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Lia

Não faço ideia de quanto tempo eu to sobrevivendo a base de cafeína. Embora eu tenha cochilado um pouco.
Gabriel e Joseph foram embora e minha mãe até tentou que eu fosse com eles mas insisti em ficar.

Sorte que no período das últimas horas tive alguém com quem conversar- por mais que minha mãe estivesse aqui não conseguimos trocar uma palavra-, Elisa foi embora logo de manhã já pronta pra ir pra faculdade.

Faculdade. Sem tempo pra você.

Olho meu reflexo no espelho perto do bebedouro e quase pulo pra trás com o susto, o resto de rímel borrado- quase completamente- e a cena do que aconteceu antes de eu vim pra cá me vem à mente.

Uma tosse falsa me fez sair dos pensamentos, olho pro lado encontrado Gabriel encostado na parede com os braços cruzados apoiando o peso do corpo em uma perna.

—Você deveria ir pra casa, ta com uma cara péssima- ele diz preenchendo o silêncio.

Neguei com a cabeça.

—Não até receber alguma notícia de que meu pai está bem- as palavras vacilam ao sairem da minha boca.

Ele não diz nada e seguimos em silêncio de volta à sala de espera. Todo branco daquele lugar estava me dando nos nervos.

—Ah eu vim trazer isso, pedi pra Celeste fazer- retira um recipiente da mochila. Encaro-o com a testa franzida.– Ok, foi eu quem fiz. Fica tranquila não coloquei fogo na cozinha e nem na casa.

Arregalo os olhos. Gabriel em uma cozinha é pedir socorro. Abro o recipiente que continha brownie, meu estômago começou a roncar sentindo o cheiro.

—Sei que você gosta então resolvi me arriscar na culinária–passa a mão na nuca demonstrando um pouco do nervosismo.–Mas posso garantir que um paladar jurídico experimentou e aprovou– diz ainda parecendo nervoso.

—Quem?- Pergunto sem conter um pequeno sorriso.

Gabriel inclina a cabeça reprimindo uma risada.

—Kevin...

Não aguento e começo a rir, Gabriel acaba rindo também.

Deixei escapar um gemido de satisfação ao morder um pedaço do brawnie, tenho que admitir o fato do Gabriel ter deixado o doce magnifico. Observei ele mexer no celular e uma lembrança me veio à mente.

—Ontem foi seu aniversário?

A pergunta é como se ele tivesse levado um tapa no rosto, hesitante endireita a postura. Demora um tempo até ele responder balançando a cabeça em um gesto positivo.

—A idade chega pra todos– ele brinca.

Inclino-me para frente me apoiando nos braços.

—Meus parabéns, atrasado- Gabriel dá um sorriso quase inexistente.

Ele continuava olhando fixo pros próprios pés com os pensamentos longe.

—Por mais que eu não goste dessa data... Obrigado- sussurra a última palavra.

Continuei degustando meu café da manhã com um sorriso no rosto como se eu não tivesse visto comida há séculos. Gabriel se reencostou no sofá me encarando, lancei um olhar de deboche para ele que só bufou em frustração. Provavelmente com a esperança de eu elogiar o brownie que ele fez.

-Que brownie maravilhoso, você deveria investir na carreira gastronômica.

Gabriel debocha quando termino de comer o último pedaço. Ergo as sombrancelhas que quase tocam o topo da minha cabeça.

O Filho Do Meu PadrastoOnde histórias criam vida. Descubra agora