Capítulo 6

954 51 6
                                    

Ravi Lucca narrando

Já fez algum tempo que venho observando Isabela, desde o dia em que passei em frente ao bar onde ela trabalhava e a vi, nunca mais pude esquece -la.
Não podia ficar dando bobeira, correr o risco de ser visto por alguém.
Vi que ela era sozinha, ia e voltava do trabalho sem companhia, pra piorar tinha dois sanguessugas em suas costas.
Aqueles dois deviam protege-la, mas ela estava se matando de trabalhar por eles.
Pensei em sequestra-la. Fui com um carro preto e estava decidido a tira-la daquela casa. Meus planos se frustraram quando ela se misturou no meio de um monte de pessoas.
Eu não podia correr o risco de ser visto. Fui em sua casa e bati na porta, mas ninguém atendeu. Como eu não sabia se ela estava sozinha, desisti.
Decidi ir no bar para tomar um café e tentar conversar com ela, mas eu não sabia como puxar o assunto. Então fui o mais frio que pude. Ela me causava um descontrole e isso me dava raiva.
Fiquei do carro a observando dentro do bar, o dia passou rápido. Me partiu o coração vê -la batendo parabéns sozinha. Eu queria poder entrar e comemorar com ela.

Ao chegar em casa, meu pai estava com uma lista de nomes. Lá tinha um tal de Cristóvão e Leandro, quando vi o endereço logo liguei as coisas. Eles estavam devendo muito dinheiro para o casino, alguém teria que pagar por aquilo. Então me veio a ideia de fazer um contrato e tentar tirar Isabela daquela vida.
Nossa máfia não matava mulheres, nem crianças. Mas tinha umas muito perigosas, sabe lá o que fariam com Isabela.
Antes que ela sofresse , eu iria tentar ajuda-la.

- Pai, essa dívida aqui eu vou te pagar e vou ficar para mim. Vou cobrar para o senhor.

- Posso saber o motivo ?

- Tem algo lá que me interessa.

- Sério? E eu posso saber o que é? - Meu pai sentou na poltrona e acendeu um charuto. Fui andando até ele e peguei o charuto de sua mão.

- Primeiro, o senhor sabe que não pode ficar fumando, não sabe?

- Menino abusado, me dá isso aqui! - Eu apaguei o charuto e joguei no cesto de lixo. - Me fala logo o motivo, o que tem lá que te interessa?

- A enteada desse cara.

- Uma mulher? Sério? - Meu pai fez uma cara de preocupação. - Nunca vi você se interessar por ninguém... - Ele coçou o queixo. - Aceito com uma condição...

- E qual é ela? - Cruzei os braços e fiquei esperando a bomba.

- Um casamento. Um casamento por contrato.

- O quê? Aí o senhor está pegando pesado. - Eu abaixei a cabeça e cocei a testa.

- É pegar ou largar. Eu vou fazer o contrato e você vai ter que cumprir o que vai estar escrito lá. Vai ser por um ano. Depois disso o contrato está desfeito. Você tem que começar a se preparar para casar, já está com vinte e sete anos. Caso não queria, eu dou a cobrança para outra máfia. - Ele sabia que aquilo ia mexer comigo, tinha mafiosos que violentavam as mulheres na frente da família, como forma de punição.

- É sério isso? - Balancei a cabeça incrédulo do que eu estava ouvindo.

- Muito sério. Eu quero ver como você se sai sendo romântico. Já que é tão seco e rabugento. Só assim vai parar de pegar no meu pé.

- O senhor que acha ... - Minha maior preocupação era sua saúde.

- E aí? Aceita ou não?

- Não tem outro jeito, tem? Eu aceito.

- Aperta aqui a minha mão. - Fui até ele e apertei sua mão. - Trato feito!

Que diabos meu pai está pensando?
Nunca tive vontade de casar, até porque não consigo confiar nos outros e fico enjoado muito rápido da cara da pessoas.
Vou ter que cuidar de Isabela, como minha esposa por um ano? É sério isso?
Eu só queria tira-la daquela tormento em que ela vive.

Montamos uma equipe e fomos para a casa de Isabela. Eu sabia mais ou menos a hora que ela saia do serviço, pedi alguns seguranças para esperar lá.
Torci para que aqueles dois sanguessugas estivessem em casa, com certeza estariam, pois o valor da dívida era muito alto. Com certeza já estavam com medo de morrer.
Aterrorizamos um pouco eles, até os seguranças chegarem com Isabela.
Eu estava de touca ninja para ela não me reconhecer.

Aquele monte de estrume nem hesitou em escolher o filho, a ela.
Minha vontade era dar um tiro na cabeça dos dois.
Pude ver o desespero dela ao darem a opção de morrer ou assinar o contrato.
Alonso falava com ela e ela tentava nitidamente controlar o nervosismo, esperamos até ela assinar.

Ao sair de lá ela começou a passar mal. Devido a adrenalina que estava passando. Antes dela cair eu a peguei no colo. Fui andando com ela nos braços para o carro.

- Quer que eu a pegue, senhor? - Alonso perguntou.

- Não , está tudo bem. Eu vou no banco de trás com ela. Aqui começa meu casamento, meu pai não tem mais o que fazer. - Alonso sorriu e começou a dirigir. Ele sabia de tudo o que estava acontecendo.

O que eu não esperava era ela dormir a noite toda. Fiquei sentado na poltrona a esperando acordar, acabou que adormeci ali mesmo. Ao amanhecer , fui no meu quarto e peguei minha roupa. Voltei e tomei banho no banheiro do quarto em que ela estava. Recebi uma ligação, tinha que sair para resolver algo, uma carga de armas tinha sido desviada.

Quando sai do banheiro vi que ela tentou se esconder embaixo do edredom.
Expliquei que eu tinha que sair, mas que logo voltaria.
O que eu não esperava também era ela estar doente...

Aquilo acabou comigo, lembrei da minha mãe doente e meu pai tendo que cuidar dela. Sua saúde só foi se esvaindo, até que seu coração parou. Ela nos braços do meu pai, deu seu último suspiro, enquanto eu dirigia o carro indo para o hospital. Vi de perto o sofrimento de meu pai. Ele tentou suicídio duas vezes nesses três anos que estamos sem ela.

Aquela crise que Isabela estava tendo por causa da febre, minha mãe tinha sempre. Minha mãe teve câncer no pulmão, apesar de nunca ter fumado. Seu estado foi se agravando, até que uma pneumonia a matou. Ela ficou diversas vezes entubada, mas os médicos acharam melhor deixá-la morrer em casa.
Lembrei do meu pai a pegando no colo e levando para o banheiro.
Assim eu fiz, a peguei e tirei suas roupas, a água que caia na banheira estava morna. Estava ideal para uma pessoa ardendo em febre. Se fosse gelada poderia piorar sua situação e dar um choque térmico, se fosse quente aumentaria sua temperatura. Optei pela água morna.

Talvez seja amorOnde histórias criam vida. Descubra agora