Regras e exceções para um novo amor

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Ochako acordou antes do despertador. Na verdade, a sensação é de que ela mal dormiu. Apesar de estar cansada, muito mais emocional do que fisicamente, o estresse de ter que fazer as provas no nome do Bakugou não a deixa descansar apropriadamente, é muita pressão! Como será que ele aguenta? Vai ver toda a gritaria e xingamentos aliviam um pouco... é, talvez seja hora de ela ser o mais Bakugou possível. Ok, então... o que ele faria se acordasse um pouco mais cedo que o normal? Hum, essa é bem fácil...

Como era de se esperar, não tem ninguém no Ground Beta. Ochako poderia ter ido correr, e com certeza seria ótimo pra se distrair dos problemas, mas o que ela quer de verdade, ou o que ela precisa, é explodir alguma coisa, no caso, aqueles blocos de concreto ali.

Porque é isso que ela devia estar fazendo no corpo do Bakugou desde o princípio: treinar, aprender o máximo sobre os movimentos dele, pontos fortes, pontos fracos (se é que existem) tentar conhecê-lo tão bem quanto ele próprio e garantir que essa troca de corpos não prejudique a carreira escolar dele, sem dúvidas, isso é muito mais produtivo que ficar parada em frente ao espelho do banheiro e brincar com os óculos dele, passar gel no cabelo pra ver como ele ficaria com as madeixas pra trás — ficou lindo, por sinal — e fazer gestos bonitinhos pra imaginar como seria se o Bakugou fizesse coisas assim. Claro que a ideia não foi das melhores e saiu pela culatra, ela estava tentando se distrair da bagunça que seus sentimentos viraram ao fazer coisas ridículas, mas acabou ainda mais encantada pelo rosto dele. Droga! O que ela pensa que tá fazendo?

Boom! Ochako gosta do Deku, é assim desde o meio do primeiro ano, ela não planejou nada disso, nunca pensou que poderia se apaixonar em meio à toda a loucura que é essa vida de morar tão longe dos pais pra estudar em uma escola cheia de talentos absurdos e se especializar em correr riscos pra salvar pessoas, além de viver sob um orçamento enxutíssimo, mas aconteceu. Boom! A admiração pelo garoto de sardas e olhos verdes não é apenas pelo herói que ele almeja se tornar, mas também pela pessoa que ele já é.

Ela lutou contra esse sentimento, sabendo que nenhum dos dois está aqui pra isso, mas foi inútil e só piorou tudo. Ochako se declarou, o Deku pediu um tempo pra pensar, visivelmente perplexo com a confissão. E tudo bem, ela não achou que fosse ouvir um "sim" de qualquer forma, e seria madura diante do "não", só que acabou recebendo um "talvez", ironicamente a única resposta para a qual não se preparou direito. Boom! Outra coisa para a qual ela não se preparou e, em sua defesa, dificilmente teria como, foi trocar de corpo com o Bakugou e se imergir na vida dele a tal ponto que ficou fascinada. Boom! Boom! Boom! Extasiada pelo que ele apresenta ao mundo e perdida em quem ele é de verdade, assustada em ter que viver a vida dele e determinada a conseguir, e, por fim, apaixonada por tudo que descobriu sobre ele e sobre si mesma. Boom! Boom! Boom!

Ela não conseguiu dormir ontem à noite, pensando na discussão que teve com o Bakugou na lavanderia. Tava tudo indo bem, ou tão bem quanto uma discussão sobre invadir o prédio de uma organização criminosa para resgatar crianças vítimas de tráfico humano e experiências científicas pode ir, até que o nome do Deku surgiu, e o Bakugou mudou de atitude na hora, de temperamento difícil, mas moderadamente controlado a uma caixa de explosivos em questão de segundos e, com toda a graça e delicadeza que ele não tem, soltou um "ficar com você não é uma coisa pra se ter dúvida!", ainda complementou com um "você merece coisa melhor, só isso." Depois ele se aproximou e ela jurou que, por um momento, o Bakugou fosse beijá-la.

E o mais problemático nisso tudo não é o jeito que ele falou do Deku, não é a forma como ela ficou tão surpresa que não conseguiu defender seu primeiro amor e qualquer motivo que ele tenha para precisar de um tempo pra pensar, não é o fato bizarro de que beijar o Bakugou, nessa situação, seria o mesmo que se beijar. O mais problemático nisso tudo é que Ochako queria que ele a beijasse.

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