Hoje falamos apenas sobre as exceções

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Ochako abre os olhos, piscando sem parar enquanto sua visão se ajusta. Acima dela, o teto da enfermaria. Chega a ser engraçado como ela aprendeu a reconhecê-lo, tendo vindo pra cá mais vezes nesse mês do que no ano passado inteiro. 

A grande diferença, dessa vez, é que ela não sabe porque está aqui, ela recapitula os acontecimentos do dia: acordou, veio com os pais para a U.A., onde o professor Aizawa e a família Bakugou já os esperavam, eles entraram em uma van que atravessou o campus e chegou até o instituto de pesquisas do colégio. 

O Diretor Nezu estava lá e os recebeu, apresentando alguns dos estudos que eles estão desenvolvendo atualmente, o Katsuki ficou fazendo cara feia pra tudo, querendo saber quando o papo de nerd ia acabar, a mãe dele berrou com ele, ele berrou de volta, o pai tentou apaziguar sem sucesso — até aqui nada de diferente —  eles chegaram até uma sala que parecia uma brinquedoteca, colorida e alegre, onde a Eri brincava com um boneco do All Might e um dinossauro de borracha.

Um dos cientistas responsáveis explicou como eles estavam desenvolvendo a individualidade dela sem desgastá-la, mostrando os avanços que eles vêm fazendo em trazer a permeação do Togata-senpai de volta, e como eles planejavam desfazer a troca, deixando bem claro que havia uma chance muito grande de não funcionar, e que mesmo a tentativa seria adicionada aos dados deles sobre a individualidade da Eri, tudo isso estava explicado nos termos que os pais deles receberam, a mãe dela só assinou depois de perguntar se ela tinha certeza disso, Ochako não hesitou nem por um segundo.

E então os dois foram conduzidos até uma sala com uma mesa e duas poltronas, nas quais eles foram instruídos a se sentarem. Eletrodos foram acoplados em suas cabeças, e o homem usando jaleco pediu que eles ficassem de frente um pro outro e dessem as mãos, Ochako se lembra de ter se movido vagarosamente, morrendo de vergonha, mas o Katsuki nem hesitou, agarrou as mãos dela e chegou perto, sabendo que ele devia estar sentindo a respiração dela bem pertinho. 

Alguns minutos depois, a Eri entrou.

—  Eu… não sei se vai funcionar… —  ela disse de cabeça baixa.

—  Tudo bem, a gente sabe que você tá se esforçando e agradece muito. Né, Katsuki? —  Ochako apertou a mão dele com um pouquinho mais de força.

—  É, é… se der certo, o onii-chan vai fazer um monte de estalinhos com as mãos pra comemorar. —  ele disse de um jeito tão mecânico que quase não deu pra perceber que tava tentando ser gentil. Quase, porque a Eri deu um sorriso tímido e acenou com a cabeça. Naquela hora, Ochako viu que o chifre dela parecia um pouquinho maior.

O homem deu mais algumas instruções para a Eri e saiu da sala, provavelmente observando tudo por trás de um espelho pendurado em uma das paredes, a iluminação da sala diminuiu.

—  Katsuki-kun… eu… eu não quero sair dessa do mesmo jeito que a gente entrou… eu te a…

Ela sentiu uma mãozinha tocar sua perna, e de repente tudo ficou branco.

—  Ah, ela acordou! —  ela reconhece a voz de seu pai —  Enfermeira, ela acordou!

—  Bem-vinda de volta, Ochako. —   a mãe dela sorri serenamente.

—  M-mamãe? Eu tô… meio tonta, o que…? —  quando ela leva uma das mãos para esfregar os olhos. 

Ochako nota estar usando suas tradicionais luvas de dormir, e leva alguns segundos pra ela entender o que isso significa, até porque o Katsuki também usa luvas para dormir de vez em quando, ele não disse diretamente, mas ela as viu na gaveta do criado-mudo no quarto dele, só que as luvas dele eram bem maiores. Ela arregala os olhos, de repente completamente alerta, e arranca as luvas. Em sua mão esquerda, tá escrito "guarda-roupa", e ele franze o cenho tentando entender, mas logo percebe que isso é o de menos, porque essas mãos são muitos menores e mais gordinhas, além das bolinhas cor de rosa nas pontas de seus dedos 

Eu no seu lugarOnde histórias criam vida. Descubra agora