! o pesadelo de estar de volta.

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— Roier. — Cellbit reclamou pela décima vez nos últimos dois minutos, exasperado. O homem se analisava através da câmera do celular, enquanto Roier, ao seu lado, no banco do passageiro, arrumava o forte batom vermelho em sua boca pela vigésima vez.

— Você tem certeza de que isso tá bom? — ele perguntou, meio indeciso e inseguro.

Cellbit engoliu em seco ao ver a aparência de Roier. Seus lábios tinham agora uma linda coloração avermelhada que brilhava, como se implorasse para que alguém as removesse manualmente. De uma forma bem específica. Com outros lábios sobre os dele, talvez. Seu cabelo estava bagunçado, dessa vez, sem a faixa usual que o mexicano gostava de usar, mostrando o verdadeiro tamanho de seu cabelo. Algumas mechas caiam sobre seus olhos, enquanto outras caiam em mechas onduladas e volumosas.

— Você sabe que nem precisa disso tudo. — desviou o assunto ao invés de responder apropriadamente a pergunta do outro, pois sabia que coisas do qual ele não queria que saíssem da sua boca provavelmente escapariam.

Roier riu enquanto guardava o batom em sua bolsa, arrumando o vestido vermelho apertado em seu torso.

— Eu quero ir preso de forma elegantemente deslumbrante. — sorriu. — Imagine só a gente aparecendo nos jornais! Dois gostosos cometendo atrocidades e indo para Alcatraz. — suspirou.

O mexicano falava como se estivesse prestes a sair de férias para a Disney, o que assustou Cellbit mais do que deveria. Algo lhe dizia que havia muita coisa sobre Roier que Cellbit ainda não sabia.

Vários panfletos de "procurado" sobre Cellbit e Roier foram espalhados pelo país, deixando bem claro o quão perigoso eles eram. Ironicamente, o crime de cada um era diferente e parecido ao mesmo tempo.

Cellbit, procurado por: homicídio em massa, canibalismo, tortura, sequestro, terrorismo, contrabando, fraude.

Roier, procurado por: homicídio, perseguição, tortura, terrorismo, incêndio criminoso, traição, violação de direitos humanos.

O brasileiro estaria mentindo se não dissesse que os crimes específicos de Roier não havia chamado sua atenção. De qualquer forma, isso os trazia até a situação atual.

Eles tentariam roubar um banco e seriam propositalmente pegos por um aliado da Ordem que trabalhava no FBI.

Cellbit desceu do carro, indo até a porta do passageiro, sabendo que tudo o que fizessem agora seria gravado pelas câmeras de segurança ao redor do grande e importante edifício.

Felizmente, eles estavam disfarçados o suficiente para alguém notar algo de errado imediatamente.

— Vamos? — sorriu galanteador, estendendo a mão para Roier que olhou brilhantemente, usando sua mão como apoio para sair do carro.

A missão de ambos agora era bastante simples: entrar no banco, começar uma operação de sequestro em massa e esperar que os policiais contratados fizessem o resto.

[🌾]


Tudo estava indo bem.

Até que começou a dar tudo errado.

Roier estava vigiando todas as vítimas que azaradamente estavam presentes dentro do banco na hora do assalto, enquanto Cellbit cuidava em trancar todas as entradas, e deixar apenas uma aberta. O mexicano balançava a arma entre seus dedos, tranquilo. Nem tanto, afinal, algo o estava incomodando profundamente.

Havia uma pessoa em específico, um homem que aparentava não ter mais do que vinte e cinco anos, não parava de o encarar com determinação. Ele, diferentemente dos outros, não tremia ou parecia estar no mínimo assustado.

O problema foi quando Roier deu as costas, tentando não se importar muito com aquele garoto. Naquele exato momento, foi quando tudo começou a dar errado. Ao trocar de lugar com Cellbit, o brasileiro imediatamente notou algo de estranho na multidão composta pelas vítimas. Havia um buraco, como se faltasse alguém. Cellbit arqueou a sobrancelha, se virando para perguntar Roier se aquilo estava certo, quando escutou um som.

