! cellbit está melancólico.

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Após o almoço tranquilo – ou nem tanto, visto que Roier insistiu para que o brasileiro se alimentasse direito – de Roier e Cellbit, ambos partiram juntos a caminho da casa abandonada, onde teriam que investigar o que havia sido deixado ali por supostamente alguém misterioso. Estranhamente, Mia não havia dado muitos detalhes sobre aquela missão ou sobre o que eles teriam que procurar especificamente; mas nenhum dos dois questionaram, afinal, aquilo não era tão incomum assim.

Roier dirigia o carro enquanto Cellbit analisava um mapa antigo da área, tentando entendê-lo. Tentou a sorte com o GPS do carro, no entanto, não deu certo. O lugar simplesmente não existia, e após algumas pesquisas, Cellbit descobriu que aquele lugar foi apagado da existência de todos os mapas mais recentes, por algum motivo desconhecido.

— Você tem ideia do que podemos encontrar lá? — Roier quebrou o silêncio entre ambos, que antes era composto apenas por uma melodia baixa que saía do rádio.

— Uma casa abandonada é algo amplo, podemos encontrar de tudo. Documentos, fotos, armas… — o brasileiro suspirou, se recostando no banco do carro. — E simplesmente não sabemos o que procurar e o que podemos acabar encontrando, bom ou ruim.

O silêncio se estendeu e então a melodia do rádio novamente tomou conta do espaço. Soava doce e melancólica, deixando um ar extremamente nostálgico e melancólico entre ambos os agentes dentro do carro. E por isso, sentindo a atmosfera mudar, Roier também mudou o tópico da conversa.

— Se você não fosse um agente da Ordem, o que seria? — perguntou curioso, desviando o olhar da estrada para o brasileiro. — Digo, qual seria sua profissão? Sua maior meta, sem ser chegar vivo até o fim do dia?

Cellbit não pôde impedir a pequena risada que escapou de si ao ouvir a última parte.

— Essa é uma boa pergunta, na verdade. Acho que eu continuaria em algo parecido com o que faço hoje em dia, sabe? — deitou a cabeça na janela. — Detetive, investigador, algo assim. Acho que minha meta seria… — respirou fundo, pensativo. — Na verdade, eu não sei. Não sei se realmente teria alguma meta.

Alguns segundos se passaram, e então, Cellbit se virou para Roier.

— E você? O que faria?

Roier sorriu com a pergunta.

— Eu sempre quis ter vários negócios. Um supermercado, uma farmácia, um restaurante… — suspirou, sonhador. Cellbit sentia que havia mais história por trás daquilo. — Uma taqueria. Eu queria muito abrir uma taqueria.

A expressão do mexicano era tudo senão melancólica, apertando fortemente o peito de Cellbit. Ele queria saber o motivo para aquele sentimento estampado em seu rosto. Ele queria saber o motivo do mexicano querer abrir uma taqueria em específico. Ele queria saber tantas coisas sobre Roier.

Mas aquela não era a hora para aquelas perguntas. O brasileiro apenas se virou para frente novamente, assentindo silenciosamente.

— O que você acha de aposentar e abrir sua própria taqueria? — Cellbit sugeriu, torcendo para não estar tocando em um assunto do qual não deveria.

Roier, no entanto, não pareceu desapontado ou desconfortável com a pergunta.

— Não é uma má ideia. Mas com quantos anos eu me aposentaria? Cinquenta? — riu divertido. — Não sei, gatinho. Acho que com cinquenta anos não estarei apto para abrir uma taqueria. Minha aparência não seria atraente o suficiente para os clientes, sabe?

— Como se fosse você envelhecer mal. — o brasileiro bufou, sentindo sua bochecha se avermelhar com a insinuação de um flerte.

— Se é você que está falando, então estou feito.

Cellbit revirou os olhos com um pequeno sorriso em seu rosto, mas se recusando a reconhecê-lo. O silêncio novamente permaneceu no ar – dessa vez, ele era mais confortável – antes da voz de Roier se fazer presente.

— O que acha de termos um encontro na minha futura taqueria? — sugeriu, olhando para Cellbit.

O brasileiro arqueou a sobrancelha, sorrindo.

— E se não estivermos vivos até lá?

— Estaremos. Eu sei que sim. — Roier parecia tão convencido que quase conseguiu fazer com que Cellbit também acreditasse naquilo.

Quase.

— Vou pensar no seu caso. — cruzou os braços sobre o peito enquanto sorria inconscientemente.

A longa estrada de terra e mato se estendeu por mais dois minutos até se aproximarem de uma pequena construção abandonada, no entanto, bem arrumada. Por mais suja e acabada que estivesse, era óbvio que o antigo morador fazia questão de cuidar muito bem de sua casa.

Desceram do carro e avançaram em direção a casa. Havia um jardim e uma plantação de morangos logo à frente, que provavelmente davam uma linda vista na primavera. Cellbit lamentou não poder ter essa visão naquele momento.

Roier analisou a porta branca, avaliando o estado. Após chegar à conclusão de que era seguro abri-la, adentrou o local com poeira. Parecia uma casa normal, sem nada muito importante ou misterioso que pudesse chamar a atenção dos agentes. Isto é, até Cellbit resolver realizar o ritual de terceiro olho, logo encontrando um objeto amaldiçoado, em uma espécie de alçapão embaixo de um tapete vermelho.

Ao abrir a porta do alçapão, encontrou um baú trancado.

— Um baú? — Roier perguntou, confuso.

O brasileiro resolveu pegá-lo em seus braços e levá-lo até a mesa mais próxima a ambos, com o propósito de analisar aquilo. No entanto, logo percebeu que havia um cadeado o trancando.

— Um cadeado? Deixa que eu arrombo. — Roier se ofereceu, pegando um pé de cabra que carregava consigo e tentando arrombar aquele cadeado.

Em vão. Tanto ele quanto o baú continuaram intactos.

— Acho que utilizaram o paranormal para trancarem esse baú. Se essa minha teoria estiver certa, não importa o que fizermos, não vamos conseguir abrir. — Cellbit bufou, colocando as mãos na cintura.

Roier olhou ao redor em busca de mais pistas, e logo franziu a testa ao ver um papel escondido cuidadosamente onde anteriormente estava o grande e pesado baú.

— O que é isso? — Cellbit perguntou ao avistar Roier com um papel em mãos. O mexicano em resposta deu de ombros, abrindo o papel para lê-lo em voz alta.

Entretanto, notou que o papel era antigo. Se Roier ou Cellbit fossem chutar a idade, diriam que aquele papel teria no mínimo quinze anos. Estava sujo, e muitas palavras do texto estavam faltando.

“Esse é o mais longe que consigo ir. Mas [...] bem, acho que aqui eles não vão me pegar. Ou pelo menos, eu espero.
Se você está lendo isso, muito possivelmente eu encontrei o [...] próprio fim. Não tente investigar o que aconteceu comigo, será pior [...] você.
De qualquer forma, NUNCA confie na F[...]
Eles são perigosos. São capazes de coisas horrorosas e tem planos de criar [...]”

Ambos se entreolharam.

— Vamos voltar para a Ordem e tentar decifrar as outras palavras desse texto. Agora, sobre esse baú… — Cellbit se virou para o baú. — Vamos deixá-lo guardado. No entanto, apenas eu e você saberemos da existência dele.

A voz de Cellbit era séria, e Roier confiava nele.

— Certo.

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