! o pesadelo de alcatraz.

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Cellbit nunca foi alguém que acreditasse muito em milagres. Desde pequeno, esteve acostumado a passar por maus bocados.

Aos quinze anos, foi jogado no meio do Hunger Games, sendo obrigado a matar para conseguir sobreviver. Depois, lutou difíceis guerras ao lado de Bad Boy Halo, época sombria onde teve que aprender a se virar sozinho para que conseguisse lidar com os obstáculos que a vida jogasse em si. E não muito tempo depois, foi para a prisão de Alcatraz, onde ficou um bom tempo, até escapar.

Em resumo, a vida de Cellbit nunca foi calma, tranquila ou pacífica. Desde pequeno precisou virar uma máquina de matança para garantir sua sobrevivência, e isso não mudou com o passar dos anos. Quantas pessoas ele já matou? Quantas pessoas já traiu?

Não era acostumado com qualquer sentimento positivo vindo de outras pessoas para si, embora tenha feito anos de terapia. E esse era um motivo para nunca baixar totalmente sua guarda perto de Roier.

Não que fosse algo fácil, afinal, Roier era uma pessoa apenas fácil de se envolver. Cellbit nunca hesitou em confiar nele em uma situação extrema, o que assustou o brasileiro quando parou para pensar naquilo. E quando menos esperava, seus muros que construiu durante anos estavam caindo, um por um.

Cellbit não tinha muitos amigos no qual confiava verdadeiramente para tudo. Apenas Pac, Mike, Felps e Forever. Eles eram os únicos no qual o brasileiro sentia que poderia se entregar totalmente, pé e cabeça. No entanto, Roier estava assustadoramente perto de entrar para aquela lista, de forma extremamente estranha para Cellbit.

Quando ele permitiu que Roier entrasse em sua vida daquela forma, com o tampouco que o conhecia?

Questionava a si mesmo enquanto observava Roier interagir com Quackity e Forever, rindo alto de algo que o brasileiro havia dito. Depois de passar um bom tempo tentando decifrar o texto que havia achado na missão com Roier, decidiu dar uma pausa para respirar.

Enquanto bebia seu café, sentiu uma mão em seu ombro. Ao olhar para trás, se deu de cara com Mia.

— Tenho informações importantes. Você pode chamar o pessoal do Favela Five e o Roier? — a garota perguntou, claramente ansiosa.

Cellbit assentiu em compreensão, enquanto mandava mensagem no grupo do Favela Five e puxava Roier para o lado. Logo todos se reuniram, na sala do Sr. Veríssimo com Mia.

— Descobrimos onde Pac e Mike estão. Coincidentemente, alguns de vocês já estiveram lá antes. — Mia falou meio hesitante antes de pegar algumas fotografias e colocá-las na mesa. Imediatamente Cellbit arregalou os olhos ao reconhecer o local fotografado. — Vamos começar uma operação para resgatá-los a partir de amanhã.

Cellbit não prestou atenção ao que Mia dizia, pegando a foto em suas mãos e observando a área de Alcatraz. Fazia muito tempo desde que ele não via aquele lugar. Roier arregalou os olhos ao entender o que estava acontecendo.

Então os rumores sobre Cellbit eram reais?

— Graças a ajuda do grupo de Baghera, Etoiles, Naomi, Fit e Bad Boy Halo, conseguimos descobrir que Alcatraz estava sendo preparado para ser centro de algum plano ocultista há um tempo, mas não sabíamos qual. — Mia então pegou outro papel, contendo informações. — No entanto, Arthur conseguiu infiltrar uma pessoa dentro de Alcatraz, e foi assim que conseguimos descobrir que Pac e Mike foram levados para lá. No entanto, não sabemos as intenções de quem os levou.

Forever e Felps encaravam Cellbit de relance, imaginando qual seria a reação do amigo ao saber daquelas informações. Cellbit tentava se manter neutro perante a situação, colocando a foto de Alcatraz de volta a mesa.

