Capítulo 9

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Ravi narrando

Fiquei um bom tempo abraçado com ela. Sua respiração começou a normalizar depois de alguns minutos.
Ouvi alguns barulhos, quando dei por mim Isabela estava chorando.

- Ei... O que foi? - Me afastei e levantei seu rosto. - Por que você está chorando? Está com dor?

- Sim, estou com dor nas costas. Mas não quero te incomodar, já vai passar.

- Vou levar você para deitar e depois eu busco nossa comida. Pode ser?

- Não, vou comer aqui mesmo. Não quero te dar mais trabalho do que já estou dando. - Ela olhou para baixo e as lágrimas escorreram em seu rosto.

- Tem certeza? - Levantei seu rosto para olhar em seus olhos. Quando comecei a fazer tanto contato visual com alguém? Mas eu estava preocupado, queria proteja-la e cuidar de sua saúde. Sequei seu rosto com as mãos.

- Sim. Obrigada. - Peguei nossos pratos no microondas, coloquei o meu prato ao lado do dela.

- Você quer suco de quê? Tem uva, laranja, graviola e maçã.

- Pode ser de graviola. - Ela deu um sorriso tímido. Ainda respirava com dificuldade.

- Você gosta? Esse é o meu preferido. - Sorri com a garrafa de suco mão. Coloquei nos copos e levei um para ela. Assim que a entreguei, ela deu uma golada.

- Eu amo esse sabor, mas é difícil de encontrar. - Ela forçou um sorriso, após ter tomado um pouco do suco.

- Verdade. Quando eu vejo no supermercado, pego logo umas cinco garrafas. É difícil achar quem goste também. Temos algo incomum então. Comemos bem lentamente.

Acabamos de comer e fomos para o quarto, subimos a escada vagarosamente. Ela estava agarrada no corrimão e sua expressão era de dor. Apoiei suas costas enquanto subia.
Entramos no quarto e eu a acompanhei até a cama.

- Ravi. - Ela falou após sentar na beirada da cama.

- Oi. - Olhei para ela.

- Obrigada por ser tão paciente. - Ela sorriu para mim. Aquele sorriso causou algo estranho dentro de mim, esse foi diferente dos outros sorrisos. Pude ver o quanto ela é linda. Senti um negócio esquisito no estômago e minha pulsação ficou acelerada. Me senti com cara de bobo, parado olhando para ela. Seu rosto é perfeito demais, sua voz me traz tanta calma. Será que isso realmente era por causa do contrato?

- Não precisa agradecer, você está precisando de cuidados e eu tenho que cuidar de você. - Tentei ser seco e não demonstrar muito sentimentos. - Vou pegar um colchão ali no meu quarto e já volto, não posso deixar você dormir assim sozinha. Já volto! - Falei e sai logo, antes que ela falasse que não precisava.

Entrei no meu quarto e fiquei pensando... O que está acontecendo comigo? Eu estava com vontade de abraçar Isabela e afundar meu rosto em seus lindos cabelos ruivos. Sentei em minha cama e fiquei ali pensando e pensando.
Queria poder abraça-la e tomar seus lábios vermelhos. Comecei a fazer planos em minha mente, seria bom ter com quem conversar sobre a vida e o dia a dia.

Eu não posso me apegar a ela.
Sempre evitei estar mais de vinte e quatro horas com uma mulher. Nunca tive vontade de namorar alguém, pior ainda casar.
Mas com Isabela está sendo diferente...

Eu tenho que me controlar quando estou ao seu lado, queria muito que ela quisesse ficar depois que o contrato acabar.
Já estou sofrendo por antecipação, só de imagina-la tendo que ir embora.

Saio um pouco de perto dela e já fico ansioso para voltar, mas deve ser apenas porque ela está doente. Será?
Eu mesmo não tenho as respostas que preciso.
Será isso amor? Talvez seja amor.
Não, isso só pode ser carência, estou a muito tempo sem ficar com ninguém.
Todas as mulheres que eu tive até hoje só queriam meu dinheiro, como eu nunca quis relacionamento sério, sempre dei o que elas queriam. E elas iam embora.

Fiquei ali por mais uns minutos pensando em como eu estava feliz por ter Isabela em minha vida. Até um sorriso estava em meus lábios... Nem sabia que eu sabia sorrir assim.
Voltei para o quarto dela e ela não estava na cama. Por um momento pensei que poderia ter fugido, mas logo o pensamento foi embora. Isabela está muito debilitada para tentar fugir e pra onde ela iria? Aqui ela está sendo tratada como nunca foi na vida.

Fui até o banheiro e escutei a água da torneira caindo, ela estava lá dentro. Bati na porta para avisar que eu estava de volta. Voltei e forrei meu colchão no chão, próximo da cama.
Esperei por vinte minutos e ela não saiu do banheiro. Fui até a porta e bati novamente, ainda tinha barulho de água caindo.
Estava decidido a arrombar a porta, mas ela tinha deixado a fechadura aberta. Virei a maçaneta e a porta abriu.

- Ravi... - Ela estava sentada no chão, com as costas no armário da pia, sua voz era muito fraca.

- O que houve? - Desliguei a torneira e a peguei do chão. A levei no colo até a cama. - Você tem que parar de me assustar. - A deitei na cama e a cobri.

- Desculpa! - Deu uma crise de choro nela.

- Não chora, eu falei algo que magoou você? Se sim, me desculpa.

- Não, não é isso. É que eu não estou aguentando mais, minha saúde está péssima, estou com muitas dores. Também estou te dando muito trabalho.

- Olha só, lógico que eu quero que você melhore logo. Mas eu não tenho nada melhor para fazer. Não se preocupe comigo. Eu passo o dia vagando, ou faço aula de tiro, ou faço aula de luta.

- Eu tenho uma gratidão eterna com você. Eu sei que vive dizendo que é por causa do contrato, mas eu sei que você está fazendo isso porque é um ser humano incrível. Se fosse só pelo contrato você poderia me tratar de qualquer jeito, já sabe o nível de tratamento que sempre tive. Seu pai com certeza não saberia, não por mim. Pra mim não ia ser tão estranho eu ser maltratada. Imagine se essa pneumonia me desse lá onde eu morava? Eu iria ter que trabalhar doente, não teria o tratamento adequado...

- Só de ouvir você falar isso, já sobe um ódio tão grande daqueles sanguessugas... Ainda bem que você está aqui. Pelo menos está sendo cuidada.

- Eu sou muito grata a você, de coração.

- Se for depender de mim, você nunca mais volta para aquele lugar. Pode deixar que eu vou cuidar de tudo. Você tem que ser feliz, você merece.

- Obrigada, eu vou dar um jeito. Assim que eu melhorar. Vou procurar um lugar para eu ficar. Tenho um tempo determinado para ficar aqui, certo?

- O contrato dura um ano, mas se eu quiser posso renovar. Mesmo que não renove, você não tem que ir embora. Pode ficar o tempo que quiser.

- Entendi... Ravi, posso te pedir uma última coisa por hoje?

- Você pode pedir o que você quiser.

Talvez seja amorOnde histórias criam vida. Descubra agora