A arma de Roier estava jogada no chão, enquanto aquele mesmo garoto de antes apontava uma faca para o mexicano. Uma faca que para qualquer pessoa, era apenas uma faca normal. Mas Cellbit sabia mais.

Era uma faca amaldiçoada.

Cellbit arregalou os olhos ao perceber algumas – não tantas – tatuagens de rituais pelo braço do garoto.

Era obviamente e dolorosamente um ocultista, dado ao que tudo indicava.

Isso definitivamente não estava em seus planos. Cellbit entrou em pânico enquanto morava sua arma na cabeça do garoto, pronto para atirar. Roier olhou para ele com os olhos arregalados, tentando balançar a cabeça em um "não" silencioso.

— Abaixa essa faca, agora. — Cellbit gritou, irritado.

— Ou o que? Você vai me matar? — o garoto riu. — Acho que consigo matar essa sua vadiazinha antes disso.

Antes que Cellbit pudesse fazer algo do qual se arrependeria, um som de explosão foi escutado mais ao fundo. Todas as pessoas presentes ali começaram a gritar, seja de medo ou desespero.

Roier e Cellbit imediatamente se entreolharam, sabendo que a hora era aquela. Roier aproveitou o momento de distração e bateu seu rosto com tudo no nariz do garoto, se desvencilhando dele. Jogou o ocultista no chão e pegou a faca que antes estava na mão dele e a colocou contra a garganta dele, esperando o momento perfeito para que os policiais o pegassem no flagra.

— Mãos ao alto e armas no chão! — os policiais gritaram, entrando com armas e escudos em mão. Imediatamente Cellbit largou a arma, deixando-a cair no chão.

Roier olhou nos olhos do ocultista desconhecido, e falou baixinho.

— Isso não acaba aqui. — rosnou, jogando a faca de lado e se levantando, com as mãos para o alto.

Três policiais foram até Cellbit e Roier, revistando ambos.

— Cellbit, você está preso por homicídio em massa, canibalismo, tortura, sequestro, terrorismo, contrabando, fraude, e roubo. Você tem o direito de permanecer calado, tudo o que disser poderá ser usado contra você num tribunal. — um dos policiais disse enquanto algemava Cellbit.

— Roier, você está preso por homicídio, perseguição, tortura, terrorismo, incêndio criminoso, traição, violação de direitos humanos e roubo. Você tem o direito de permanecer calado, tudo o que disser poderá ser usado contra você num tribunal. — outro policial avisou enquanto também algemava Roier, que revirava os olhos.

A próxima coisa que aconteceu, foi algo que nem Roier ou Cellbit esperavam.

— ElQuackity, você está preso por homicídio, terrorismo, contrabando ilegal, organização criminosa, tortura, espionagem e tentativa de assassinato. — outro policial prendeu o ocultista, que cuspiu no chão em óbvia declaração de raiva.

Imediatamente, Roier e Cellbit arregalaram os olhos enquanto eram empurrados por policiais. ElQuackity os encarou com fogo em seus olhos.

Quem diabos era ElQuackity e por que seu nome se parecia tanto com o de Quackity?

[🌾]

Muitas pessoas diziam que estar de volta a um lugar no qual você já passou muito tempo mas eventualmente acabou abandonando trazia uma sensação de nostalgia e felicidade, por matar a saudade de um lugar que você costumava gostar.

Mas Cellbit estava bem longe de sentir tudo isso.

Nostalgia? Talvez. Mas ele nunca sentiria felicidade em estar de volta a Alcatraz. Tudo que ele lutou tanto para esquecer, estava voltando com tudo para si.

Ele já conseguia sentir o cheiro de sangue em suas narinas.

Após ser revistado e passado por inúmeros testes, andava pela prisão em direção a sua cela. Os detentos estavam barulhentos como nunca antes, afinal, seu antigo chefe estava de volta.

Era um dia de festa para os prisioneiros de Alcatraz.

Cell estava de volta.

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