O hábito de fumar começou na sua adolescência, aos 16 anos. Kalu não queria ser descolado, ou algo assim, só resolveu experimentar um dia e percebeu que gostava da sensação. Tranquilidade, calma, seu corpo ficava mais relaxado e suas ideias pareciam adquirir uma clareza absurda. No geral, não era do tipo que fumava um maço por dia, só recorria a nicotina quando precisava pensar profundamente sobre um assunto, ou sentia-se inquieto.
Raras vezes, como naquele momento, recorria ao cigarro para ter um minuto a sós com seus pensamentos. Sendo o único fumante do grupo, sempre que qualquer sinal de fumaça partia dele era tratado feito um criminoso pelos outros, pior, um portador de uma doença nojenta e altamente contagiosa, onde até mesmo Daniel — que tinha um alto nível de tolerância, uma vez que namorava Kaleb — o evitava.
Kalu tragou lentamente olhando para o céu estrelado, estava no segundo andar da casa de praia, na varanda de um dos quartos, lá embaixo, via os amigos em volta da piscina se divertindo no fim de noite.
Ouviu a porta do quarto se abrir e voltou-se para encontrar Nathaniel, já ia sair de traz das cortinas para saudá-lo, porém, estacou quando reparou em Tahira o acompanhando.
— É uma questão complicada. — Ela começou.
Kaluanã deu um passo para trás, garantindo que não fosse visto — apagou o cigarro no parapeito. Não era do tipo que ficava ouvindo a conversa dos outros, preferia a paz da ignorância, a intromissão, no entanto, algo no tom dela alertou seus instintos.
— Não sou formado. — Pontuou Nathan. — Posso conseguir uma reunião com um bom escritório, se quiser.
— Nos dois sabemos que mesmo não formado, você ainda é o melhor.
No lugar de rebater, Nathan suspirou.
— Preciso de um conselho sobre asilo político. — Ela começou, Kalu sentiu um aperto estranho no peito.
— Não é minha especialidade.
— Mas sabe algo sobre o assunto. — Não era uma pergunta.
— Depende... — Nathaniel estreitou os olhos. — O que exatamente quer saber, Tahira? Ficar fazendo rodeios não é do seu feitio.
Ele tinha razão. Desde o encontro com o irmão, Kaluanã havia percebido a preocupação constante no semblante da colega de quarto. Não perguntava, pois sabia que não estava preparada para aquele assunto, entretanto, o distanciamento que ela assumia vez ou outro o deixava apreensivo.
— Sabe que sou uma imigrante, mas nunca contei como vim parar aqui. — Pelos contornos do seu corpo através da cortinha fina que os separava, Kaluanã pôde observar a tensão que emanava dela. — Tenho uma relação muito próxima com a família real de Sunandu.
— Quão próxima?
— Quando fugi para cá, meu pai era o Sheik, agora é meu irmão mais novo.
— Merda.
— Sei que não posso ser deportada, afinal, foi exatamente por não ter esse tipo de acordo com Sunandu que escolhi esse país.
— Então não existe um problema.
— Até umas semanas, não. — Seus ombros caíram como se carregassem o peso do mundo. — Mas meu irmão me encontrou, foi no nosso apartamento.
— Durante as férias?
— Sim.
Kalu podia praticamente ouvir as engrenagens na cabeça de Nathaniel funcionando, calculando cada risco, possibilidade e solução. Ele podia ser considerado um gênio acadêmico, porém o amigo era implacável para resolver qualquer tipo de situação.
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COLEGA DE QUARTO
RomanceKaluanã tinha a vida perfeita que todo preguiçoso sonhava: era professor universitário aos 21 anos, dividia seu apartamento com outros cinco amigos e mantinha uma rotina banal. Até que seu melhor amigo decide ir morar com a namorada. Agora, Kalu tem...