CAPÍTULO 3

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Sinto o braço pesado de Guilherme na minha cintura. O quarto está escuro e muito frio por conta do ar-condicionado, pego meu celular e vejo que já passa das nove da manhã.
Saio do quarto sem que ele perceba e fecho a porta devagar. Subo até a área da piscina e visto minhas roupas que ficaram no chão. Sinto meu rosto corar ao me lembrar de ontem... Guilherme foi um verdadeiro príncipe. Depois que falei a ele que sou virgem, ele não insistiu mais. Ele fez o máximo para que eu me sentisse confortável, e no fim, nós só conversamos, entramos na piscina e depois e dormimos juntos.

Olho novamente para dentro do quarto e ele ainda dorme como uma pedra. Fecho a porta devagar e saio. Assim que me sento no sofá para calçar meus sapatos, meu celular toca, é a minha mãe.

- Oi mãe? - Falei baixo.

- Você se esqueceu do café da manhã com a família do namorado da sua irmã? - Droga! Nathalia vai me matar.

- Relaxa, eu já tô chegando.

Saio do apartamento e graças a Deus tem um táxi parado na porta do prédio, entro e dou a ele o endereço do restaurante. Não é tão longe daqui.

Me olho no pequeno espelho dentro da minha bolsa e só agora percebo que estou horrível! Meu cabelo não secou direito por termos entrado na piscina tarde, sem contar a minha roupa completamente inapropriada pra um café da manhã em família.

Quando entro no restaurante, logo posso ver meus pais, minha irmã, Felipe e seus pais sentados em uma grande mesa.

- Bom dia, desculpa o atraso. - Me sentei, fingindo não ver o olhar fuzilante do meu pai.

- Bom, agora que já estão todos aqui. - Felipe falou sorrindo para Nathalia. - Nós gostaríamos de comunicar a vocês que, eu pedi a Nathi em casamento, e ela aceitou.

Todos nós sorrimos e os cumprimentamos. Felipe e minha irmã estão juntos a três anos, mas muito antes disso, ele era nosso vizinho, e meu melhor amigo... Fizemos um curso de inglês juntos e nos tornamos inseparáveis. Eu só percebi o que sentia por ele depois que minha irmã e ele já tinham começado a namorar. Felipe não sabe, muito menos Nathália, e é assim que deve continuar. Eu ainda sinto meu coração disparado quando ele se aproxima, e minhas mãos formigam a cada vez que vejo ele dizendo que a ama na minha frente. Mas hoje é muito mais suportável e fácil de esconder...

Depois do café da manhã, Felipe precisava ir trabalhar, então fomos para casa de carro junto com nossos pais. E nossa, a quanto tempo não vejo essa cena? Todos nós juntos em um carro. Nossos pais estão separados a quatro anos, e desde então só vivem em pé de guerra, mas parece que hoje um milagre divino aconteceu, porque estão até conversando.

- Mas filha, você tem certeza que quer que o casamento seja na Argentina? E seus amigos? - Meu pai perguntou.

- Os avós dele são muito idosos pai, não tem condições de trazermos ele pra cá. E além disso, quero poucas pessoas. Não vamos fazer uma festa grande.

- Tá certo. - Ele falou. - E você senhorita? Onde você dormiu?

- Na casa de um amigo.

- Que amigo?

- Pra que você quer saber? Vai investigar ele? - Nathi e eu rimos. - É só um amigo, pai.

Depois que meu pai nos deixou em casa, Nathália precisou ir na rua resolver alguma coisa. Enquanto eu fui tomar um longo banho. Vesti um pijama e fui dormir um pouco.

Desperto ao ouvir o barulho irritante da campainha tocando. Continuo deitada esperando que minha mãe vá abrir, mas parece que não tem ninguém em casa. Então sou obrigada a me levantar e abrir a porta.
Quase caio para trás quando vejo Guilherme. Usando um óculos de sol preto e um terno azul marinho, ele tira os óculos e me olha dos pés a cabeça.

- Você sempre atende a porta de pijama? - Sinto meu rosto queimar de vergonha.

- Como você sabe onde eu moro? - Ele digitou algo no celular, me ignorando.