— A missão de vocês é: se infiltrarem em Alcatraz como prisioneiros, descobrirem o que está acontecendo e tirarem Pac e Mike de lá. — Mia encerrou, fitando Cellbit discretamente. — Se alguém não quiser participar, está tudo bem.

Cellbit engoliu em seco, sabendo que Mia se referia a ele.

— Tudo bem, a gente vai fazer isso. — Cellbit tomou a frente, sabendo que nenhum de seus amigos faria isso sem sua confirmação de que estava tudo bem. — Como vai funcionar?

Mia sorriu, satisfeita com a resposta.

— Vocês serão mandados para Alcatraz por crimes como homicídio, roubo, incêndio criminoso e mais. Lá, investigarão tudo que acharem a respeito desses ocultistas responsáveis pelo sequestro de Pac e Mike. Felps vai ser mandado para Alcatraz como um segurança, já Forever, Cellbit e Roier serão prisioneiros. — ela colocou as mãos na mesa, encarando agora todos que estavam ali. — Teremos mais agentes assistindo vocês de fora, pronto para assumirem o comando caso algo dê errado. Vocês acham que conseguem?

Todos se entreolharam.

— Sim. — responderam em uníssono.


[🌾]


Cellbit conseguia sentir o gosto de cobre em sua língua, seu paladar invadido pela súbita sensação de um líquido forte com gosto de metal tomar conta de tudo. Olhou para baixo em busca da descoberta do que estava levando para sua boca, e assistiu aterrorizado ao perceber que o que ele segurava em mãos, era uma perna.

Ou pelo menos, metade dela. Porque grande parte já estava aos pedaços, sobrando apenas seu osso.

Cellbit tentou gritar aterrorizado, mas nada saía de sua boca; era quase como se aquele corpo não fosse seu, quase como se ele não fosse nada além de um mero telespectador.

— Por que você continua fazendo isso? — uma voz rouca, mas ao mesmo tempo, fina, se fez presente no ambiente. Cellbit levantou o olhar e logo se deparou com a razão do porquê vivia com medo. Seu maior pesadelo.

Cell, em toda sua glória com suas casuais e costumeiras roupas de prisão ensanguentadas, olhava para baixo onde Cellbit estava sentado com escárnio.

— Fugindo de seu passado. — o homem mais novo fez um som reprovador com a boca. — Fugindo de si mesmo.

Finalmente, Cellbit conseguiu encontrar as palavras presas em sua garganta.

— Não! — ele rebateu, com certo desespero em sua voz. — Eu não sou mais assim.

Cell era o que Cellbit mais temia. Seu passado.

E se ele voltasse a ser o que era antes? E se os anos de terapia não tivessem sido o suficiente para ele superar tudo o que lhe ocorreu?

E se um dia, Cellbit acordasse e tudo que restasse nele fosse apenas a sede de sangue de Cell?

Cell riu enquanto se abaixava, ficando cara a cara com Cellbit.

— Você está apenas enganando a si mesmo, queridinho. — riu ironicamente. — Eu sou parte de você, assim como você é uma parte de mim. Você não pode fugir de si mesmo.

Cellbit olhou para suas próprias mãos encharcadas de sangue – que há um tempo atrás, havia largado a perna humana por reflexo – e começou a chorar. Ele não poderia voltar a ser a pessoa que era antes, de forma alguma.

— Não, não, não. — ele continuou repetindo, assistindo a maneira com que suas lágrimas ao invés de ajudar a limpar sua mão, as sujava ainda mais.

Cell riu e pegou o rosto de Cellbit em sua mão, olhando para ele de forma quase terna, se não fosse por aquele inconfundível brilho malicioso por trás de suas intenções.

— Você não pode escapar disso, Cellbit. Você apenas tem que aprender a aceitar, e tudo vai melhorar.

Seu coração bombeava fortemente o sangue para seu corpo, no entanto, Cellbit sentia que a qualquer hora ele poderia parar.

Ele deveria aceitar a sua parte psicopata, que mesmo depois de anos, nunca desistiu de sumir de vez?

Cellbit tinha medo do que ele seria capaz uma vez de volta para Alcatraz.

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