Caio ficou com os salgados, Iara o entretenimento, e o resto dos rapazes, que se resumia a Nicholas, Samuel, Kalu e o próprio Kaleb, deram um jeito nas bebidas e convidados.
Rapidamente o apartamento compartilhado ganhou espaço com os móveis sendo afastados para os cantos, a mesa da cozinha foi transferida para o centro da sala e enfeitada com esmero. A música era animada e tudo estava perfeito, porém, de tempos em tempos, Kaleb vinha para "conferir" seu trabalho com aquela imperatividade tão característica dele — que tinha o poder de irritá-la.
Parte de si agradecia por aquela distração, pois desviava sua mente de pensamentos embaraçosos com um certo colega de quarto preguiçoso — que desde que trocaram um beijo muito quente, agia como se nada tivesse acontecido. Veja bem, já tinham passado por algo parecido antes, mas diferente do flagra — onde ambos só se ignoram mutuamente — dessa vez ele só parecia não se importar.
Claro que não preferia uma conversa sentimental ou constrangedora, no entanto, o ar de normalidade que Kalu deu para toda essa situação beirava a indiferença, e era assustador pensar na possibilidade de que aquele beijo — que simplesmente virou seu mundo de cabeça para baixo — não surtiu o mesmo efeito sobre ele.
Isso lhe deixava decepcionada — e triste.
— Não sei o que está acontecendo entre você e Kalu. — Ao dizer isso Nathaniel não a encarou, apenas continuou dando os últimos toques na cobertura. — Também não é da minha conta, mas te considero uma amiga e acho que deveria saber.
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COLEGA DE QUARTO
RomansaKaluanã tinha a vida perfeita que todo preguiçoso sonhava: era professor universitário aos 21 anos, dividia seu apartamento com outros cinco amigos e mantinha uma rotina banal. Até que seu melhor amigo decide ir morar com a namorada. Agora, Kalu tem...