- Eu posso entrar? - Liberei a passagem para ele e fechei a porta.

- Achei que eram os homens que tinham o papel de sumir no dia seguinte. - Ele se sentou no sofá e me olhou. - Eu te liguei, você não atendeu, achei que tivesse acontecido alguma coisa.

- Eu estava atrasada e você dormindo, e como assim você me ligou? Onde conseguiu meu número?

- Eu só precisava saber se você estava bem. - Se levantou me ignorando. - Te ligo mais tarde, e não precisa me levar até a porta. - Olhou para meu pijama.

Guilherme simplesmente virou as costas e saiu. Fiquei um pouco intrigada com a situação, mas um endereço e um telefone não é nada tão difícil de se conseguir hoje em dia, e afinal, nós temos amigos em comum.

Já estava indo deitar novamente quando Bianca me mandou uma mensagem me chamando para ir até a casa dela. Deixo uma mensagem no celular da minha mãe avisando onde estou indo, pego minha moto e vou.

Bianca está sentada na piscina com Fernanda e Débora, duas amigas da faculdade. Fernanda fez alguns drinks pra gente e ficamos conversando por horas.

- Mas fala sério Bianca, esse lance com o Lucas é pra valer? - Débora perguntou acendendo um cigarro.

- Ah, eu gosto dele. Gosto mesmo. Vamos ver no que vai dar.

- Tomara que ele não seja igual ao tio. - Fernanda falou e elas riram.

- Que tio? - Perguntei.

- O tal do Renan Albuquerque. Já ouvi umas histórias bem pesadas sobre ele. - Respondeu.

- São só boatos, ninguém sabe se é verdade. - Bianca defendeu.

- Que histórias gente?

- Parece que a mulher dele tinha acabado de fazer dezessete anos quando se casaram. Tem gente que diz até que ele obrigou ela a casar com ele. - Fernanda começou a falar. - Já ouvi histórias de que ele mandou matar homens simplesmente por darem em cima da Sophia Albuquerque. - Sinto meu rosto ficar pálido.

- Para com isso gente. Ninguém tem provas dessas besteiras! - Bianca falou.

- Só toma cuidado. Sabem o que dizem, a fruta nunca cai muito longe do pé. Os caras dessa família tratam mulheres como artigo de luxo.

Prefiro pensar no que Bianca falou e acreditar que são só boatos... E afinal, eu não tenho que me preocupar com isso. Foi apenas uma noite.

Volto pra casa e vou direto para cama. Fico boa parte da noite sem conseguir dormir, pensando em tudo que a Fernanda falou...

No dia seguinte o dia na faculdade é intenso. Estamos no final do período. Se eu não passar o meu pai vai me queimar viva! Vou ficar bem quietinha e estudando, não vai ser difícil.

Saio da faculdade as onze horas, hoje tenho uma entrevista em um escritório de advocacia e preciso causar uma boa impressão, então tive que vir de carona com a Nathália. Agora, preciso encontrar um táxi.

Quando paro na calçada da faculdade, vejo Guilherme Albuquerque por debaixo dos meus óculos escuros. Encostado em seu carro do outro lado da rua. Diferente das outras vezes que o vi de terno, agora parece que ele está no fim do expediente. Sem o paletó, e com a gravata larga no pescoço. Na verdade, parece que ele não está bem.

- Na minha casa, na porta da minha faculdade. Qualquer dia eu vou te ver no consultório do meu ginecologista. - Falo parando na frente dele.

- Ele é homem? - Ele ficou sério por alguns segundos, e depois deu um sorrisinho. - Podemos sair daqui?

- Não posso, eu tenho um compromisso agora.

- Que compromisso?

- Não interessa Guilherme! - Ele está começando a me irritar. - Eu tenho que ir. - Ele segurou o meu braço com força.

- Eu quero conversar com você, será que você pode me ouvir?

- Solta o meu braço. - O olhei sério e ele soltou. - Me deixa em paz.

Virei as costas e sai pisando firme. A alguns metros, parei um táxi e entrei. Idiota! Nem o meu pai segura meu braço dessa forma.

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