— E isso não é um namoro?
A incredulidade de Caio beirava ao cômico. Kalu planejava voltar para casa dos pais na próxima segunda, para passar o Natal, logo tinha uma lista de presentes para dar cabo. Surpreendentemente, Caio era tão bom quanto Iara na hora de escolher esse tipo de coisa. Se preciso fosse, ele pechinchava, conhecia as lojas com os melhores preços e era implacável na busca pelo objeto perfeito. Então, naquele sábado à tarde, ambos circulavam pelo Shopping.
— Não. — Kaluanã continuou andando, as mãos atrás da cabeça numa postura despreocupada.
— Mas você vai levar Tahira pra conhecer sua família.
— É só pra ela não ficar aqui sozinha, não é nada demais. — Deu de ombros.
E não era mesmo, a conversa havia surgido de maneira inocente. Kalu comentou sobre sua volta para casa, e o quanto não estava ansioso para enfrentar o interrogatório da mãe sobre o trabalho, amigos e casamento, porém, faria pela comida. E a loira — por sua vez — disse que não tinha o costume de comemorar a data, e que muito provavelmente ficaria por ali mesmo, assistindo série e comendo pizza.
Acontece que, para uma pessoa nascida na família que nasceu, a coisa toda lhe parecia meio melancólica. Sua família era muito grande e em datas como Natal, Kalu sempre estava cercado por parentes, boa comida, falatório e o clima festivo. Suas melhores lembranças de infância provinham desses eventos.
Levando isso em consideração, o convite foi feito suavemente.
Tahira aceitou sem demonstrar estranheza — nem mesmo fez qualquer provocação constrangedora — o que só serviu para reafirmar a decisão dele, afinal, a atmosfera entre os dois permaneceu igual. Logicamente, ela não achava que aquilo fosse grande coisa também, Caio só estava exagerando sobre a situação.
Ok, uma parte muito distante de si — que tratou de sufocar — ficou incomodado por ficar tantos dias longe dela. Mas era normal — garantiu — já que tinham estabelecido uma rotina mais que satisfatória.
— Cara, vocês moram juntos, saem juntos para coisas de casal como o cinema... — Caio começou a enumerar, mas foi interrompido pelo outro.
— Foi só uma vez, e era uma matinê do George Romero. — explicou com indiferença — Tahira gosta de filmes assim e, — pontuou — Isso não é muito diferente das vezes que você me arrastou para festivais de comida.
— É, mas a gente não transa.
Ele tinha um ponto.
Por falta de argumento, Kaluanã tratou de encerrar o assunto com um "complicado". Foi justo nesse momento que seus olhos se prenderam numa figura loira, vestindo um blusão verde com estampa de caveira — parecido com um que ele tinha —, meia-calça arrastão e botas escuras. Ela não estava distante, tudo que precisava fazer era descer as escadas rolantes para alcançá-la, por isso ele pode ver perfeitamente a intimidade que Tahira destilava enquanto interagia com o esquisitão das tatuagens que caminhava ao seu lado.
Kalu foi atingido por uma cacofonia de sentimentos — todos ruins. Algo se apertou no seu estômago, e seu corpo esquentou, no entanto, fez o possível para esconder a reação.
— Aquela não é Tahira? — seu amigo apontou o óbvio.
— Sim. — Ao perceber que tinha os punhos cerrados, abriu os dedos lentamente, como se o gesto pudesse acalmá-lo. Aquele sentimento era familiar, e da última vez que o sentiu foi expulso de uma boate depois de brigar, desta vez precisava ser menos... passional.
— Esse não é o cara daquela vez do Hashi?
— Uhum.
Quando Kaluanã saiu mais cedo, havia deixado ela meio sonolenta na cama, não sabia que a loira pretendia ir ao shopping, sobretudo com ele. Na verdade, uma vez que começaram com a "amizade colorida" Kalu simplesmente assumiu que ela não voltaria a vê-lo, já que a própria havia imposto exclusividade à relação.
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COLEGA DE QUARTO
RomanceKaluanã tinha a vida perfeita que todo preguiçoso sonhava: era professor universitário aos 21 anos, dividia seu apartamento com outros cinco amigos e mantinha uma rotina banal. Até que seu melhor amigo decide ir morar com a namorada. Agora, Kalu tem...