Uma regra só pra mim: não se apaixonar

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O caminho de volta para os dormitórios é silencioso, muito mais porque seria difícil conversar do que pela falta de assunto. Ah não, eles têm muito o que conversar depois do que aconteceu na casa do senhor Kisaragi, o que os impede é a caudalosa chuva que começou a cair pouco depois de eles descerem na estação. Correndo desajeitadamente enquanto tentam se proteger com suas mochilas, Ochako e Bakugou conseguem entrar no prédio da U.A e buscam refúgio embaixo de uma árvore próxima aos dormitórios. Bakugou chuta a grama e murmura ofensas, que Ochako acredita serem destinadas à chuva.

— Tsk, não tinha nada disso na previsão. — ele rosna.

— Chuva de verão, né? — ela oferece com um sorriso sem-graça, ele só revira os olhos — Bakugou-kun, o que a gente vai fazer agora com a-

— Nem fodendo que a gente vai falar sobre isso aqui, Bochecha, perdeu o juízo? — ele olha para a direção do Heights Alliance — Vai na frente e sobe pro meu quarto, deixa a porta da sacada aberta que eu vou levitar e entrar.

— O QUÊ? M-mas...

— Você prefere que a gente entre junto? — ele a interrompe, e ela imediatamente se cala. É, os dois chegando juntos sabe-se lá de onde, ensopados e com cara de quem aprontou só iam gerar burburinhos mais que desnecessários nesse momento.

Antes que o Bakugou possa soltar um "Anda logo, porra!", Ochako sai correndo em direção à entrada dos dormitórios, nem gastando tempo e energia para usar a mochila como uma tentativa de escudo contra os pingos grossos e gelados.

Ela ouve os barulhos surpresos quando adentra o edifício, mas nem se importa em identificar as vozes, apenas corre em direção ao elevador. Uma vez sozinha, Ochako se apoia contra a parede espelhada, olhos vermelhos a encaram de volta enquanto ela tenta organizar os próprios pensamentos antes de poder discuti-los com o verdadeiro dono desses olhos. É isso, eles encontraram o garotinho responsável por essa bagunça, não há nada que ele possa fazer pra desfazê-la, no entanto. E por incrível que pareça, isso é o de menos, porque o Bakugou garantiu que vai atrás da quadrilha que sequestra e tortura crianças, e mesmo que ele nem tenha perguntado, a resposta é óbvia: Ochako vai com ele. Não tem como ser diferente, ele mesmo disse aquele dia na lavanderia: "a gente vai sair junto dessa do mesmo jeito que a gente entrou!", não tem como ser diferente, sequer questionável.

O que é questionável, porém, é o que ela sentiu ao vê-lo tão determinado em salvar aquelas crianças com a promessa vazia de que uma criança assustada vai treinar pra desenvolver sua individualidade e ajudá-los a destrocar. A firmeza dele sempre a impressionou, muito porque Ochako sempre acreditou que parte dela fosse fachada. Quando o Bakugou grita e ameaça por aí, ela consegue ouvir os pedacinhos do ego frágil dele se quebrando, e o Bakugou que ela viu hoje, usando o corpo dela para passar segurança pra aquela criança, não é nem de longe o Bakugou instável e egocêntrico que ela um dia conheceu.

Ela abre a porta da sacada e cede espaço para ele passar, tocando os dedos das duas mãos e se jogando pra dentro do quarto. Ochako já esperava, mas ainda assim assiste perplexa enquanto ele mexe sem cerimônia nas gavetas, jogando uma toalha pra ela enquanto pega uma pra ele.

— Vai tomar banho agora ou posso ir primeiro? — ele pergunta, olhando-a sem muito interesse.

— Damas primeiro. — ela solta, sem qualquer esperança nele achando graça, o "tsk" dele como resposta é a confirmação disso. Ochako arregala os olhos ao vê-lo mexendo na gaveta de cuecas — B-Bakugou-kun, o que você tá fazendo?

— O que você acha que eu tô fazendo? Pegando roupa seca, porra! — ele abre a porta do armário e saca uma camiseta. E claro que tinha que ser a com estampa de caveira. Ela já imaginava, e isso apenas confirma: é a camiseta favorita dele. Bakugou joga a toalha por cima do ombro e anda até o banheiro.

Eu no seu lugarOnde histórias criam vida. Descubra agora