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Lia

Ficamos mais de tempos discutindo sobre voltar pra casa, Gabriel já tinha cedido depois de uns cochicho com o Jackson só não convenceu o amigo a emprestar a moto.

-Qual o problema em ir a pé?

Pela primeira vez em horas minha voz ecoa pelo local.

Gabriel, que agora estava esparramado pelo sofá me encara com desdém.

-A questão não é eu e sim você. Você tem as pernas pequenas e daqui até nossa casa é longe- diz, a voz calma.- E eu não vou ser babá pra te carregar no colo.

Ergo a sombrancelha indignada enquanto Jackson ria do outro lado da sala. Debate que deu até tempo dele tomar banho.

-Pois jurei que eu teria de ser sua babá e segurar sua mão pra você conseguir atravessar a rua- zombo dele que me olha fixo.

Jackson continua rindo feito um bobo. Os suplementos que ele toma afetaram o cérebro de uma maneira incrível.

Gabriel se põe de pé fazendo um gesto sobre nossas alturas. Me da um salto quinze pra ver se eu não me torno mais alta que essa sosia barata do Shawn Mendes.

Ele bufa se dando por vencido. Sorri vitoriosa.

-Jackson, você pode por favor parar de rir? Ta pior que o Kevin- Gabriel diz sem tirar os olhos de mim.

-Foi mal é que o cardio de hoje mexeu com a minha cabeça- Jackson responde. Nos viramos para encara-lo surpresos.

Gabriel e eu trocamos olhares suspeitos. Todo mundo que conhece o Jackson sabe que ele literalmente pula o treino de cardio na academia. Ele deu de ombros se recompondo, Gabriel pega o celular colocando no bolso da calça.

Vou até Jackson o abraçando agora que não estar mais repleto de suor. Gabriel também abre os braços e eu só passo por ele indo até a porta, Jackson reprime uma risada. Os dois amigos se despedem e o marombado fala algo no ouvido do Gabriel que balança a cabeça.

Quando chegamos na frente do predio respiro o ar gelado de Londres. Gabriel para ao meu lado observando a movimentação da rua.

-Tem certeza de que não quer que eu segure sua não pra atravessar a rua?!- Encosto meu ombro no dele enfatizando minha provocação.

-Não quero ouvir reclamações de que suas pernas estão doendo por andar tanto- retruca.

Dou as costas e caminho até o outro lado enquanto o ouço gritar meu nome.

-Liana!- Sua voz soa baixa e um pouco rouca quando chega até mim.

Finjo não ligar enquanto caminhamos em silêncio pela calçada. Passamos em frente a uma lanchonete e meu estômago fez o favor de me lembrar que não comi nada além de um gole de suco de manhã. Gabriel ver minha hesitação e me puxa pra dentro do restabelecimento, nem protesto.

A balconista nos atende de modo simpático. Fizemos nossos pedidos pra viagem mesmo.

-Eu sou contra comer esse tipo de comida como almoço mas aposto que você também não comeu nada hoje- ele diz assim que saimos da lanchonete.

-Falou a pessoa que toma whisky tremenda uma da tarde.

Gabriel olhou de soslaio pra mim.

-Vai fazer o que nas férias?- Pergunta assim que nos sentamos em um banco próximo a residência real.

Fiquei pensativa por um tempo enquanto comia meu almoço.

-Acho que vou pra Savana Africana com o Kevin- respondo, Gabriel se segura pra não rir.- Ou melhor, vou pro retiro espiritual que o Samuel me convidou.

Gabriel não se aguenta e solta uma gargalhada atraindo alguns olhares. Põe a mão na boca abafando a risada. Ele rir até chegar ao ponto da barriga doer, se alguém me perguntasse quem era aquele doido eu ia dizer que não conheço.

-Desculpa é que é meio difícil de acreditar. O Samuel em um retiro espiritual- enxuga as lágrimas causadas pelo riso.- Capaz do local pegar fogo quando ele chegar.- Da uma última mordida no lanche.

Reviro os olhos.

-Estamos falando do Samuel não de você.- Ele para de rir no mesmo instante.- Se você colocasse o pé em uma igreja era capaz de sair queimado de lá.

Gabriel me lança um olhar de deboche e imita meu jeito de falar. Voltamos a nossa caminhada quando o sol já estava quase se pondo.

Fizemos nosso percurso em um silêncio confiável, Gabriel chutava as pedrinhas pelo caminho e uma expressão indecifrável tomava de conta do seu rosto. Provavelmente travando uma luta interna.

Vez ou outra implicavamos um com o outro dando boas risadas, quando estávamos atravessando a rua principal da cidade tive que agarrar a mão dele pra atravessar pro outro lado. Parece que a criatura nunca andou a pé na vida.

-Sabe que a gente poderia ter chamado um táxi né?!- ele comenta quando fazemos outra parada.

Minhas pernas estavam doendo.

-Andar faz bem pra saúde- retruco.

Não sei quanto tempo passei no apartamento do Jackson e nem quanto tempo estamos andando até em casa, só sei que já é quase noite.

Estamos no verão mais um vento frio sopra em meu rosto.

-Toma.

A voz do Gabriel me faz sair do transe. Olho para ele que tinha a jaqueta na mão como se tivesse me entregando.

-O que?

-Você ta com frio- fala simples-, não venha negar porque você usa um moletom em um calor de quarenta graus.

Sem muita escolha pego a peça de bom grado, passo pelos braços ajustando ao corpo. Entreguei minha bolsa pra ele, nada mais justo. Gabriel tentou não usar o objeto mas foi em vão.

Agradeço imensamente aos céus quando chegamos em casa, só não contava que tinha que atravessar aquela entrada enorme depois do portão. Ao chegarmos a porta principal deixo escapar um suspiro cansado, Gabriel fica parado olhando pra maçaneta hesitando. Antes de abrir se vira pra mim.

O azul dos seus olhos estavam escuros agora, Gabriel caminha até mim preenchendo o espaço entre nós. Ele engole em seco olhando para minha boca e em seguida para os meus olhos, ele inclina a cabeça e sua boca toca a minha. Agarro seus ombros procurando apoio, o mesmo me segura pela cintura. Nosso beijo não passou de um selinho demorado até sermos interrompidos.

Nos separamos o mais rápido possível quando ouvimos a voz do meu pai. Esqueci completamente que ele ainda estava aqui.

-Atrapalho?

Gabriel coça a nuca me olhando de canto. Palavras me faltam.

-Não. A gente acabou de chegar, aliás- digo reunindo toda força que me resta.

-Eu, é... Vou entrar. Tchau pra vocês- Gabriel avisa e entra em casa.

Meu pai melhor do que ninguém sabe quando eu escondo algo e dessa vez não é diferente. Me encarando com os olhos cerrados enquanto permaneço no silêncio. Mas não diz nada, apenas me da um beijo na testa e caminha casa adentro.

XXXXX

Um homem que carrega a bolsa da amada é elite (inclusive saudades)

Mais um capitulo para agradar a noite de vocês.

Acredito que até o fim do mês estaremos na reta final do livro🥲 eles crescem tao rápido.

Comentem e votem bastante. Xoxo💋

O Filho Do Meu PadrastoOnde histórias criam vida. Descubra agora